O Estado de S. Paulo
Todo esse quadro que se configura no fim de 2025 torna o ano seguinte problemático, pois não há no horizonte eleitoral esperança de solução para os problemas
O ano que acaba trouxe algumas surpresas. Uma delas foi a suposição de que Donald Trump seria um ator importante na política brasileira. Ele escreveu uma carta condenando o julgamento de Bolsonaro e, em seguida, decretou o tarifaço, suspendeu vistos de ministros, enquadrou Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky. Meses depois, quase tudo isso estava revogado e as relações entre Brasil e Estados Unidos entraram na normalidade. Foi uma vitória do presidente Lula e da diplomacia brasileira. E uma grande derrota para o bolsonarismo, que depositava em Trump suas últimas esperanças. Não foi uma simples derrota porque o movimento de Eduardo Bolsonaro apoiando o tarifaço já havia desgastado sua corrente política com a opinião pública brasileira. O resultado de tudo isso foi o fortalecimento de Lula, que já vinha recuperando sua popularidade e agora desponta como favorito nas eleições de 2026.
Se de um lado essa variável parece mais ou
menos definida, por outro, o futuro do País continuará complicado. Há uma crise
profunda entre Congresso, governo e Supremo Tribunal Federal (STF) e poucos
indícios de que isso possa ser resolvido em curto prazo.
O Congresso, mesmo renovado – o que seria uma
grande vitória –, não vai abrir mão de deter grande parte do Orçamento. Desde a
vitória de Severino Cavalcanti ficou claro que os presidentes da Câmara e mesmo
do Senado não seriam eleitos de forma tradicional. Não representam
necessariamente uma corrente política e uma visão de Brasil. Precisam ser
hábeis articuladores de interesses fisiológicos.
Diante desse quadro, o movimento principal
será sempre o de obter mais verbas e reduzir ao máximo a transparência. Uma
grande esperança de correção dos desvios do Congresso é o STF. Desde a
presidência de Rosa Weber há uma tentativa, continuada agora com Flávio Dino.
Mas o próprio STF vive uma crise particular. Sua origem talvez tenha sido
quando a Corte abriu o inquérito sobre as fake news. Naquele momento, o alvo
era também a Receita Federal, que fiscalizava as mulheres de Gilmar Mendes e
Dias Toffoli, que era presidente do Supremo. Toffoli designou Alexandre de
Moraes para conduzir o inquérito. O problema subjacente é o seguinte: os
ministros consideraram que seus parentes podem advogar e que isso não
representa um impedimento para julgá-los.
Esse problema foi ofuscado pela luta contra a
extrema direita, que trouxe ao STF um alto nível de reconhecimento na opinião
pública. Toffoli liquidou os processos da Lava Jato e perdoou multas
bilionárias da JBS. Nesse momento, assumiu o caso Master e decretou um pesado
sigilo, inclusive diante do pedido de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI). Moraes, por sua vez, foi alcançado pelo caso Master, por meio da
divulgação de um contrato entre sua mulher, Viviane, e o banco. O contrato
previa uma remuneração mensal de R$ 3,6 milhões num total de R$ 129 milhões em
três anos.
Tudo isso acontece num momento em que se fala
sobre um código de ética para o Supremo. De um modo geral, o movimento foi
suscitado pelas notícias de viagens dos ministros para conferências em Nova
York e Londres, por exemplo, com diárias em hotéis caros pagas por empresas com
interesses no Supremo.
Diante da advocacia de parentes, parece que
as viagens são secundárias. Sobre isso não se fala. O clima de que o governo
Lula prepara sua presença até 2030 é de ceticismo em parte da opinião pública.
O próprio governo foi muito criticado no escândalo do INSS, embora os desvios
que vitimaram os aposentados tenham acontecido também em outros governos.
Todo esse quadro que se configura no fim de
2025 torna o ano seguinte problemático, pois não há no horizonte eleitoral
esperança de solução para os problemas. O que se pode desejar é uma renovação
moderada do Parlamento, mas, ainda assim, incapaz de deter a marcha dos
fisiologismos na conquista de grande parte do Orçamento.
O interessante é que, ao contrário de outros
países do continente, a experiência populista de direita, com mágicas promessas
de uma nova política, já aconteceu em 2018 e chega ao seu ponto crítico com a
prisão de Bolsonaro e as desastradas manobras junto a Trump.
Uma saída para essa crise da democratização
exigirá muito debate e, sem dúvida, é o grande desafio de 2026 que não se
esgotará na eleição presidencial.
Enquanto o ceticismo perdurar, o País estará
vulnerável ao fascínio dos aventureiros. Mas, em compensação, pode aceitar
novas propostas ou, no mínimo, se mostrar mais exigente com os governantes que
queiram apenas continuar, sem perceber a dimensão da crise do processo que se
iniciou com a campanha das diretas, mas ainda está em dívida com as grandes
expectativas da democratização.
De lá para cá, a democracia apenas sobrevive. A campanha eleitoral, uma das mais caras do Ocidente, resultou num processo de corrupção sem precedentes. Hoje, o País destina R$ 5 bilhões aos partidos para que façam a campanha. É uma fortuna para que se produza muito pouco de novo. Muito dinheiro para pouca esperança.

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