Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Apesar de queda forte do PIB, crise se concentra na indústria; contas fiscais e externas em relativa ordem ajudaram
É UMA RECESSÃO estranha, essa a nossa, desta vez. Ou até agora. O presidente é popular como nunca. Os salários não caíram, pelo menos ainda; pelo menos aqueles de que temos notícia, segundo as estatísticas disponíveis -apenas crescem menos, na média. Mesmo a perda de empregos formais, embora violenta, já foi pior em outras recessões, quando o número de pessoas com carteira assinada chegou a diminuir drasticamente (na comparação anual). Não há protestos na rua. Embora as maiores centrais sindicais sejam hoje quase órgãos paraestatais, não estariam tão quietas caso as bases estivessem gritando.
Na terça-feira, será divulgado o já anacrônico resultado do PIB do primeiro trimestre. Tanto na comparação com o final de 2008 como com o primeiro trimestre de 2008, a queda estimada fica entre 2% e 3%. É um tombo inédito desde os anos terríveis de Fernando Collor, aquele que outro dia beijou a mão da ministra Dilma Rousseff e, aliás, foi também presidente da República, deposto por bandalheira e caos econômico.
Para 2009, há estimativas de queda de 2% do PIB (caso de economistas do Itaú). Economistas da MB Associados, do Bradesco e do Santander estimam estagnação. Os da Tendências, queda de 0,6%. Números ruins, além de muito dispersos, mas os economistas acreditam que a pior dentada na atividade econômica teria ocorrido de janeiro a abril. Porém, não é improvável que números piores sobre consumo de varejo, renda e emprego ainda apareçam daqui até o final do ano.
Por estranha que seja, a recessão não é uma ilusão de ótica. No ano, todos os indicadores da atividade industrial foram desastrosos ou recordes negativos, desde que se tem registro. A queda na produção da indústria foi a maior desde 1991. O aumento na ociosidade das fábricas foi comparável ao de 1998-99, disputando a primazia da desgraça com o início collorido dos anos 1990. O crédito secou também de modo raro, embora viesse de um (bom) nível também raramente visto no país.
A que se deve, então, esta estranha recessão? Decerto o governo pôde gastar mais, com efeitos menos deletérios desta vez, e pôde baixar juros, ainda que nem tanto quanto viável. Em eras de desordem fiscal, dívida pública mais alta, inflação e dívida externa maior, não seria possível gastar mais nem baixar juros.
Desta vez, parte relevante do consumo não depende imediatamente das flutuações da economia, mas de salário mínimo, INSS, assistência e seguros sociais, rendas que já vinham aumentando no governo Lula e crescem ainda mais agora. O governo também fez um pouco mais de dívida para dar forte aumento aos servidores, justamente neste ano. Relevante ainda, cortou tributos sobre bens de consumo. Além do mais, os bancos estatais evitaram uma redução de crédito semelhante à de recessões terríveis como a de Collor.
Isto posto, a recessão ainda parece estranha. Entende-se o motivo de a crise não ter sido pior; que a renda dos mais pobres não tenha caído (aliás, sobe). Mas, no fim das contas, a queda do PIB é forte. Porém, concentra-se na indústria, em especial na exportadora. Não se espalhou pela economia com a intensidade razoavelmente previsível. Muito melhor assim. Mas ainda esquisito.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Apesar de queda forte do PIB, crise se concentra na indústria; contas fiscais e externas em relativa ordem ajudaram
É UMA RECESSÃO estranha, essa a nossa, desta vez. Ou até agora. O presidente é popular como nunca. Os salários não caíram, pelo menos ainda; pelo menos aqueles de que temos notícia, segundo as estatísticas disponíveis -apenas crescem menos, na média. Mesmo a perda de empregos formais, embora violenta, já foi pior em outras recessões, quando o número de pessoas com carteira assinada chegou a diminuir drasticamente (na comparação anual). Não há protestos na rua. Embora as maiores centrais sindicais sejam hoje quase órgãos paraestatais, não estariam tão quietas caso as bases estivessem gritando.
Na terça-feira, será divulgado o já anacrônico resultado do PIB do primeiro trimestre. Tanto na comparação com o final de 2008 como com o primeiro trimestre de 2008, a queda estimada fica entre 2% e 3%. É um tombo inédito desde os anos terríveis de Fernando Collor, aquele que outro dia beijou a mão da ministra Dilma Rousseff e, aliás, foi também presidente da República, deposto por bandalheira e caos econômico.
Para 2009, há estimativas de queda de 2% do PIB (caso de economistas do Itaú). Economistas da MB Associados, do Bradesco e do Santander estimam estagnação. Os da Tendências, queda de 0,6%. Números ruins, além de muito dispersos, mas os economistas acreditam que a pior dentada na atividade econômica teria ocorrido de janeiro a abril. Porém, não é improvável que números piores sobre consumo de varejo, renda e emprego ainda apareçam daqui até o final do ano.
Por estranha que seja, a recessão não é uma ilusão de ótica. No ano, todos os indicadores da atividade industrial foram desastrosos ou recordes negativos, desde que se tem registro. A queda na produção da indústria foi a maior desde 1991. O aumento na ociosidade das fábricas foi comparável ao de 1998-99, disputando a primazia da desgraça com o início collorido dos anos 1990. O crédito secou também de modo raro, embora viesse de um (bom) nível também raramente visto no país.
A que se deve, então, esta estranha recessão? Decerto o governo pôde gastar mais, com efeitos menos deletérios desta vez, e pôde baixar juros, ainda que nem tanto quanto viável. Em eras de desordem fiscal, dívida pública mais alta, inflação e dívida externa maior, não seria possível gastar mais nem baixar juros.
Desta vez, parte relevante do consumo não depende imediatamente das flutuações da economia, mas de salário mínimo, INSS, assistência e seguros sociais, rendas que já vinham aumentando no governo Lula e crescem ainda mais agora. O governo também fez um pouco mais de dívida para dar forte aumento aos servidores, justamente neste ano. Relevante ainda, cortou tributos sobre bens de consumo. Além do mais, os bancos estatais evitaram uma redução de crédito semelhante à de recessões terríveis como a de Collor.
Isto posto, a recessão ainda parece estranha. Entende-se o motivo de a crise não ter sido pior; que a renda dos mais pobres não tenha caído (aliás, sobe). Mas, no fim das contas, a queda do PIB é forte. Porém, concentra-se na indústria, em especial na exportadora. Não se espalhou pela economia com a intensidade razoavelmente previsível. Muito melhor assim. Mas ainda esquisito.
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