Rubens Figueiredo, cientista político
Marcelo Rehder
Para o cientista político Rubens Figueiredo, hoje o Brasil é um raro exemplo de democracia capitalista com o sindicalismo a favor do Estado. "O nome disso é cooptação", diz Figueiredo.
Qual tem sido o papel do sindicalismo na era Lula?
Durante o processo de redemocratização, os sindicatos representaram uma força importante de resistência da sociedade e estavam profundamente afastados do Estado. Com a ascensão do PT e do Lula ao poder, e com a estabilização da economia também, houve um processo progressivo de cooptação, principalmente das centrais sindicais pelo Estado brasileiro, que passou a destinar polpudas quantias de dinheiro às centrais.
Qual é o lado mais visível desse processo?
Mesmo centrais que antes dificilmente se alinhavam, como a CUT e a Força Sindical, que lá atrás era chamada de pelego, hoje elas se alinham na defesa do governo. E do ponto de vista de ocupação do Estado, há uma quantidade imensa de ex-sindicalistas e até de sindicalistas em atividade que fazem parte dos órgãos de direção do Estado brasileiro.
É a república de sindicalistas?
Sim. Os quadros que o PT foi buscar para administrar o Brasil vieram dos sindicatos. E esses sindicalistas ocupam hoje postos chave por exemplo nos fundos de pensão, que são as instituições econômicas com maior liquidez no Brasil. Eles movimentam volume expressivos de dinheiro. Então, houve a ascensão do sindicalismo aos núcleos de decisão do Estado.
A contrapartida é a servidão dos sindicatos?
O nome disso é cooptação. O sindicalismo que era contra o empresário e contra o Estado passou a ser um sindicalismo cooptado e domesticado pelo governo. Tanto que temos assistido a manifestações de centrais a favor do governo.
É novidade no mundo sindical?
Jabuticaba e sindicalismo a favor são tipicamente brasileiros. Numa democracia, é difícil de encontrar sindicalismo a favor do Estado. Teve na Polônia, onde os sindicalistas também tomaram o poder, mas lá tinha o apoio das forças conservadoras europeias e o Solidariedade não tinha a inserção social, a capilaridade que tem o PT. Mas existe aqui pelo menos a aparência de que nós vivemos no capitalismo. O Brasil é um país capitalista com o sindicalismo a favor.
Os sindicatos vão apoiar a candidata de Lula?
As centrais têm de se apresentar para a sociedade de uma forma equidistante, vamos dizer assim, dos candidatos. Não podem manifestar apoio a um candidato, porque isso é proibido por lei. Mas do ponto de vista objetivo, não há nenhuma dúvida que as centrais estão alinhadas no projeto do presidente Lula. O nível de neutralidade é zero.
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