Oportunismo, teu nome é Congresso. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), propôs ontem um plebiscito sobre o uso de armamentos no país. Se aprovado, o projeto determina a realização de uma consulta popular em outubro deste ano.
A pergunta: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?".
Em 2005, a população já havia sido consultada. A decisão de 64% foi a de não vetar o comércio de armas no país. Não vou entrar aqui no mérito de proibir ou não a venda de armamentos. Prefiro tratar da forma de reação espasmódica dos congressistas em momentos de grande comoção popular.
O massacre da semana passada, que resultou na morte de 12 crianças em uma escola do Rio, foi o ponto de partida para dezenas de ideias serem ressuscitadas no Congresso. O plebiscito emergiu agora, mas há até proposta de instalar obrigatoriamente detectores de metal em todas as escolas do país.
O oportunismo do Congresso desconsidera a realidade. O fato de que proibir o comércio legal de armas no país não impedirá assassinos potenciais de continuar a obter, com certa facilidade, os revólveres usados em seus crimes.
Nenhuma das ideias recentes surgidas no Congresso sinaliza para um modelo de segurança pública visando a inibir o comércio ilegal de revólveres. Esse é o ponto. Até porque o assassino da semana passada no Rio não precisou de porte legal de armas. Comprou um 38 e um 32 no mercado clandestino.
Pode-se argumentar que essas armas foram roubadas de quem as detinha legalmente. Por esse raciocínio, eliminar o comércio faria desaparecer os armamentos. Errado. Há países vizinhos nos quais tudo seguirá aberto e facilitado.
A ideia de fazer o plebiscito apenas encobre uma incapacidade atávica do Congresso: não sabe o que propor para melhorar e tornar mais segura a vida dos brasileiros.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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