domingo, 29 de agosto de 2010

FHC é isolado por campanha tucana

DEU NO ESTADO DE MINAS

Ex-presidente diz não ser militante, mas está magoado por não ter feitos do seu governo lembrados por Serra

Daniela Almeida

São Paulo. Responsável por levar o PSDB à Presidência da República e uma das figuras mais importantes do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passa longe da campanha tucana ao Planalto. Enquanto até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu no programa eleitoral de José Serra, a imagem de FHC restringiu-se aos programas de candidatos a governos estaduais e ao Senado. E, mesmo em aparições públicas de Serra, em debates ou comícios, FHC não está presente.

A blindagem, segundo tucanos envolvidos na estratégia da campanha, teria sido motivada pelos resultados das pesquisas indicando a alta aprovação de Lula pela população (79%, segundo o último levantamento Datafolha), o que poderia significar uma certa rejeição a FHC. A percepção que ficou para a sociedade é a do nosso segundo governo, que enfrentou uma série de crises, e não do primeiro, que foi de grandes acertos, avalia um tucano que prefere não se identificar.

Para interlocutores próximos, o ex-presidente além de demonstrar preocupação com um quadro eleitoral que parece estar decidido muito cedo tem confidenciado estar magoado por não observar os feitos de seus oito anos de mandato na campanha. Ele gostaria de ver as teses do governo dele sendo defendidas, diz outro integrante do PSDB.

A estratégia do partido, segundo especialistas, é tiro no pé. O isolamento de FHC pode significar uma perda política para o PSDB e para Serra, já que ambos correm o risco de sair enfraquecidos. Lula perdeu várias eleições, mas nunca perdeu politicamente. Isso porque ele sempre firmou posição. Em política, você tem que deixar claro quem é você e qual a sua historia. O partido deveria reconhecer que o governo FHC, embora não seja um sucesso de público, foi um sucesso de crítica, diz o cientista político e professor Carlos Melo.

O cientista político da USP Rubens Figueiredo aponta uma lista de conquistas do PSDB quando o partido ocupou a Presidência, entre elas o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, que poderiam ser usadas pela campanha de Serra. A mudança frequente de postura e a tentativa de colar a imagem de Serra à de Lula, na avaliação de Rubens, tende a confundir a cabeça do eleitor. O PSDB de dia critica o Lula, à noite o afaga e não defende aquilo que fez. É como uma biruta de aeroporto, que ninguém entende para onde vai.

Sob os holofotes, no entanto, o ex-presidente minimiza sua ausência ao lado do candidato tucano. Esta semana, durante um evento no instituto que leva seu nome, em São Paulo, ao ser questionado se não estaria distante da campanha à Presidência, FHC respondeu com uma crítica ao adversário Lula. Apareço da maneira como acho que um ex-presidente deve aparecer, dando ideias, discutindo, mas não sou militante. Acho que é uma certa incompatibilidade de posturas Cada um defende a sua. Tem uns que defendem como o presidente Lula. Ele é um militante. Esqueceu que é presidente de todos nós para ser (presidente) de uma facção.

O senador e presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), afirma que a falta de FHC no programa foi uma decisão do comando da campanha. Segundo ele, a atuação de FHC se dá nos bastidores. Nenhuma decisão importante do partido acontece sem ele. Ele é o que mais colabora com o partido.

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