quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Recuperação da indústria ainda está bem distante – Editorial / Valor Econômico

O início do ano foi muito ruim para a indústria, de qualquer ângulo que se olhe. A produção caiu 0,3% em junho em comparação com maio e 3,2% em relação a junho de 2014, a 16ª taxa negativa consecutiva. Foi o pior primeiro semestre em seis anos, com queda de 6,3% em relação a igual período do ano passado. No acumulado em 12 meses, a indústria recuou 5%, depois de ter caído 3,2% em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As horas trabalhadas na produção, indicador monitorado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), diminuíram 8,6% no primeiro semestre frente ao mesmo período de 2014; o faturamento caiu 7%; e o emprego teve redução de 4,6%.

Dos 26 setores analisados pelo IBGE, 24 produziram menos no primeiro semestre do que no mesmo período de 2014. A produção de bens de consumo duráveis foi a que mais diminuiu, 10,7% de maio para junho, 14,6% no primeiro semestre e 12,3% em 12 meses. Automóveis e eletroeletrônicos puxaram o recuo. Os fabricantes de veículos reunidos na Anfavea já anteciparam que a tendência continuou em julho, completando 17 meses de retração na comparação anual. A produção de veículos soma 1,49 milhão até julho, o menor patamar em nove anos. Os estoques estão em 45 dias, distantes do nível ideal que oscila de 30 a 35 dias, o que sinaliza que a pressão sobre a produção vai continuar neste mês.

Chama a atenção também o forte recuo da produção de bens de capital, de 3,3% em junho sobre maio, chegando à queda de 17,2% na comparação com igual mês de 2014 e de 20% do primeiro semestre deste ano para o primeiro do ano passado, um importante indicativo da redução dos investimentos.

Apenas alguns setores básicos apresentam modestos acréscimos de produção, como produtos alimentícios, bebidas, perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza, que contribuíram para o aumento de 1,7% do segmento de bens de consumo semiduráveis e não duráveis na comparação com maio, mas insuficiente para evitar a queda de 6,7% no primeiro semestre. Outro destaque é a indústria extrativa que, apesar de ter registrado recuo em junho na comparação com maio, avançou 8,1% em relação ao mesmo mês de 2014 e 9,4% entre os dois primeiros semestres, evitando recuo maior da indústria como um todo.

A desvalorização do câmbio começa a ajudar a indústria, apurou o Valor (5/8) e evitou a queda mais expressiva da produção no segundo trimestre. A recuperação é bastante tímida, no entanto, e localizada em commodities industriais e outros bens de menor valor agregado, tornando esses produtos mais competitivos no mercado externo e também no interno, abrindo espaço para a substituição de importações. Houve aumento de 4,5% das exportações de manufaturados entre abril e junho, segmento que havia registrado queda de 3,9% nas vendas externas no trimestre anterior. Os empresários registraram a substituição pontual das importações, com o desestímulo causado pela depreciação cambial, que encarece os produtos vindos do exterior.

Mas o principal problema da indústria é a produtividade, escreveu Armando Castelar, professor e coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV no Valor(7/8). Para ele, políticas que limitam a competição e protegem a ineficiência não vão mudar esse quadro, que demanda significativa melhoria da produtividade. Avaliação semelhante tem o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), para o qual fatores estruturais relacionados ao custo Brasil afetam a competitividade da indústria brasileira.

O comportamento da produção industrial reflete também o recuo das vendas causado pelo baixo nível de confiança do consumidor, preocupado com o mercado de trabalho, a redução da renda e a elevação dos preços, que leva os estoques a patamares elevados. É resultado também da menor confiança dos empresários, que caiu a nível próximo ao mínimo histórico e inibe os investimentos.

O desempenho apresentado até agora pela indústria, que representa 23,4% do Produto Interno Bruto (PIB), e a forte indicação negativa para os investimentos, sinalizada pela queda da produção dos bens de capital, reforçam as previsões pessimistas para a economia neste ano.

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