O negativismo de Bolsonaro em relação ao distanciamento social, à eficácia das vacinas e ao uso adequado de máscaras aumenta as dificuldades para combater o vírus
As
notícias não são boas, porque a recessão, o desemprego e as mortes por covid-19
avançam. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro vive num mundo só dele, que
talvez não seja compartilhado nem pela maioria de seus seguidores, cujo
negacionismo em meio à crise sanitária não chega a ponto de se recusar a tomar
uma vacina. Em vez de liderar o combate à pandemia, Bolsonaro ataca
governadores e prefeitos que tentam conter sua expansão. “Criaram pânico, né? O
problema está aí, lamentamos. Mas você não pode entrar em pânico. Que nem a
política, de novo, do ‘fique em casa’. O pessoal vai morrer de fome, de
depressão?” — disse Bolsonaro, ontem, a apoiadores, em frente ao Palácio da
Alvorada, em Brasília.
Como sempre acontece quando se vê diante de dificuldades, o presidente terceiriza responsabilidades e se faz de vítima: “Para a mídia, o vírus sou eu”. Ontem, o Brasil registrou 1.910 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, um novo recorde desde o início da pandemia, e mais 71.704 novos casos, segundo informou o Ministério da Saúde. O número de óbitos pela doença chegou a 259,2 mil, e o total de casos aumentou para 10,718 milhões. O cenário é de colapso iminente do Sistema Único de Saúde (SUS) na maioria dos estados. Em Santa Catarina, por exemplo, dezenas de pessoas morreram por falta de UTI; casos graves estão sendo transferidos para o Espírito Santo.
A
transmissão da doença está sendo homogênea e mais rápida do que a vacinação; o
estoque de contaminados aumenta exponencialmente, sem leitos suficientes nas
UTIs para internação, inclusive na rede privada. Entretanto, a narrativa de
Bolsonaro é obsessivamente eleitoral, responsabiliza governadores e prefeitos
pela recessão e o desemprego, por causa das medidas de distanciamento social.
Explora o senso comum das pessoas que querem manter seus empregos ou atividades
produtivas como se não houvesse amanhã.
A
causa da recessão e do desemprego em todo o mundo é a pandemia da covid-19, que
somente pode ser combatida de forma eficaz e definitiva com a vacinação em
massa da população. O negativismo de Bolsonaro em relação ao distanciamento
social, à eficácia das vacinas e ao uso adequado de máscaras aumenta as
dificuldades para combater o vírus, a recessão e o desemprego, porque tira do
eixo de coordenação da política de saúde pública o Ministério da Saúde e
estimula a população a reproduzir atitudes temerárias em relação ao vírus, como
aglomerações, abraços e apertos de mão, sem o uso correto de máscaras.
Bolsonaro
subestima o que está acontecendo. É uma fuga da realidade. Com base nas
projeções do FMI para 2021, a Austin estima que o Brasil pode cair para a 14ª
posição no ranking das maiores economias do mundo, sendo superado também por
Austrália e Espanha, considerando um cenário otimista de alta de 3,3% do PIB
brasileiro deste ano e uma taxa de câmbio média de R$ 5,24 por dólar.
A contrapartida para evitar um desastre maior na economia é a aprovação do auxílio emergencial, sobre cuja necessidade há um amplo consenso, mas existem muitas divergências quanto às condições em que isso pode ser feito. Ontem, em nota técnica, o Ministério da Economia alertou o Congresso Nacional de que a prorrogação do auxílio emergencial sem respeitar os limites fiscais “tem o potencial de deteriorar a trajetória inflacionária, reduzir a atividade econômica e aumentar o desemprego”. Entretanto, isso ‘e estimulado por Bolsonaro, cujas decisões intempestivas e intervencionistas na economia estão “fritando” o ministro Paulo Guedes, o que também agrava a crise.
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