DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
A mãe de todas as prioridades do próximo governo terá de ser o poder de competição, se o sucessor ou a sucessora do presidente Lula quiser garantir um crescimento econômico seguro e sem sustos. A deterioração das contas externas continuou em maio, com mais um déficit nas transações correntes ? desta vez de US$ 2,02 bilhões. O buraco já chegou a US$ 18,75 bilhões no ano, quase o triplo do verificado nos primeiros cinco meses de 2009, US$ 6,60 bilhões. Até dezembro deverá totalizar US$ 49 bilhões, ou 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB), se estiver certa a projeção do Banco Central (BC).
Há más notícias tanto para quem olha mais o lado financeiro quanto para quem se preocupa com o chamado lado real da economia ? detalhes como a cadeia de produção, o investimento e o emprego.
Segundo a turma da visão financeira, o Brasil poderá manter e provavelmente manterá contas correntes deficitárias por alguns anos e conseguirá sem muita dificuldade financiar a diferença. Com isso, captará poupança externa e poderá acelerar seu crescimento econômico. Mas é preciso acrescentar pelo menos um senão a esse raciocínio. A qualidade do financiamento tem caído. Neste ano, o investimento direto estrangeiro tem sido e será até dezembro insuficiente para cobrir o déficit em transações correntes. O BC reduziu de US$ 45 bilhões para US$ 38 bilhões a projeção de ingresso líquido desse recurso.
Mas o financiamento é só a menor parte do problema. Para começar, o déficit em conta corrente está longe de ser saudável. Seria, provavelmente, se resultasse de um enorme esforço nacional de investimento. Não é o caso. Há vários anos o Brasil tem conseguido investir, nos melhores momentos, cerca de 18% do PIB. É uma taxa insuficiente, segundo a maioria dos analistas, para manter um crescimento acima de 5% ao ano.
O excesso de demanda resulta não de um surto incontrolável de formação de capital, mas de uma rápida expansão do consumo, alimentada, em boa parte, pelo gasto corrente do setor público. Outro fator de grande peso tem sido o aumento do crédito aos consumidores, confirmado em cada relatório de política monetária. Nos anos 90, o Brasil já caiu na armadilha de aceitar o crescente buraco na conta corrente como se isso contribuísse para apressar o crescimento. Não poderia contribuir, exceto por um prazo muito curto, porque o financiamento externo sustentava muito mais o consumo que o investimento.
O perigo mais importante está na conta de mercadorias. Neste ano, até a terceira semana de junho, o País acumulou um superávit comercial de US$ 7,39 bilhões, 40,3% menor que o de um ano antes. Nesse período, o valor exportado foi 27,98% maior que o de igual período de 2009, mas o gasto com a importação ficou 44% acima do contabilizado no ano anterior. Esse descompasso se explica em parte pela diferença entre o crescimento econômico brasileiro e o da maior parte dos demais países. É também atribuível em parte ao câmbio, porque o real valorizado encarece o produto nacional e barateia o estrangeiro.
Mas o problema tem sido compensado, em boa medida, pelo aumento do preço internacional das matérias-primas. O crescimento das economias emergentes, especialmente da China, tem ajudado a sustentar os preços dos produtos básicos. Sem isso, as exportações teriam rendido menos. Mas a indústria chinesa continua deslocando a brasileira na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Os dois últimos têm sido tradicionalmente os principais destinos dos manufaturados brasileiros e também nesse campo o Brasil está perdendo.
O câmbio resulta de um conjunto de desajustes. Juros altos são parte desse complexo e o principal componente é a demanda excessiva do governo. Mas poder de competição não depende só do câmbio. Essa dependência, no Brasil, é uma velha distorção. Outros fatores de competitividade, como os integrantes do famigerado custo Brasil, permanecem quase intocados. Política de competitividade, nos últimos sete anos e meio, foi só uma figura de linguagem.
A campanha eleitoral só terá alguma seriedade quando os candidatos começarem a discutir esse conjunto de problemas ? sem prometer mágicas cambiais ou de qualquer outro tipo. Sem o tema da competitividade no topo da agenda, ninguém poderá falar com um mínimo de credibilidade sobre crescimento econômico, modernização produtiva e criação de empregos. Todos os tópicos importantes de um programa de governo, incluídos os chamados itens sociais, como educação e saúde, são itens dessa pauta, porque só articulados dessa forma se tornam sustentáveis.
É Jornalista
A mãe de todas as prioridades do próximo governo terá de ser o poder de competição, se o sucessor ou a sucessora do presidente Lula quiser garantir um crescimento econômico seguro e sem sustos. A deterioração das contas externas continuou em maio, com mais um déficit nas transações correntes ? desta vez de US$ 2,02 bilhões. O buraco já chegou a US$ 18,75 bilhões no ano, quase o triplo do verificado nos primeiros cinco meses de 2009, US$ 6,60 bilhões. Até dezembro deverá totalizar US$ 49 bilhões, ou 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB), se estiver certa a projeção do Banco Central (BC).
Há más notícias tanto para quem olha mais o lado financeiro quanto para quem se preocupa com o chamado lado real da economia ? detalhes como a cadeia de produção, o investimento e o emprego.
Segundo a turma da visão financeira, o Brasil poderá manter e provavelmente manterá contas correntes deficitárias por alguns anos e conseguirá sem muita dificuldade financiar a diferença. Com isso, captará poupança externa e poderá acelerar seu crescimento econômico. Mas é preciso acrescentar pelo menos um senão a esse raciocínio. A qualidade do financiamento tem caído. Neste ano, o investimento direto estrangeiro tem sido e será até dezembro insuficiente para cobrir o déficit em transações correntes. O BC reduziu de US$ 45 bilhões para US$ 38 bilhões a projeção de ingresso líquido desse recurso.
Mas o financiamento é só a menor parte do problema. Para começar, o déficit em conta corrente está longe de ser saudável. Seria, provavelmente, se resultasse de um enorme esforço nacional de investimento. Não é o caso. Há vários anos o Brasil tem conseguido investir, nos melhores momentos, cerca de 18% do PIB. É uma taxa insuficiente, segundo a maioria dos analistas, para manter um crescimento acima de 5% ao ano.
O excesso de demanda resulta não de um surto incontrolável de formação de capital, mas de uma rápida expansão do consumo, alimentada, em boa parte, pelo gasto corrente do setor público. Outro fator de grande peso tem sido o aumento do crédito aos consumidores, confirmado em cada relatório de política monetária. Nos anos 90, o Brasil já caiu na armadilha de aceitar o crescente buraco na conta corrente como se isso contribuísse para apressar o crescimento. Não poderia contribuir, exceto por um prazo muito curto, porque o financiamento externo sustentava muito mais o consumo que o investimento.
O perigo mais importante está na conta de mercadorias. Neste ano, até a terceira semana de junho, o País acumulou um superávit comercial de US$ 7,39 bilhões, 40,3% menor que o de um ano antes. Nesse período, o valor exportado foi 27,98% maior que o de igual período de 2009, mas o gasto com a importação ficou 44% acima do contabilizado no ano anterior. Esse descompasso se explica em parte pela diferença entre o crescimento econômico brasileiro e o da maior parte dos demais países. É também atribuível em parte ao câmbio, porque o real valorizado encarece o produto nacional e barateia o estrangeiro.
Mas o problema tem sido compensado, em boa medida, pelo aumento do preço internacional das matérias-primas. O crescimento das economias emergentes, especialmente da China, tem ajudado a sustentar os preços dos produtos básicos. Sem isso, as exportações teriam rendido menos. Mas a indústria chinesa continua deslocando a brasileira na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Os dois últimos têm sido tradicionalmente os principais destinos dos manufaturados brasileiros e também nesse campo o Brasil está perdendo.
O câmbio resulta de um conjunto de desajustes. Juros altos são parte desse complexo e o principal componente é a demanda excessiva do governo. Mas poder de competição não depende só do câmbio. Essa dependência, no Brasil, é uma velha distorção. Outros fatores de competitividade, como os integrantes do famigerado custo Brasil, permanecem quase intocados. Política de competitividade, nos últimos sete anos e meio, foi só uma figura de linguagem.
A campanha eleitoral só terá alguma seriedade quando os candidatos começarem a discutir esse conjunto de problemas ? sem prometer mágicas cambiais ou de qualquer outro tipo. Sem o tema da competitividade no topo da agenda, ninguém poderá falar com um mínimo de credibilidade sobre crescimento econômico, modernização produtiva e criação de empregos. Todos os tópicos importantes de um programa de governo, incluídos os chamados itens sociais, como educação e saúde, são itens dessa pauta, porque só articulados dessa forma se tornam sustentáveis.
É Jornalista
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