• Reprodução do gesto de solidariedade entre FH e Lula interrompe radicalização política no país
Gabriel Cariello | O Globo
Muito mais do que um abraço no momento em que o estado de saúde de dona Marisa Letícia era irreversível, o gesto de solidariedade do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi capaz de enviar uma mensagem de combate à polarização política que marca o debate nacional desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff. É o que pensam cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. A imagem que correu as redes sociais provocou manifestações de apoio ao diálogo, inclusive entre os ex-chefes do Executivo.
— É uma mensagem que deve ser assimilada: esse gesto expõe a couraça da população que não tem se deixado sensibilizar pelo valor humano. Percebo uma animalização no que envolve a discussão política. As pessoas parecem ter perdido o senso de alguns valores que devem se sobrepor ao confronto político — afirma Cláudio Gurgel, da Universidade Federal Fluminense.
Nas redes, circulou a imagem do encontro de Lula e FH ao lado de outra foto, de 2008. Na ocasião, os ex-presidentes se abraçaram no velório de Ruth Cardoso, mulher de Fernando Henrique. A visita, daquela vez, era de Lula.
— É um gesto que corresponde à formação deles como políticos. É bom lembrar que o FH esteve no nascedouro do PT, fez campanha em defesa das greves do ABC. Há um histórico que não pode ser comparado ao dos políticos mais recentes, que, de uma forma geral, se expressam de um jeito mais grosseiro. Mostra que há uma diferença entre a geração de Lula e FH e essa de agora — acrescenta Gurgel.
Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lembra da proximidade entre os ex-presidentes na década de 1970.
— Em 1978, Lula fez campanha e ajudou a eleger FH como suplente no Senado, cargo que ele assumiria em 1982. Na Constituinte, eles mantiveram algumas afinidades. A relação só se distanciaria em 1994, quando disputam a Presidência.
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