terça-feira, 22 de setembro de 2009

Reflexões do PT sobre a sucessão

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Considerada "muito boa" pelos participantes, a última reunião do Diretório Nacional do PT tratou praticamente de todas as dificuldades diante da candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente. Nem por isso deixou de ser uma reunião de cobranças e advertências.

O partido quer que a ministra retome o planejamento inicial feito para a campanha, ou seja, ir atrás do PT e ser a candidata dos petistas e da militância petista. A candidata do Partido dos Trabalhadores e não somente a candidata de Lula.

Dilma vinha de uma agenda acelerada, segundo as reflexões petistas. Então sobreveio o diagnóstico do câncer e, depois do câncer, a ex-secretaria da Receita Lina Maria Vieira, que a colocou sob a suspeita de interferir num processo tributário de interesse da família Sarney. A ministra se retraiu, quando a posição do Diretório Nacional é na direção contrária.

Não se trata propriamente de Dilma fazer campanha e correr o risco de ser impugnada na Justiça Eleitoral. Mas de se aproximar dos movimentos sindicais e dos movimentos sociais e populares. Na sequência, se aproximar dos partidos que compõem a base de sustentação do governo no Congresso.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, o PT quer que Dilma ponha o pé na estrada, pois avalia que não basta, para elegê-la, só o prestígio do presidente Lula, as realizações do governo e o cenário cor-de-rosa com que o Palácio do Planalto sinaliza o futuro - até fevereiro, pelo menos, só haveria notícias boas, como queda do desemprego e poços de petróleo.

Em outras palavras, o PT reconhece a avaliação da maioria dos partidos, segundo a qual, para se eleger, Dilma não deve contar apenas com os votos que Lula pode lhe transferir. Ela também tem que entrar com sua cota pessoal. E para que isso aconteça tem que ser a candidata do PT, da base aliada, do movimento sindical e dos movimentos populares.

Foi decidida a criação de duas comissões partidárias. Uma vai traçar as linhas do programa de um novo governo do PT sob o comando de Dilma Rousseff. O argumento é que também não basta dizer que a ministra da Casa Civil vai dar continuidade ao governo do presidente Lula. É necessário dizer o que será essa continuidade e quais são os próximos passos.

A outra será uma comissão eleitoral para discutir os palanques e problemas regionais. E são muitas as dificuldades nos Estados. "Impressionante", no termo usado por um integrante do Diretório Nacional. Em especial no chamado Triângulo das Bermudas (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais), que concentra 40% do eleitorado.

São Paulo, berço do petismo, não tem um candidato indiscutível. Tem alguns pré-candidatos e uma situação nova, que é a liberação, pela Justiça, do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (o STF julgou que não havia provas para que ele fosse processado pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, como queria o ministério público).

Há sempre o recurso à ex-prefeita Marta Suplicy. E a possibilidade de apoio a Ciro Gomes. O PT trabalha com a informação segundo a qual Ciro disse ao presidente do partido, Ricardo Berzoini, que está à disposição do PT. Mas registra que as articulações do deputado do PSB do Ceará são todas voltadas na direção da Presidência da República.

Com relação a Ciro Gomes, a propósito, o denominador comum no PT é que a vice na chapa de Dilma é tudo o que o deputado quer e tudo o que não pode acontecer, porque isso significaria o fim da aliança com o PMDB.

No Rio de Janeiro a disputa é entre o prefeito de Nova Iguaçu, Lindenberg Farias, e o governador Sérgio Cabral. Conta-se com a intervenção de Lula para a retirada de Lindenberg do páreo. Mas contava-se também, em 2005, que ele retiraria a candidatura do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) em favor da candidatura única petista a presidente da Câmara do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh - deu Severino Cavalcanti.

O mesmo raciocínio se aplica a Minas Gerais, onde a sucessão estadual está embolada: Hélio Costa (PMDB) quer, Aécio Neves (PSDB) diz que apoia, enquanto os petistas Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, e Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social, se engalfinham pela vaga.

O PMDB quer que a aliança nacional com o PT seja anunciada até outubro. O PT avalia que isso é bom e ruim, ao mesmo tempo. É bom porque dá uma linha para a sociedade: PMDB e PT estarão juntos em 2010. É ruim porque definir a coligação antes de acertar os palanques estaduais, implodem a base de sustentação ao governo e a aliança nacional, se amanhã ou depois ocorrer um grave problema regional.

É melhor, portanto, esperar um pouco, resolver as demandas estaduais possíveis e só depois anunciar o acordo nacional.

Na primeira reunião do Diretório Nacional depois do desligamento do partido da senadora Marina Silva (PV-AC), alas mais à esquerda propuseram que o PT recorresse à Justiça para retomar o mandato da ex-ministra do Meio Ambiente.

Aliás, tanto o de Marina como o de Flávio Arns (PT-PR), embora o desligamento do senador tenha ocorrido num cenário diferente: Arns saiu atirando; Marina , "com compostura".

A proposta foi rechaçada. O PT quer ir com calma no que se refere a Marina Silva. Se puder, nem toca no assunto. Se for inevitável, pretende desejar a ela que faça uma boa campanha e que procure colocar no centro do debate a questão do meio ambiente. Isso forçaria o PT a fazer um programa ambiental mais avançado.

No fundo, o PT teme que Marina possa ser vice numa chapa com José Serra. A opinião majoritária, no momento, é que trata-se de uma hipótese improvável. Mas também antes considerava-se pouco provável que ela saísse do PT.

Parece não haver dúvidas, entre os integrantes do Diretório Nacional, que Marina não será uma nova Heloisa Helena (PSOL). Na avaliação dos petistas, quem diria, HH perdeu muito, na eleição presidencial de 2006, por seu radicalismo e por sua agressividade. Marina, ao contrário, seria uma pessoa calma que não afugenta o eleitorado.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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