Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Com a alma de católico praticante reconfortada pela bênção do papa Bento XVI, que o recebeu em audiência especial na biblioteca particular do pontífice, no Vaticano, para uma conversa com a solenidade da agenda previamente aprovada e que incluiu tema de evidente interesse, como a paz mundial, direitos humanos, meio ambiente e igualdade de direitos, e depois de aplaudido pelo seu desempenho como líder do grupo de países emergentes, na reunião do G-20, em Washington, o presidente Lula está de volta a Brasília para reassumir seu lugar no Palácio do Planalto e enfrentar o desafio de uma ameaça de crise interna que pipoca por todos os lados.
Não há prioridades num quadro de emergência. Mas, pela sua delicadeza, o desconforto evidente da ministra Dilma Rousseff reclama cuidados imediatos. Se o presidente não obedece à hierarquia e, na ausência, prefere deixar em sossego o vice-presidente José Alencar, desta vez o peso foi demais para a ministra-candidata. A partir da evidência que entra pelos bugalhos e que passará pela prova de fogo nas próximas pesquisas, que se repetirão todas as semanas até as urnas, em 2010, a candidata lançada pelo presidente e que ensaia a campanha nas viagens domésticas para conferir as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC que pouco se vê longe dos canteiros do Norte e Nordeste, ainda não emplacou.
O clima de desconfiança é corrosivo no clima de futricas de ambições que quebram o gelo do constrangimento e se oferecem ao sacrifício de servir ao país. Nada mais sintomático do que a última reunião do Diretório Nacional do PT, em Brasília, com o cínico pretexto de discutir a conveniência da antecipação do lançamento da candidatura de Dilma Rousseff. Ora, a candidatura da chefe da Casa Civil já foi lançada há tempos por quem pode e manda, que é o presidente Lula. Confirmada em vários pronunciamentos públicos. E levada na comitiva presidencial nas viagens pelo país como candidata e a responsável pelas obras do PAC.
Basta enxugar os pingos do chuvisco petista para que se exponha a ansiedade represada dos pretendentes ao lugar da ministra. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), quebrou a vidraça com a advertência de estudada ambigüidade: "O nome mais óbvio é o da ministra Dilma, que é o nome do presidente Lula". Além de outras qualidades que desfilaram arrastando os pés: tem postura, bom relacionamento com o PT e disponibilidade para o debate. Limpou a garganta, pigarreou para estimular a ousadia: "Ninguém é contra a candidatura da ministra, mas não podemos democraticamente excluir outra candidatura".
Estamos, pois, oficialmente informados de que o PT ainda não tem candidato nem candidata à sucessão de Lula. Ocorre que o presidente não terá vagares para desperdiçar o seu tempo com o ensaio de rebeldia, que não vai além de uma pirraça de menino birrento.
Pois encontrará o país atolado até o gogó na bagunça da mistura da crise da economia mundial, cada vez mais preocupante e com a baderna que envolve os três poderes. O Senado, com a maioria em cacos pela disputa da presidência, aprovou projeto criando um índice de reajuste para aposentadorias e pensões que, se passar na Câmara, escancarará um rombo de R$ 9 bilhões nos cofres da Previdência.
O clima tenso nas relações entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) subiu um tom com a decisão da mais alta corte do Judiciário, que aprovou por unanimidade a norma que assegura aos partidos o direito de pedir a cassação dos mandatos dos políticos infiéis. São flagrantes de uma degringolada que ameaça explodir numa crise do regime. E as contas dos erros chegam em fila: o gigantismo doentio do maior ministério de todos os tempos estoura as verbas orçamentárias; se as obras do PAC não podem parar, sem dúvida o seu ritmo será reduzido; os mais de 100 mil cargos públicos, muitos de livre nomeação, para o rateio político que garanta o apoio da maioria no Congresso, bate de frente com as dificuldades do Tesouro.
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Com a alma de católico praticante reconfortada pela bênção do papa Bento XVI, que o recebeu em audiência especial na biblioteca particular do pontífice, no Vaticano, para uma conversa com a solenidade da agenda previamente aprovada e que incluiu tema de evidente interesse, como a paz mundial, direitos humanos, meio ambiente e igualdade de direitos, e depois de aplaudido pelo seu desempenho como líder do grupo de países emergentes, na reunião do G-20, em Washington, o presidente Lula está de volta a Brasília para reassumir seu lugar no Palácio do Planalto e enfrentar o desafio de uma ameaça de crise interna que pipoca por todos os lados.
Não há prioridades num quadro de emergência. Mas, pela sua delicadeza, o desconforto evidente da ministra Dilma Rousseff reclama cuidados imediatos. Se o presidente não obedece à hierarquia e, na ausência, prefere deixar em sossego o vice-presidente José Alencar, desta vez o peso foi demais para a ministra-candidata. A partir da evidência que entra pelos bugalhos e que passará pela prova de fogo nas próximas pesquisas, que se repetirão todas as semanas até as urnas, em 2010, a candidata lançada pelo presidente e que ensaia a campanha nas viagens domésticas para conferir as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC que pouco se vê longe dos canteiros do Norte e Nordeste, ainda não emplacou.
O clima de desconfiança é corrosivo no clima de futricas de ambições que quebram o gelo do constrangimento e se oferecem ao sacrifício de servir ao país. Nada mais sintomático do que a última reunião do Diretório Nacional do PT, em Brasília, com o cínico pretexto de discutir a conveniência da antecipação do lançamento da candidatura de Dilma Rousseff. Ora, a candidatura da chefe da Casa Civil já foi lançada há tempos por quem pode e manda, que é o presidente Lula. Confirmada em vários pronunciamentos públicos. E levada na comitiva presidencial nas viagens pelo país como candidata e a responsável pelas obras do PAC.
Basta enxugar os pingos do chuvisco petista para que se exponha a ansiedade represada dos pretendentes ao lugar da ministra. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), quebrou a vidraça com a advertência de estudada ambigüidade: "O nome mais óbvio é o da ministra Dilma, que é o nome do presidente Lula". Além de outras qualidades que desfilaram arrastando os pés: tem postura, bom relacionamento com o PT e disponibilidade para o debate. Limpou a garganta, pigarreou para estimular a ousadia: "Ninguém é contra a candidatura da ministra, mas não podemos democraticamente excluir outra candidatura".
Estamos, pois, oficialmente informados de que o PT ainda não tem candidato nem candidata à sucessão de Lula. Ocorre que o presidente não terá vagares para desperdiçar o seu tempo com o ensaio de rebeldia, que não vai além de uma pirraça de menino birrento.
Pois encontrará o país atolado até o gogó na bagunça da mistura da crise da economia mundial, cada vez mais preocupante e com a baderna que envolve os três poderes. O Senado, com a maioria em cacos pela disputa da presidência, aprovou projeto criando um índice de reajuste para aposentadorias e pensões que, se passar na Câmara, escancarará um rombo de R$ 9 bilhões nos cofres da Previdência.
O clima tenso nas relações entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) subiu um tom com a decisão da mais alta corte do Judiciário, que aprovou por unanimidade a norma que assegura aos partidos o direito de pedir a cassação dos mandatos dos políticos infiéis. São flagrantes de uma degringolada que ameaça explodir numa crise do regime. E as contas dos erros chegam em fila: o gigantismo doentio do maior ministério de todos os tempos estoura as verbas orçamentárias; se as obras do PAC não podem parar, sem dúvida o seu ritmo será reduzido; os mais de 100 mil cargos públicos, muitos de livre nomeação, para o rateio político que garanta o apoio da maioria no Congresso, bate de frente com as dificuldades do Tesouro.
E a desordem urbana nas capitais e grandes cidades ocupa as favelas que dominam os morros e áreas sem lei, enfrentam a polícia e mantêm abertos os pontos do tráfico de drogas. Não há como fechar os olhos. A série de erros do governo expôs a agravante da acefalia com as ausências do presidente que mais viajou na nossa História republicana.
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