Investigação da Polícia Federal mostra que membros da grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, receberam dinheiro de uma empresa que levou R$ 13 milhões da construtora Delta em 2010, ano eleitoral.
A Delta afirma que a empresa se manifestará na "foro judicial adequado". O empresário diz não responder questões pontuais.
PF aponta nova ligação de Cachoeira com construtora
Grupo do empresário sacou de duas empresas com sede na mesma oficina
Para oposição, CPI que será instalada nesta semana deve investigar uso de recursos em campanhas políticas
Leandro Colon, Fernando Mello e Márcio Falcão
BRASÍLIA - Investigações da Polícia Federal mostram que o grupo do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, usou uma segunda empresa para sacar recursos repassados pela construtora Delta, pivô do escândalo.
A PF suspeita que o dinheiro tenha origem em contratos da empreiteira com o setor público e que tenha sido usado pelo grupo de Cachoeira para financiar políticos na campanha eleitoral de 2010.
Essa hipótese pode se tornar um dos focos principais da Comissão Parlamentar de Inquérito criada pelo Congresso para investigar os negócios de Cachoeira, que deverá ser instalada amanhã.
Conforme a Folha informou ontem, o contador de Cachoeira, Geovani Pereira da Silva, sacou R$ 8,5 milhões da conta da Alberto e Pantoja Construções e Transportes Ltda, em Brasília, entre maio e dezembro do ano de 2010. Os recursos haviam sido transferidos pela Delta.
As investigações mostram que Silva sacou dinheiro de uma segunda empresa, a Brava Construções e Terraplanagem, que recebeu R$ 13 milhões da Delta em 2010.
Segundo a PF, as empresas servem como fachada para o grupo de Cachoeira movimentar recursos repassados pela Delta, que tem contratos milionários com o governo federal e vários Estados.
Escutas telefônicas da PF indicam que o grupo de Cachoeira se valeu de sua influência nos governos de Goiás e do Distrito Federal para defender interesses da Delta.
A Brava tem como sede o mesmo endereço da Alberto e Pantoja, um prédio numa cidade-satélite de Brasília onde há uma oficina mecânica. Juntas, as duas receberam R$ 39 milhões da Delta.
Os saques foram feitos pelo contador de Cachoeira, Geovani Pereira da Silva. Foragido, ele é procurado pela polícia desde fevereiro, quando o empresário e membros de seu grupo foram presos.
Silva recebeu pelo menos R$ 30 mil da conta da Brava, em abril de 2010. Ex-cunhado de Cachoeira, Adriano Asprígio ficou com R$ 65 mil da empresa, segundo extratos bancários a que a Folha teve acesso. A PF investiga o destino do resto dos valores repassados à Brava pela Delta.
A assessoria da Delta afirmou ontem que a empresa prefere se manifestar sobre o tema na Justiça. A Folha não localizou representantes das empresas, nem o ex-cunhado de Cachoeira. A defesa do empresário não respondeu questões sobre os repasses.
Segundo a PF, a Brava e a Alfredo e Pantoja foram registradas em nome de "laranjas" e o contador de Cachoeira tinha procuração para movimentar suas contas.
Campanha
Congressistas de partidos de oposição ao governo federal afirmaram ontem que a CPI do caso Cachoeira deverá esclarecer se os negócios do grupo alimentaram contribuições ilegais na campanha eleitoral de 2010.
"É uma movimentação muito suspeita, que precisa de uma análise cuidadosa", disse o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
O líder do PSOL no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), disse que o PT e o PMDB querem "blindar" a Delta. Ele lembra que a construtora era mencionada explicitamente na versão preliminar do pedido de criação da CPI, mas seu nome foi excluído.
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), nega qualquer intenção do governo de proteger a construtora, mas pediu "prudência". "Não vamos ficar condenando de maneira antecipada", disse. "A investigação é que vai definir se teve alguma coisa ou não."
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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