O presidente Michel Temer (PMDB) ensaia um rearranjo de seu governo, tanto nas aparências quanto nas prioridades. Embora outra vez reativo, procura definir providências de interesse imediato, criar condições para sua implementação e conter a balbúrdia causada por ministros inábeis.
Parte dessas manobras táticas ficou evidente nos últimos dias. O Planalto relegou para o futuro, talvez ano que vem, o debate sobre mudanças na legislação trabalhista. Divulgada em fatias e sem a devida fundamentação, a reforma tornou ainda mais tenso o ambiente político e deu oportunidade à propagação de boatos pérfidos.
O Executivo passou também a se opor ao reajuste da cúpula do Judiciário. Temer vetou parte dos aumentos dos defensores públicos federais. Embora em julho tenha sancionado o grosso das despesas de reposição salarial do funcionalismo, o presidente agora mudou de posição, dada a péssima repercussão desse gasto adicional.
Após semanas de anúncios contraproducentes ou impróprios de seus ministros, Temer anunciou a centralização da comunicação em um porta-voze, lamentável, mas previsível, a contratação de campanhas de propaganda.
O presidente agora concentra-se no essencial, ou pelo menos declara tal intenção: aprovar no Congresso as duras medidas que devem preparar a recuperação econômica. Dará prioridade ao congelamento das despesas federais e à reforma previdenciária.
Trata-se de decisão correta. O desassossego político, social e econômico, porém, não cede. Como reagirá o governo?
Temer recuara na renegociação da dívida dos Estados. Surge uma nova onda de reivindicações dos governadores, que ameaçam decretar calamidade caso não recebam recursos —um dinheiro de que o Planalto não dispõe.
Não se sabe quanto há de blefe nesse movimento nem quanto tal frente, caso insatisfeita, pode afetar a votação das medidas fundamentais no Congresso. Ainda assim, é preciso demonstrar de modo público e convincente que o país tem outra prioridade no momento.
Cedendo a pressões por aumentos de gastos ou iniciando de modo desastrado debates sobre reformas controversas, o governo federal recebia críticas de partidos aliados e da sociedade e se desviava da tarefa crucial de restabelecer alguma ordem econômica.
O governo de Michel Temer enfim deu a entender que notou os equívocos. Dado seu histórico, ainda que breve, de ceder a pressões e abrir demasiadas frentes de batalha, não é possível julgar se a mudança de rumo vai perdurar —mas não deixa de ser um bom sinal.
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