DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Estado paga juros altos a quem não trabalha, arrecada muito de quem rala e investe pouco
Durante sua sabatina na “Folha de S.Paulo”, José Serra voltou a enunciar sua crítica à política econômica do governo Lula (inclusive naquilo que ela tem de continuação do mandarinato tucano, no qual foi ministro): “O Brasil tem três ou quatro recordes de que eu me envergonho.
As altas taxas de juros e impostos, a ‘lanterninha’ nos investimentos governamentais e a maior hiper valorização da moeda no mundo. Tem um certo arranjo aí que não funciona, e que eu me proponho a consertar.” Enunciado desse jeito, move poucos votos, mas significa o seguinte: com a taxa de juros a 10,25% ao ano, o Brasil continua a ser o país do mundo onde mais se ganha dinheiro sem precisar trabalhar, emprestandoo ao governo. Esse mesmo país tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo ( 35% do PIB, pouco abaixo do patamar de 36,45% deixado pelo tucanato em 2003).
Em português de campanha: o Brasil é um dos países onde mais se trabalha para sustentar o governo que, por sua vez, melhor remunera seus gordos credores. De uma lista de 135 países, o Estado brasileiro, que tanto arrecada, disputa com o Turcomenistão a menor taxa de investimento do mundo. Finalmente, o real sobrevalorizado barateia as compras em Miami, mas dificulta as exportações. Serra repetiu que o Brasil exporta celulose e importa papel. A taxa de investimento global da economia tem melhorado, mas ainda está abaixo da russa, indiana ou chinesa.
Estado paga juros altos a quem não trabalha, arrecada muito de quem rala e investe pouco
Durante sua sabatina na “Folha de S.Paulo”, José Serra voltou a enunciar sua crítica à política econômica do governo Lula (inclusive naquilo que ela tem de continuação do mandarinato tucano, no qual foi ministro): “O Brasil tem três ou quatro recordes de que eu me envergonho.
As altas taxas de juros e impostos, a ‘lanterninha’ nos investimentos governamentais e a maior hiper valorização da moeda no mundo. Tem um certo arranjo aí que não funciona, e que eu me proponho a consertar.” Enunciado desse jeito, move poucos votos, mas significa o seguinte: com a taxa de juros a 10,25% ao ano, o Brasil continua a ser o país do mundo onde mais se ganha dinheiro sem precisar trabalhar, emprestandoo ao governo. Esse mesmo país tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo ( 35% do PIB, pouco abaixo do patamar de 36,45% deixado pelo tucanato em 2003).
Em português de campanha: o Brasil é um dos países onde mais se trabalha para sustentar o governo que, por sua vez, melhor remunera seus gordos credores. De uma lista de 135 países, o Estado brasileiro, que tanto arrecada, disputa com o Turcomenistão a menor taxa de investimento do mundo. Finalmente, o real sobrevalorizado barateia as compras em Miami, mas dificulta as exportações. Serra repetiu que o Brasil exporta celulose e importa papel. A taxa de investimento global da economia tem melhorado, mas ainda está abaixo da russa, indiana ou chinesa.
“Tem um certo arranjo aí que não funciona.” O candidato do PSDB já disse que essa não é uma divergência entre governo e oposição, mas questão de Estado. Nem na Suíça a linha divisória de uma campanha pode passar por temas tão arcanos, mas, de fato, o arranjo não funciona. Os conselheiros do ex-ministro Antonio Palocci sabem disso, Lula acha que esse problema pode ficar para depois, até porque o curto-circuito só ocorrerá se alguém encostar os fios desencapados e nem na crise de 2008, a da “marolinha”, isso aconteceu.
Um dia esse arranjo para de funcionar, por conta de fatores externos ou mesmo internos.
Um dia esse arranjo para de funcionar, por conta de fatores externos ou mesmo internos.
Nos anos 70, quando o Brasil festejava o milagre econômico que acarpetou o asfalto natalino da Rua Augusta e deu a Lula o seu primeiro carro, pouca gente prestava atenção em números estranhos. Entre 1970 e 1973, a produção de bens de consumo duráveis, como geladeiras e aparelhos de TV a cores, praticamente triplicara.
Já a produção de bens intermediários, como parafusos, lingotes e mercadorias capazes de atrair novas levas de trabalhadores, crescera apenas 45%. E daí, se dá para empurrar com a barriga? Era o prenúncio de uma pressão inflacionária que, associada a duas crises do petróleo, destruiriam a ditadura e infelicitariam a primeira década da redemocratização.
Nosso Guia já avacalhou um Congresso que recebeu avacalhado, entronizou as centrais sindicais como um poder paralelo e, finalmente, vem dando um toque carnavalesco à sua sucessão. Num clima de festa, preocupações como as de Serra merecem pouca atenção. Afinal, podese empurrar o arranjo com a barriga.
Uma coisa é deixar o debate para depois, sinal de astúcia política ou oportunismo eleitoral. Outra é achar que esse “certo arranjo” funciona.
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