São prematuras as notícias da morte da política externa Lula/Amorim. É verdade que, na quinta-feira, o Brasil votou contra o Irã, pela primeira vez em pelo menos oito anos, no caso da designação de um relator especial para investigar violações aos direitos humanos no país persa.
Mas é um acontecimento pontual demais para que se possa enxergar nele uma mudança abrangente e/ ou permanente. Primeiro, porque não estavam em jogo sanções ao Irã.
É até possível que o foguetório em torno de uma mudança profunda se deva ao fato de que causa certa confusão, em um país pouco atento à política externa, jogar na mesma sentença Brasil, Irã e Nações Unidas. O voto do Brasil a favor do Irã foi no Conselho de Segurança, quando se debatia a imposição de sanções por causa do programa nuclear iraniano -sanções afinal aprovadas.
O voto contra o Irã foi no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, no qual se debatia um passo prévio a eventuais sanções, qual seja, a investigação de violações aos direitos humanos.
É claro que a reação do governo iraniano foi furibunda, como só podia ser. Regimes que se creem a encarnação da palavra de Deus não podem tolerar que se duvide do que quer que digam, sobre a bomba ou sobre direitos humanos.
Mas a explicação da embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, a representante do Brasil perante o escritório da ONU em Genebra, é simples e coerente: "Há suspeitas de violações? Há. O país colabora com o Conselho? Não. Então, cabe uma investigação".
Além desses aspectos factuais, há uma lógica para dizer que é no mínimo improvável qualquer mudança de fundo na política externa: Dilma Rousseff é herdeira dela. E recebeu um país com mais relevância internacional do que antes.
Faz sentido mudar só para agradar a oposição, que, convém não esquecer, perdeu a eleição?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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