Há mil e uma razões para o PMDB empregar toda sua disposição política na consolidação do poder que conquistou no Rio de Janeiro. Uma, talvez principal, é manter aquele espaço como bunker político, cidadela de onde, tal uma plataforma, fará seus lançamentos de longo alcance. Inclusive, ou principalmente, para voltar a sonhar com as disputas presidenciais.
Impedido de ressuscitar seu espaço no primeiro colégio eleitoral, São Paulo, onde veio perdendo espaço ao longo dos últimos anos, e com uma proeminência do PT na aliança entre os dois partidos nas disputas do segundo colégio, Minas Gerais, o PMDB tem razões de sobra para agarrar-se ao que já conseguiu no Rio. Ainda mais que todos os dias, nas avaliações internas, aparece alguém para lembrar que a perda de poder político e eleitoral se deu por falta de participação nas disputas, no melhor exemplo da máxima de que "time que não joga não tem torcida".
Acreditava ter sido mestre ao abrigar Gabriel Chalita e apostar que, com ele, iria criar um mundo eleitoral novo em São Paulo. Há equívoco para tudo. O lançamento não alcançou velocidade de voo além da primeira barganha, a da eleição para a prefeitura da capital de São Paulo. O PMDB atribui também ao parceiro preferencial, o PT, o abate de Chalita na decolagem, com a divulgação de denúncias e dossiês. Em Minas o partido, embora mais forte, tem sofrido um revés atrás do outro e deixou que o PT tomasse a dianteira para a sucessão em 2014. Será caudatário.
Beltrame, novato na modalidade, caiu na armadilha
No Rio, portanto, afirmam dois dos principais dirigentes do partido, em sua linguagem peculiar, "ninguém tasca". Nem o PT. Por isso o PMDB faz questão de que a aliança para a reeleição de Dilma tenha apenas um palanque no Rio, e este seja o do vice-governador Luiz Fernando Pezão, candidato ao governo, exigindo-se do PT o afastamento do pretendente ao mesmo cargo, Lindberg Farias. Uma candidatura bem situada como há muito o PT não tem naquele colégio, o que não tem sensibilizado praticamente ninguém.
Sobre essa questão o PMDB já colocou suas cartas na mesa em reunião com Rui Falcão, presidente do PT, e Aloizio Mercadante, coordenador das preliminares da campanha da reeleição em nome da presidente Dilma. Só não se reuniu ainda com o ex-presidente Lula, o principal ator da montagem dos palanques estaduais e senhor absoluto das decisões do PT. Mas tanto Mercadante quanto Rui Falcão estão levando a posição do partido a Lula.
Entre as cláusulas de uma norma não escrita que o PMDB quer preservar está a de alimentar a força e o poder do governador Sérgio Cabral, em quem vê a capacidade de liderar o partido no Rio e representar o grupo nas disputas nacionais do pós Lula (aí incluída a presidente Dilma). Portanto, em poucas palavras, Cabral é a possibilidade de o PMDB voltar a disputar a Presidência da República, plano que está na meta do partido para 2018.
Esse cenário encerra a razão de estado para a geladeira em que o PMDB depositou o Secretário de Segurança do Rio, o até aqui festejado José Mariano Beltrame, depois de tê-lo jogado no fogo da hipótese de candidatura no ano que vem, como vice governador na chapa de Pezão.
Beltrame conseguiu o que nenhum Estado e o governo federal conseguiram, um plano para enfrentar a violência, um projeto de segurança pública para o Rio, onde o crime organizado, até sua chegada, dominava. O PMDB não titubeou para transferir a eficiência do combate à violência para o embate eleitoral. Não se preocupou em perseverar em um caminho de gestão bem sucedida ali descoberto e resolveu testar se à satisfação do eleitorado com a ação de seu secretário correspondiam votos na urna.
Esse foi o primeiro erro, e partiu do partido. Beltrame vinha dizendo que não queria ingressar na carreira política mas, ao mesmo tempo, dava sinais de que se a mosca azul quisesse se aproximar, ficasse à vontade. Foi a programas de televisão e começou a se apresentar para fora do Estado, até esse momento dentro do projeto desenhado pelo PMDB.
Em abril, durante uma viagem ao Rio para reunir o PSB, que tem presença no Estado, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, eventual candidato do PSB à sucessão, teve uma reunião com Beltrame ao fim da qual duas versões foram produzidas. O secretário informou que foi convidado para ser candidato a governador pelo PSB, e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, quando procurado pelo PMDB do Rio para explicar o significado da atravessada partidária, disse que conversou com Beltrame sobre um plano de segurança pública, não sobre candidatura.
O PMDB ficou realmente de pé atrás com Beltrame. Começou até a negar protagonismo central à sua participação no sucesso da ação na área de segurança. Além de não ter inventado o modelo, nascido na Colômbia, o secretário seria apenas o executor de um plano de governo, para o qual o recebeu todo apoio, inclusive com a realização de concurso para contratação de policiais bem treinados e remunerados.
O ato seguinte foi tirar Beltrame das conjecturas, até mesmo para a vice, e passar a considerar as possibilidades de composição da chapa nas negociações com o PT. Beltrame foi afastado das conversas, passou-se a dizer que, no Rio, não é usual Secretário de Segurança eleger-se pelo voto popular, que Marcelo Itajiba (eleito deputado) foi exceção, e que Beltrame foi mordido pela mosca azul porque passou a querer ser governador e não só vice.
Para se eleger é preciso fazer acordos e dificilmente um secretário de segurança consegue este tipo de negociação, convenceu-se o PMDB. Para o partido, a situação, no Rio, está em aberto, pois, novato na modalidade, Beltrame caiu na armadilha. "O Beltrame está no governo, tem toda a cobertura, conversa com Sérgio Cabral e de uma hora para outra está conversando também com Eduardo Campos, o adversário de Cabral em 2018?" Esse é o ponto: o PMDB do Rio acredita que, até por pertencerem à mesma geração, a sucessão de 2018 terá, inevitavelmente, Cabral e Eduardo na arena.
Fonte: Valor Econômico
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