Nada garante que a CPI do Cachoeira venha a empastelar o julgamento do mensalão, ainda que muita gente torça ou trabalhe para que isso aconteça.
É de fato curioso que tenham vazado logo agora grampos coletados anos atrás pela Polícia Federal sobre Demóstenes Torres e outros parlamentares da folha de pagamento do jogo do bicho em Goiás.
Assim como soa estranho que a inapetência investigativa do Congresso seja interrompida por uma CPI governista -tais comissões sempre foram instrumento da oposição.
É digna de nota, também, a voracidade com que a direção do PT convocou a militância a misturar os escândalos (presente e passado) a fim de desqualificar testemunhas e acusadores do esquema de compra de apoio político ao governo Lula.
O inquérito do mensalão, porém, é consistente o bastante para resistir a ataques especulativos. A segunda fase da apuração policial ligou os pontos que faltavam na denúncia original da Procuradoria-Geral. Foi comprovado o desvio de dinheiro público -e não apenas o uso de caixa dois na campanha eleitoral, como alega a narrativa lulopetista.
Cachoeira pode até ter encomendado o vídeo da propina nos Correios em 2005 -episódio que acuou Roberto Jefferson e o levou a relatar o modo de operação do PT à Folha. Mas não foi o bicheiro nem Demóstenes quem drenou R$ 91,9 milhões do Banco do Brasil, forjou empréstimos e contratos para lavar a grana, fez saques na boca do caixa para remunerar aliados e remessas para paraísos fiscais -ações mensaleiras autorizadas e em alguns casos ordenadas pela cúpula petista.
As posses nesta semana de Ayres Britto (STF) e Cármen Lúcia (TSE) representam um golpe para os que apostam na impunidade. As revelações da bem-vinda CPI podem até servir de estímulo para a Justiça agilizar as sentenças de um escândalo que se arrasta há sete anos.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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