sábado, 15 de novembro de 2008

A "política subprime"


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Cínicos, alguns deputados têm razão parcial ao argumentar que a fidelidade partidária não pode ser absoluta. Ninguém está obrigado a sustentar as mesmas idéias a vida inteira. A coerência não é um valor intrinsecamente positivo. Menos pessoas teriam morrido na Segunda Guerra se Hitler tivesse mudado de opinião.

Mas o ponto não é esse. Os deputados e os vereadores no Brasil não são eleitos individualmente nem mudam de partido para salvar vidas. A "política subprime" de pular de galho em galho obedece apenas aos interesses pessoais de cada um. Ganha um passeio guiado pelo Congresso quem apontar um deputado cuja troca de legenda se deu por clamor de suas bases.

Uma discussão possível seria sobre a qualidade do sistema partidário-eleitoral. Por que não se pode no Brasil eleger um deputado individualmente? Por que as legendas se transformaram em sesmarias de alguns poucos caciques com poder de indicar quem serão os candidatos a cada pleito? Esse debate não interessa aos deputados.

A mania no Congresso agora é aprovar uma jabuticaba -nativa do solo brasileiro- chamada "janela de infidelidade". Uma vez a cada quatro anos, por um mês, valerá tudo. Para o eleitor, será um "contrato futuro de derivativo ideológico": vota-se no deputado sem saber onde o político estará em três anos. Essa bisonha "janela" é proposta de um deputado comunista cujo partido até recentemente admirava a Albânia. Se aprovada, adicionará uma modalidade extra de lei no país. Hoje, há as leis que pegam e as que não pegam. Passaremos a ter também as que podem ser transgredidas por apenas 30 dias.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, tem como barrar a "janela". Seu legado ficará marcado pela decisão. Poderá patrocinar o interesse dos eleitores ou incentivar a "política subprime".

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