Entre as causas da crise estão orçamento mais rígido, receita menor, recessão e queda do preço do petróleo
Gilberto Amendola | O Estado de S. Paulo
RIO - Uma economia fragilizada, um Estado quebrado e um sistema político em frangalhos resumem a situação do Rio atualmente. Entre os fatores causadores da crise estão a perda de receita pública da ordem de 5%, o engessamento do orçamento com “gastos cativos”, como educação, saúde, segurança e previdência, a recessão e o ônus adicional da queda do preço do petróleo sobre a arrecadação com royalties. Para piorar, a gestão do Estado, conduzida por uma elite política alvo de investigações e acusada de envolvimento em escândalos de corrupção, intensificou o colapso.
Analistas ouvidos pelo Estado descrevem a crise fluminense com suas implicações econômicas e políticas. “Com quedas fortes de receita, os porcentuais de comprometimento indicados se elevam e a sobra de recursos diminui, podendo até zerar. Daí para o caos é um pulo”, diz o consultor Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento.
A economia do Rio é concentrada, o que, para o economista Mauro Osório, da Universidade Federal do Rio (UFRJ), é um problema. “Há pouca estrutura produtiva. Muitos dos fabricantes de maquinário para o setor petrolífero estão em São Paulo.”
“O diferencial do Rio foi depender demais de petróleo e de receitas extraordinárias e gastar demais com outros Poderes (Legislativo e Judiciário)”, afirma o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O barril do petróleo chegou a ficar cotado abaixo de US$ 30, depois de um pico de US$ 110 em 2014. A área também foi afetada pela Lava Jato.
Corrupção. Sob o ponto de vista político, os descaminhos da administração aceleraram a situação-limite do Estado. Projetos bilionários, como o PAC das Favelas e a Olimpíada, tiveram pouca ou nenhuma fiscalização, o que favoreceu irregularidades agora investigadas.
Há duas semanas, o procurador da República Eduardo El Hage, da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que a gestão Sérgio Cabral (PMDB) “roubou dos cofres públicos em todas as áreas”. A declaração foi dada depois de a Operação Fatura Exposta mostrar que ao menos R$ 300 milhões foram desviados da saúde.
Cabral está encarcerado desde novembro. Réu em sete ações penais relativas à Lava Jato, o ex-governador é acusado de instituir propina de 5% sobre todos os contratos celebrados com o Estado e ter se apropriado de ao menos R$ 270 milhões.
A aliança entre Cabral e o PT do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2007, fortalecida pela adesão, dois anos depois, da prefeitura carioca sob comando de Eduardo Paes (PMDB), criou um cenário político sem oposição, segundo o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael.
A partir daí, parcerias foram firmadas, linhas de crédito, facilitadas e grandes eventos, marcados. “A aliança entre Rio e governo federal era vista com bons olhos pela elite carioca (representada pelos empresários Fernando Cavendish e Eike Batista, ambos alvo da Lava Jato), e o mundo político abraçou o projeto. Não existia oposição. Os mecanismos de controle foram enfraquecidos.”
O professor de Direito da PUC-Rio Manoel Messias Peixinho concorda. “A impressão é de que o poder de Cabral era ilimitado. Ele era o rei. E todos queriam ser amigos do rei. A vida política e social parecia girar em torno dele”, diz. A defesa de Cabral não foi localizada. / Colaboraram Wilson Tosta, Vinicius Neder e Mariana Durão
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