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O Globo
A
aposta parecia factível em 2003. Se o Brasil crescesse em média 3,6% ao ano,
chegaria em 2050 a ser a quinta economia do mundo, ultrapassando a Itália em
2025, a França em 2031, Inglaterra e Alemanha em 2036. Ela constava de estudo
da Goldman Sachs que lançou ao mundo a sigla Brics, países que eram vistos como
o futuro da economia mundial: Brasil, Índia, Rússia e China.
Mas a projeção não levou em conta peculiaridades brasileiras, como o maior
escândalo de corrupção já desvendado no país, quiçá no mundo, uma crise
econômica provocada por uma presidente que acabou impedida pelo Congresso de
continuar governando, a chegada ao governo de um capitão tresloucado, uma
pandemia que mata mais de 1.800 pessoas por dia. Resultado: a economia
brasileira teve um crescimento na última década de pífio 0,3% ao ano, com o
resultado de 4,1% negativos anunciado ontem pelo IBGE.
Após crescer 4,7%, em média, durante o período de 2004 a 2007 e de se expandir
em 5,2% em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em 2009, caiu 0,3%.
De 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 80 a 2003, 2%. Essa média
cresceu um pouco com o resultado dos 8 anos do governo Lula, que teve um
crescimento médio de 4% ao ano, mas voltou ao nível de 2% no governo Dilma.
O país já teve também períodos de crescimento sustentado de níveis asiáticos:
de 1950 a 1980, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; de 1970 a 1979,
de 8,78%. O problema é que já tivemos crescimento médio de 5,3% durante 50 anos,
mas ele caiu nos últimos 40 anos, crescendo menos que o PIB mundial. Entre 1981
e 1990, o PIB brasileiro cresceu a mísero 1,55% ao ano. Daí até 2000, o
crescimento médio foi de 2,65% ao ano, até 2010 chegou a 3,7%, retomando a
performance prevista pela Goldman Sachs.
De um país que era visto como o futuro da economia mundial, junto com Rússia,
Índia e China (Brics), o Brasil perdeu quase metade de sua participação no PIB
do mundo nos últimos anos. Em 1980, representava 4,3% e, nesta década, passará
a menos de 2,5%. O estudo da Goldman Sachs, coordenado pelo economista Jim
O’Neill, lançado em 2003, mas com a medição a partir de 2000, mostra que o
Brasil manteve-se no trilho da projeção até 2014, quando a crise do segundo
governo Dilma jogou o número para baixo.
O economista Robinson Moraes, coordenador de pesquisa econômica do jornal
“Valor”, fez uma projeção para o crescimento do Brasil nas duas últimas
décadas, comparando com o previsto pelo estudo americano: deveríamos ter
crescido 101,7% nos últimos 20 anos e crescemos apenas 43,6%. O Brasil, que no
começo da década era a sétima economia do mundo, passou a cair de posição a
partir de 2014, chegou a oitava economia em 2017, a nona até 2019 e hoje
encontra-se na 12ª posição entre as maiores economias, ultrapassado por Canadá,
Coreia do Sul e Rússia.
O ministro Paulo Guedes, numa espécie de recado metafórico, disse que, se o
país tomar o rumo errado, dentro em pouco seremos uma Argentina, ou talvez até
Venezuela. Isso na semana em que se debatia a intervenção do presidente
Bolsonaro na Petrobras, para controlar o reajuste de preços da gasolina (“o
cidadão tem que encher o tanque do carro”, disse o futuro presidente da
Petrobras, general Joaquim Luna e Silva) e do diesel, por causa dos
caminhoneiros.
A desmoralização que vem sofrendo com as seguidas intervenções do presidente na
área econômica — também o Banco do Brasil vai trocar seu presidente, que pediu
para sair depois que Bolsonaro estranhou o fechamento de agências — parece ter
colocado Guedes em posição de aguardo. Está tentando a última cartada,
apostando no compromisso do presidente da Câmara, Arthur Lira, de levar adiante
as reformas.
Mas, se ficar aguardando essa boa vontade dos parlamentares e o engajamento de
Bolsonaro, pode ficar sem tempo de reagir. A partir do segundo semestre, não
haverá mais espaço para discussão de reformas, ainda mais as impopulares, como
a administrativa, e as difíceis, como a tributária. Guedes também alertou que,
se quisermos ser igual à França ou à Alemanha, teremos que fazer um esforço
para o outro lado, durante bons 20 a 30 anos. Em 2050, onde estaremos?
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