- Folha de S. Paulo
Um candidato deve ser avaliado por suas declarações ou por ações pregressas?
Uma pessoa deve ser julgada por sua fé ou por suas obras? A pergunta, que tem origem teológica, aplica-se a políticos. Um candidato deve ser avaliado por suas declarações ou por ações pregressas?
Longe de mim sugerir que promessas, propostas e programas de governo, que, grosso modo, compõem o campo da fé, não signifiquem nada. Com maior ou menor acuidade, eles sinalizam o caminho que o candidato pretende seguir e constituem uma espécie de compromisso firmado com o eleitor.
Políticos sempre irão exagerar um pouco nas juras feitas durante a campanha, mas seria um erro achar que o voto equivale a um cheque em branco. Dilma Rousseff descobriu do pior modo possível que há limites para o chamado estelionato eleitoral.
No mais, se discurso fosse tudo, bastaria aos candidatos dizer que irão implantar a sociedade ideal que conquistariam 100% dos votos. Mas até o mais simplório dos eleitores sabe que não deve acreditar em tudo que políticos prometem. Assim, ao menos para a parcela do eleitorado que pretende fazer uma escolha mais racional do que emocional, só o que resta é confrontar a profissão de fé do candidato com suas obras.
Nesse quesito, por tudo o que li e vi até agora, a candidatura que se revela mais incoerente é a de Jair Bolsonaro, que apresenta um programa ultraliberal na economia, mas ostenta, como deputado, um longo histórico de posições ultraestatistas.
Assinale-se que outros candidatos competitivos também passaram por mudanças. Marina Silva foi do campo da esquerda para um ideário econômico mais liberal e Ciro Gomes caminhou do PDS, sucedâneo da Arena, para a centro-esquerda. Suas transições, contudo, foram paulatinas e temos registro de posições intermediárias. Já com Bolsonaro, a guinada foi muito mais rápida e se deu no contexto de uma disputa eleitoral. Fica difícil pelo menos não suspeitar de que sua conversão tenha mais a ver com oportunismo do que com convicção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário