DEU EM O GLOBO
As duas propostas de oposição foram discutidas no GLOBO nas sabatinas da candidata Marina Silva, do PV, e do candidato José Serra, do PSDB. Elas são diferentes. Serra acha que o país corre risco de desindustrialização. Marina teme o desenvolvimento que não veja a urgência da questão climática. A ausência da candidata Dilma Rousseff é um espantoso desrespeito ao debate democrático.
Em duas horas de conversa com cada um dos candidatos de oposição deu para falar de vários pontos de suas ideias e projetos, mas um fato inevitavelmente dominou a conversa: o escândalo da quebra sequencial de sigilos de contribuintes em geral, e de pessoas ligadas ao candidato José Serra, em particular.
Marina foi até mais direta e assertiva sobre o tema: a sociedade ficou desamparada pelo presidente da República, que, quando vem a público falar do assunto, não defende as vítimas, apenas a sua candidata, disse ela. Pelo fato de ser mulher, Marina tem até mais naturalidade para desmanchar a tese de machismo defendido pelo presidente Lula. De acordo com o tortuoso pensamento, que Lula defendeu em palanque, exigir esclarecimento do assunto é um ataque à mulher. O que o assunto encerra é outro tipo de questão: agressão aos direitos dos cidadãos.
- No primeiro momento foi indignação, e agora o sentimento é de impotência. O secretário, o ministro e o presidente da República esqueceram que temos duas mil pessoas com sigilo violado e ele saiu em defesa de quem não teve o sigilo violado - disse Marina, defendendo em seguida sua tese da "banalização do dolo".
Serra ao falar do assunto elabora menos e fala mais do fato em si que o atingiu diretamente. Repetiu que avisou ao presidente Lula, quando disse a ele que seria candidato, que informações que constavam apenas das declarações de renda da sua filha estavam circulando por blogs ligados ao governo. Rechaçou a tese presente em algumas declarações de autoridades de que se "quebrou de todo mundo" então "não tem importância".
A candidata Dilma Rousseff, se tivesse vindo, poderia ter explicado melhor todo esse nebuloso episódio. De preferência, se saísse do script que tem repetido que é se apresentar como vítima no episódio, quando as vítimas são, obviamente, as pessoas espionadas.
José Serra usou a expressão "envelope fechado" para se referir ao pensamento de Dilma Rousseff. O país não a conhece, na opinião dele, e votar nela é como escolher um envelope fechado. Marina acha que Dilma aposentou o eleitor e só se preocupa com o "anfitrião".
O país, de fato, vive uma anomalia nesta eleição: o mais empenhado dos políticos em campanha não é candidato, está no cargo da Presidência, usa todos os poderes, facilidades e simbologia do cargo para defender uma candidatura. A candidata mais bem posicionada nas pesquisas é pouco conhecida, foge, sempre que pode, de debates, entrevistas e sabatinas. Desta forma, realimenta o problema de ser a interposta pessoa em sua própria candidatura.
Para piorar, Marina passou a maior parte de sua vida política no partido do governo e carrega ainda as marcas dessa ambiguidade de ser e não ser do grupo que controla o governo atualmente; Serra, de oposição, não defende os feitos do seu próprio partido quando estava no poder e ainda usou a foto do presidente Lula em sua campanha. Estão todos amedrontados diante do tamanho da popularidade do presidente e achando que qualquer palavra em falso pode tirar votos.
Marina acha que Dilma e Serra são muito parecidos na visão de mundo, no estilo e na proposta de se oferecerem como gerentes. No que se refere ao assunto que lhe é mais caro, o da sustentabilidade, Marina afirma que os dois representam risco ambiental para o país, a ameaça de um desenvolvimento desatualizado com as exigências do século XXI e a falta de um pensamento estratégico sobre o assunto.
- Por isso me coloquei como candidata, para mostrar que o meio ambiente não é a disputa do verde pelo verde, é uma forma de criar novos negócios, novos materiais, nova base de conhecimento, produzir mais com menos recursos naturais - disse.
Marina acha que nenhum dos dois oponentes entendeu esse mundo novo.
Serra também disse que se apresentou como candidato para preparar o Brasil para o século XXI.
- Hoje, não temos fundamentos sólidos para o desenvolvimento sustentado. Essa eleição vai decidir o que vai acontecer com o país, com a sociedade e a economia neste século. Foi essa percepção que me levou a ser candidato.
Ele acha que o modelo econômico do governo Lula está esgotado. Que ele teve a chance de uma situação extremamente favorável e não aproveitou para criar as bases desse crescimento sustentado.
- No governo anterior, os preços dos produtos de exportação caíram 10%, no governo Lula subiram 110%. É uma situação inédita desde os anos 30. Mas o país está se desindustrializando, está dependendo mais da exportação de matérias-primas e está aumentando o déficit externo.
O "desenvolvimento sustentável", para Marina, significa incluir a variável ambiental e climática dentro de uma estratégia de crescimento. O "desenvolvimento sustentado", para Serra, significa ter uma política de juros mais baixos, câmbio mais valorizado, maior poupança interna, menor déficit em transações correntes.
São dois pontos. A dúvida é o que realmente pensa Dilma Rousseff. Seus silêncios e suas contradições deixam um vazio no ar.
As duas propostas de oposição foram discutidas no GLOBO nas sabatinas da candidata Marina Silva, do PV, e do candidato José Serra, do PSDB. Elas são diferentes. Serra acha que o país corre risco de desindustrialização. Marina teme o desenvolvimento que não veja a urgência da questão climática. A ausência da candidata Dilma Rousseff é um espantoso desrespeito ao debate democrático.
Em duas horas de conversa com cada um dos candidatos de oposição deu para falar de vários pontos de suas ideias e projetos, mas um fato inevitavelmente dominou a conversa: o escândalo da quebra sequencial de sigilos de contribuintes em geral, e de pessoas ligadas ao candidato José Serra, em particular.
Marina foi até mais direta e assertiva sobre o tema: a sociedade ficou desamparada pelo presidente da República, que, quando vem a público falar do assunto, não defende as vítimas, apenas a sua candidata, disse ela. Pelo fato de ser mulher, Marina tem até mais naturalidade para desmanchar a tese de machismo defendido pelo presidente Lula. De acordo com o tortuoso pensamento, que Lula defendeu em palanque, exigir esclarecimento do assunto é um ataque à mulher. O que o assunto encerra é outro tipo de questão: agressão aos direitos dos cidadãos.
- No primeiro momento foi indignação, e agora o sentimento é de impotência. O secretário, o ministro e o presidente da República esqueceram que temos duas mil pessoas com sigilo violado e ele saiu em defesa de quem não teve o sigilo violado - disse Marina, defendendo em seguida sua tese da "banalização do dolo".
Serra ao falar do assunto elabora menos e fala mais do fato em si que o atingiu diretamente. Repetiu que avisou ao presidente Lula, quando disse a ele que seria candidato, que informações que constavam apenas das declarações de renda da sua filha estavam circulando por blogs ligados ao governo. Rechaçou a tese presente em algumas declarações de autoridades de que se "quebrou de todo mundo" então "não tem importância".
A candidata Dilma Rousseff, se tivesse vindo, poderia ter explicado melhor todo esse nebuloso episódio. De preferência, se saísse do script que tem repetido que é se apresentar como vítima no episódio, quando as vítimas são, obviamente, as pessoas espionadas.
José Serra usou a expressão "envelope fechado" para se referir ao pensamento de Dilma Rousseff. O país não a conhece, na opinião dele, e votar nela é como escolher um envelope fechado. Marina acha que Dilma aposentou o eleitor e só se preocupa com o "anfitrião".
O país, de fato, vive uma anomalia nesta eleição: o mais empenhado dos políticos em campanha não é candidato, está no cargo da Presidência, usa todos os poderes, facilidades e simbologia do cargo para defender uma candidatura. A candidata mais bem posicionada nas pesquisas é pouco conhecida, foge, sempre que pode, de debates, entrevistas e sabatinas. Desta forma, realimenta o problema de ser a interposta pessoa em sua própria candidatura.
Para piorar, Marina passou a maior parte de sua vida política no partido do governo e carrega ainda as marcas dessa ambiguidade de ser e não ser do grupo que controla o governo atualmente; Serra, de oposição, não defende os feitos do seu próprio partido quando estava no poder e ainda usou a foto do presidente Lula em sua campanha. Estão todos amedrontados diante do tamanho da popularidade do presidente e achando que qualquer palavra em falso pode tirar votos.
Marina acha que Dilma e Serra são muito parecidos na visão de mundo, no estilo e na proposta de se oferecerem como gerentes. No que se refere ao assunto que lhe é mais caro, o da sustentabilidade, Marina afirma que os dois representam risco ambiental para o país, a ameaça de um desenvolvimento desatualizado com as exigências do século XXI e a falta de um pensamento estratégico sobre o assunto.
- Por isso me coloquei como candidata, para mostrar que o meio ambiente não é a disputa do verde pelo verde, é uma forma de criar novos negócios, novos materiais, nova base de conhecimento, produzir mais com menos recursos naturais - disse.
Marina acha que nenhum dos dois oponentes entendeu esse mundo novo.
Serra também disse que se apresentou como candidato para preparar o Brasil para o século XXI.
- Hoje, não temos fundamentos sólidos para o desenvolvimento sustentado. Essa eleição vai decidir o que vai acontecer com o país, com a sociedade e a economia neste século. Foi essa percepção que me levou a ser candidato.
Ele acha que o modelo econômico do governo Lula está esgotado. Que ele teve a chance de uma situação extremamente favorável e não aproveitou para criar as bases desse crescimento sustentado.
- No governo anterior, os preços dos produtos de exportação caíram 10%, no governo Lula subiram 110%. É uma situação inédita desde os anos 30. Mas o país está se desindustrializando, está dependendo mais da exportação de matérias-primas e está aumentando o déficit externo.
O "desenvolvimento sustentável", para Marina, significa incluir a variável ambiental e climática dentro de uma estratégia de crescimento. O "desenvolvimento sustentado", para Serra, significa ter uma política de juros mais baixos, câmbio mais valorizado, maior poupança interna, menor déficit em transações correntes.
São dois pontos. A dúvida é o que realmente pensa Dilma Rousseff. Seus silêncios e suas contradições deixam um vazio no ar.
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