Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Chamam a atenção a segurança de nossos bancos e a qualidade da regulação do sistema financeiro brasileiro
DUAS AVALIAÇÕES recentes mostram um quadro econômico mundial ainda em deterioração. O FMI (Fundo Monetário Internacional) reviu as projeções de crescimento para 2009 feitas em novembro passado, reduzindo-as de 2,2% para apenas 0,5%. Além disso, deixou claro que, se não houver uma mudança radical na funcionalidade do sistema financeiro ao longo dos próximos meses, a fronteira do crescimento negativo será ultrapassada.
Da mesma forma, o Federal Reserve (o banco central norte-americano) expressou sua preocupação com uma nova rodada de enfraquecimento da economia americana nos próximos meses. Mais uma vez a possível ultrapassagem de outra fronteira perigosa -a da deflação generalizada- foi mencionada com muita preocupação.
Essas mensagens mostram que o encolhimento do estoque de crédito no mundo desenvolvido ainda está em seus estágios iniciais e atinge agora segmentos até recentemente defendidos. A imagem da metástase volta novamente com toda força. O melhor exemplo é a extrema dificuldade que importadores e exportadores encontram para obter cartas de crédito, instrumento que garante a liquidação de suas operações. Muito da queda do comércio internacional nos últimos meses está associada a esse fato.
Como não podia deixar de acontecer, a economia brasileira vem sofrendo os efeitos da crise mundial. Até a quebra do Lehman Brothers, em setembro passado, ela funcionava a todo o vapor. Mas a falência desse banco provocou uma mudança de qualidade -ou de estado, para usar uma linguagem da física- na crise mundial e fomos engolfados pelo Maelström que se formou então. Hoje, passado o pânico que envolveu todos, nota-se a volta de algum bom senso nas análises das condições econômicas atuais. Há uma tentativa de separar o joio do trigo, ou melhor, de hierarquizar as várias economias de mercado em função de suas características. E, para nós, brasileiros, esse exercício trás um bom sentimento, resgatando certos marcos de nossa economia que foram pesadamente criticados no passado e que hoje são amarras que nos permitem sair desse incrível turbilhão em melhores condições do que outros países.
O que mais chama a atenção no exterior são a segurança de nossos bancos e a qualidade da regulação do sistema financeiro brasileiro como um todo. Nesse sentido, o Proer foi elemento-chave, mas é importante citar também o fato de que nunca caímos no conto da chamada autorregulação radical do sistema financeiro. Outros elementos, de natureza mais circunstancial, como os elevados depósitos compulsórios do sistema bancário, também nos ajudam a passar com mais tranquilidade pelas turbulências atuais. Outra marca importante, a existência de instituições públicas de porte como o Banco do Brasil e o BNDES, permite-nos enfrentar o clima de pânico do sistema bancário privado e evitar uma descontinuidade no mercado de crédito da dimensão que estão sofrendo os EUA, o Reino Unido e outros países. É papel do BNDES atuar de forma anticíclica, preservando ao menos em parte o investimento privado e o consumo, e os benefícios de sua existência ficam claros em momentos como o atual. E pensar que queriam fechar essa instituição...
Por isso, se o governo mantiver um mínimo de serenidade e racionalidade, aceitando em 2009 um crescimento bem menor, chegaremos ao fim desta crise com uma economia mais sólida do que as da maioria dos países emergentes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Chamam a atenção a segurança de nossos bancos e a qualidade da regulação do sistema financeiro brasileiro
DUAS AVALIAÇÕES recentes mostram um quadro econômico mundial ainda em deterioração. O FMI (Fundo Monetário Internacional) reviu as projeções de crescimento para 2009 feitas em novembro passado, reduzindo-as de 2,2% para apenas 0,5%. Além disso, deixou claro que, se não houver uma mudança radical na funcionalidade do sistema financeiro ao longo dos próximos meses, a fronteira do crescimento negativo será ultrapassada.
Da mesma forma, o Federal Reserve (o banco central norte-americano) expressou sua preocupação com uma nova rodada de enfraquecimento da economia americana nos próximos meses. Mais uma vez a possível ultrapassagem de outra fronteira perigosa -a da deflação generalizada- foi mencionada com muita preocupação.
Essas mensagens mostram que o encolhimento do estoque de crédito no mundo desenvolvido ainda está em seus estágios iniciais e atinge agora segmentos até recentemente defendidos. A imagem da metástase volta novamente com toda força. O melhor exemplo é a extrema dificuldade que importadores e exportadores encontram para obter cartas de crédito, instrumento que garante a liquidação de suas operações. Muito da queda do comércio internacional nos últimos meses está associada a esse fato.
Como não podia deixar de acontecer, a economia brasileira vem sofrendo os efeitos da crise mundial. Até a quebra do Lehman Brothers, em setembro passado, ela funcionava a todo o vapor. Mas a falência desse banco provocou uma mudança de qualidade -ou de estado, para usar uma linguagem da física- na crise mundial e fomos engolfados pelo Maelström que se formou então. Hoje, passado o pânico que envolveu todos, nota-se a volta de algum bom senso nas análises das condições econômicas atuais. Há uma tentativa de separar o joio do trigo, ou melhor, de hierarquizar as várias economias de mercado em função de suas características. E, para nós, brasileiros, esse exercício trás um bom sentimento, resgatando certos marcos de nossa economia que foram pesadamente criticados no passado e que hoje são amarras que nos permitem sair desse incrível turbilhão em melhores condições do que outros países.
O que mais chama a atenção no exterior são a segurança de nossos bancos e a qualidade da regulação do sistema financeiro brasileiro como um todo. Nesse sentido, o Proer foi elemento-chave, mas é importante citar também o fato de que nunca caímos no conto da chamada autorregulação radical do sistema financeiro. Outros elementos, de natureza mais circunstancial, como os elevados depósitos compulsórios do sistema bancário, também nos ajudam a passar com mais tranquilidade pelas turbulências atuais. Outra marca importante, a existência de instituições públicas de porte como o Banco do Brasil e o BNDES, permite-nos enfrentar o clima de pânico do sistema bancário privado e evitar uma descontinuidade no mercado de crédito da dimensão que estão sofrendo os EUA, o Reino Unido e outros países. É papel do BNDES atuar de forma anticíclica, preservando ao menos em parte o investimento privado e o consumo, e os benefícios de sua existência ficam claros em momentos como o atual. E pensar que queriam fechar essa instituição...
Por isso, se o governo mantiver um mínimo de serenidade e racionalidade, aceitando em 2009 um crescimento bem menor, chegaremos ao fim desta crise com uma economia mais sólida do que as da maioria dos países emergentes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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