Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Desde o Paraíso Terrestre, a cada encrenca, o ser humano tem uma inexorável propensão a procurar o culpado em vez de uma solução. "A culpa é dela", disse Adão ao Senhor, apontando o dedo para Eva. "A culpa é da serpente", disse Eva.
Agora, por todos os lados, há gente apontando o indicador para Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano): "O culpado por essa crise é ele."
Greenspan está nessa história porque a bolha começou a inflar-se em 2002/2004, quando o Fed manteve por 21 meses juros em torno de 1% ao ano.
Como se sabe, juros no chão equivalem a abundância de dinheiro nos mercados e essa fartura produziu administrações financeiras irresponsáveis, excessiva criatividade dos bancos e por aí foi... até que as bolhas estouraram, uma a uma.
Quem estava no comando da política monetária do país mais rico do mundo era o inegavelmente permissivo Alan Greenspan. Mas daí a dizer que tudo aconteceu porque ele produziu ou deixou que alguém produzisse o ovo da serpente, é dar um passo maior do que as pernas.
Toda autoridade está lá para conceber e aplicar políticas públicas. No caso de um presidente de banco central, seu único instrumento de trabalho é a política monetária, ou seja, é o manejo da sanfona que põe dinheiro no mercado ou tira dinheiro do mercado e, com isso, maneja seu preço, que são os juros.
A pergunta correta está em saber que políticas o Fed poderia ter formulado e não formulou e quais poderia ter adotado e não adotou quando as bolhas estavam sendo sopradas. Nesse período, a inflação vinha muito próxima do zero, com risco de transformar-se em deflação, e a atividade econômica estava bombando. Nessas circunstâncias, se o Fed não tivesse adotado uma política monetária acomodatícia, estaria extrapolando os limites do seu mandato.
Pode-se contra-argumentar que o Fed ao menos poderia ter fiscalizado melhor e supervisionado os bancos que praticavam a farra financeira. Essa crítica parece pertinente. Mas é preciso entender, também, que nos Estados Unidos a maior parte dessa função é desempenhada por organismos reguladores estaduais.
E há ainda quem afirme que Greenspan deveria ter avisado do perigo, mais ou menos como a partir de 1998 atacou a bolha da internet quando denunciou a "exuberância irracional" dos mercados de ações. O problema aí é que a simples denúncia, sem políticas adequadas que a acompanhem, não serve para muita coisa. A bolha da internet acabou estourando do mesmo jeito, sem que as denúncias tivessem feito alguma coisa para evitá-la.
A árvore do fruto do bem e do mal, causa mais profunda desta crise, são os enormes desequilíbrios nos balanços de pagamentos no mundo. Foram esses desequilíbrios que produziram a atual simbiose entre Estados Unidos e China, fator que transformou os Estados Unidos em economia altamente deficitária, em gastadora inveterada de produtos asiáticos baratos e em desbragada importadora de poupança. Esta é uma situação insustentável que nenhuma fiscalização e nenhuma política monetária serão capazes de controlar. Como o pecado original será reparado ainda é um mistério profundo.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Desde o Paraíso Terrestre, a cada encrenca, o ser humano tem uma inexorável propensão a procurar o culpado em vez de uma solução. "A culpa é dela", disse Adão ao Senhor, apontando o dedo para Eva. "A culpa é da serpente", disse Eva.
Agora, por todos os lados, há gente apontando o indicador para Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano): "O culpado por essa crise é ele."
Greenspan está nessa história porque a bolha começou a inflar-se em 2002/2004, quando o Fed manteve por 21 meses juros em torno de 1% ao ano.
Como se sabe, juros no chão equivalem a abundância de dinheiro nos mercados e essa fartura produziu administrações financeiras irresponsáveis, excessiva criatividade dos bancos e por aí foi... até que as bolhas estouraram, uma a uma.
Quem estava no comando da política monetária do país mais rico do mundo era o inegavelmente permissivo Alan Greenspan. Mas daí a dizer que tudo aconteceu porque ele produziu ou deixou que alguém produzisse o ovo da serpente, é dar um passo maior do que as pernas.
Toda autoridade está lá para conceber e aplicar políticas públicas. No caso de um presidente de banco central, seu único instrumento de trabalho é a política monetária, ou seja, é o manejo da sanfona que põe dinheiro no mercado ou tira dinheiro do mercado e, com isso, maneja seu preço, que são os juros.
A pergunta correta está em saber que políticas o Fed poderia ter formulado e não formulou e quais poderia ter adotado e não adotou quando as bolhas estavam sendo sopradas. Nesse período, a inflação vinha muito próxima do zero, com risco de transformar-se em deflação, e a atividade econômica estava bombando. Nessas circunstâncias, se o Fed não tivesse adotado uma política monetária acomodatícia, estaria extrapolando os limites do seu mandato.
Pode-se contra-argumentar que o Fed ao menos poderia ter fiscalizado melhor e supervisionado os bancos que praticavam a farra financeira. Essa crítica parece pertinente. Mas é preciso entender, também, que nos Estados Unidos a maior parte dessa função é desempenhada por organismos reguladores estaduais.
E há ainda quem afirme que Greenspan deveria ter avisado do perigo, mais ou menos como a partir de 1998 atacou a bolha da internet quando denunciou a "exuberância irracional" dos mercados de ações. O problema aí é que a simples denúncia, sem políticas adequadas que a acompanhem, não serve para muita coisa. A bolha da internet acabou estourando do mesmo jeito, sem que as denúncias tivessem feito alguma coisa para evitá-la.
A árvore do fruto do bem e do mal, causa mais profunda desta crise, são os enormes desequilíbrios nos balanços de pagamentos no mundo. Foram esses desequilíbrios que produziram a atual simbiose entre Estados Unidos e China, fator que transformou os Estados Unidos em economia altamente deficitária, em gastadora inveterada de produtos asiáticos baratos e em desbragada importadora de poupança. Esta é uma situação insustentável que nenhuma fiscalização e nenhuma política monetária serão capazes de controlar. Como o pecado original será reparado ainda é um mistério profundo.
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