DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Ainda há chance de tirar a Unasul da irrelevância; para isso, Lula deve ser intermediário confiável
Se o governo brasileiro quer evitar que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) resvale para a irrelevância, precisa não só ser como parecer ser o que o jargão diplomático chama de "honest broker" -um intermediário confiável para as partes em conflito, no caso Venezuela e Colômbia.
Por enquanto, não é, ao menos aos olhos da Colômbia, de que dá prova cristalina a crítica do presidente Álvaro Uribe a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira nos oito anos de gestão de cada um deles.
O pano de fundo da crítica, pelo que a Folha apurou, é este: quando a Colômbia anunciou o acordo para o uso de bases colombianas por militares norte-americanos, o Brasil reagiu duramente (dureza só retórica, mas dureza). Agora que o governo colombiano denuncia a presença das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Venezuela, Lula não diz nada.
A comparação entre as duas cessões de território parece um pouco de exagero, dada a imensa diferença de poder entre os Estados Unidos e as Farc. Mas o exagero encolhe quando se olha passado e presente.
Os Estados Unidos foram de fato uma ameaça à segurança da América Latina, em especial durante os anos da Guerra Fria. Dispensável listar todas as intervenções promovidas ou apoiadas por Washington, com funestas consequências para os países vítimas.
Terminada a Guerra Fria, no entanto, os Estados Unidos já não têm o pretexto de antes, o de evitar que alguma nação latino-americana caísse na órbita soviética. Hoje, cairiam na órbita de quem? De Cuba, que não tem onde cair morta?
O fato é que nenhum dos governos do subcontinente tem afetado interesses vitais americanos. Nem mesmo a Venezuela de Chávez, que manda para os EUA metade do petróleo que exporta - e que é sua única riqueza.
Nem, também, o Equador de Rafael Correa que, é bom não esquecer, mantém o dólar como moeda, o que é renunciar a uma fatia não desprezível da soberania.
VERDADEIRA AMEAÇA
Hoje, a principal ameaça à segurança dos países sul-americanos está dada pelo crime organizado, cujo financiamento depende, em boa medida, do narcotráfico, atividade à qual se dedicam as Farc.
Portanto, as Farc, estas sim, representam uma ameaça.
Para ser visto como intermediário honesto, o Brasil poderia, perfeitamente, preocupar-se com as bases norte-americanas na Colômbia mas não poderia assobiar e olhar para o lado em relação às denúncias da Colômbia, como o fez até agora.
É bom lembrar que a Unasul toma suas decisões por consenso. Logo, sem o voto colombiano (e peruano e agora chileno), a Unasul está condenada a decidir não decidir.
A alternativa à coragem de ver de fato os dois lados é esperar que o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, prefira deixar hibernando a denúncia feita por Uribe e restabeleça as relações com a Venezuela. Pode até acontecer, mas será apenas varrer a sujeira - as Farc e as relações delas com a Venezuela - para baixo do tapete.
Ainda há chance de tirar a Unasul da irrelevância; para isso, Lula deve ser intermediário confiável
Se o governo brasileiro quer evitar que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) resvale para a irrelevância, precisa não só ser como parecer ser o que o jargão diplomático chama de "honest broker" -um intermediário confiável para as partes em conflito, no caso Venezuela e Colômbia.
Por enquanto, não é, ao menos aos olhos da Colômbia, de que dá prova cristalina a crítica do presidente Álvaro Uribe a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira nos oito anos de gestão de cada um deles.
O pano de fundo da crítica, pelo que a Folha apurou, é este: quando a Colômbia anunciou o acordo para o uso de bases colombianas por militares norte-americanos, o Brasil reagiu duramente (dureza só retórica, mas dureza). Agora que o governo colombiano denuncia a presença das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Venezuela, Lula não diz nada.
A comparação entre as duas cessões de território parece um pouco de exagero, dada a imensa diferença de poder entre os Estados Unidos e as Farc. Mas o exagero encolhe quando se olha passado e presente.
Os Estados Unidos foram de fato uma ameaça à segurança da América Latina, em especial durante os anos da Guerra Fria. Dispensável listar todas as intervenções promovidas ou apoiadas por Washington, com funestas consequências para os países vítimas.
Terminada a Guerra Fria, no entanto, os Estados Unidos já não têm o pretexto de antes, o de evitar que alguma nação latino-americana caísse na órbita soviética. Hoje, cairiam na órbita de quem? De Cuba, que não tem onde cair morta?
O fato é que nenhum dos governos do subcontinente tem afetado interesses vitais americanos. Nem mesmo a Venezuela de Chávez, que manda para os EUA metade do petróleo que exporta - e que é sua única riqueza.
Nem, também, o Equador de Rafael Correa que, é bom não esquecer, mantém o dólar como moeda, o que é renunciar a uma fatia não desprezível da soberania.
VERDADEIRA AMEAÇA
Hoje, a principal ameaça à segurança dos países sul-americanos está dada pelo crime organizado, cujo financiamento depende, em boa medida, do narcotráfico, atividade à qual se dedicam as Farc.
Portanto, as Farc, estas sim, representam uma ameaça.
Para ser visto como intermediário honesto, o Brasil poderia, perfeitamente, preocupar-se com as bases norte-americanas na Colômbia mas não poderia assobiar e olhar para o lado em relação às denúncias da Colômbia, como o fez até agora.
É bom lembrar que a Unasul toma suas decisões por consenso. Logo, sem o voto colombiano (e peruano e agora chileno), a Unasul está condenada a decidir não decidir.
A alternativa à coragem de ver de fato os dois lados é esperar que o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, prefira deixar hibernando a denúncia feita por Uribe e restabeleça as relações com a Venezuela. Pode até acontecer, mas será apenas varrer a sujeira - as Farc e as relações delas com a Venezuela - para baixo do tapete.
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