O Globo
O direito à liberdade de nos expressar
encontra limite exatamente onde começam os direitos dos demais indivíduos
A palavra “comemorar” tem origem na palavra
latina commemorare e, para além do sentido mais usual, que dá a ideia de
celebrar, significa também “trazer à memória, relembrar, recordar”. E mais
ainda, no radical “memorar” aliado ao prefixo “co”, no sentido de “junto”,
nota-se a noção de uma ação coletiva. Então podemos dizer que uma comemoração
enseja a celebração de uma memória coletivamente.
Hoje comemoramos juntos o Bicentenário da
Independência. Gostaria de provocar uma reflexão. Após 200 anos do
reconhecimento do Brasil como
nação soberana e independente, gostaria que refletíssemos sobre o sentido de
sermos uma nação livre.
Ernest Renan, em palestra na conceituada
Universidade Sorbonne, na França, definiu uma nação dizendo que “a nação, como
o indivíduo, é o resultado de um longo processo de esforços, de sacrifícios e
de devotamentos. (…) Ter glórias comuns no passado, uma vontade comum no
presente; ter feito grandes coisas conjuntamente, querer fazer ainda, eis as
condições essenciais para ser um povo”.
Quando falo em união dos brasileiros e brasileiras em prol de um objetivo comum, estou falando desse resgate do verdadeiro sentimento nacionalista. O sentimento de pertencimento a uma nação não nos divide, e sim nos une. Nos une enquanto indivíduos e enquanto comunidade.
O simbólico Grito do Ipiranga representou o
início da nossa história enquanto nação soberana, independente. Ora, o próprio
grito clamou por independência na célebre fala de Dom Pedro I. De uma história
de dominação, passamos ao patamar de igualdade e de respeito em relação às
demais nações soberanas. De uma condição de dependência, ganhamos identidade
própria, forte e relevante. Passamos a decidir, enquanto povo brasileiro, como
governar nosso país de modo autônomo, sem interferência externa.
E, por que razão provoquei o leitor ou
leitora a refletir sobre o sentido da comemoração da liberdade do Brasil
enquanto nação? Ora, como podemos falar em sentimento patriótico se estamos
divididos internamente? Se deixamos de reconhecer nossos irmãos como pessoas
iguais em direitos e perante o Estado? Será que estamos exercendo diariamente o
que é necessário para nos considerarmos uma nação?
Relembro, como não poderia deixar de ser,
os preceitos contidos na Constituição de 1988, conhecida como Constituição
Cidadã, símbolo máximo de nossa redemocratização, gestada com intuito de
fortalecer as instituições nacionais e de, ao mesmo tempo, promover direitos
sociais e liberdades individuais. Seus fundamentos, fortalecidos por meio do
reconhecimento legítimo dos brasileiros aos Poderes constituídos, serviram e
servirão para enfrentarmos hipotéticos retrocessos antidemocráticos e eventuais
ataques ao Estado de Direito e à democracia. Instituições nacionais respaldadas
têm condições plenas de desenvolver suas atividades em prol de todos os
cidadãos, com a união dos homens públicos e da sociedade brasileira.
Destaco que daqui a menos de um mês os
brasileiros vão às urnas praticar o exercício cívico de votar em seus
representantes. Lembrar nossa história é elemento essencial para que possamos
resgatar um sentimento de nação formada por irmãos de pátria. O direito de voto
não pode ser exercido com desrespeito, em meio ao discurso de ódio, com
intolerância em face dos desiguais.
Assim, nossa liberdade tem limite no direito
do outro. O direito à liberdade de nos expressar encontra limite exatamente
onde começam os direitos dos demais indivíduos. Pontos de vista diversos sempre
teremos. Isso é natural da democracia, é natural no pluralismo. Porém
reconhecer que a nação pertence a todos os brasileiros e que todos, sem
exceção, possuem direitos iguais aos nossos e merecem respeito, esse é nosso
desafio para o presente e para o futuro do Brasil enquanto nação.
*Rodrigo Pacheco é presidente do Senado
Federal e do Congresso Nacional
2 comentários:
Senhor senador Rodrigo Pacheco, com a sua covardia você está impedindo que a única forma de controle e punição aos desmandos e atos inconstitucionais dos ministros do Supremo Tribunal Federal, venha a ser executado , De forma vergonhosa você se omite do seu papel de Presidente se nega a colocar os vários pedidos de impeachment dos ministros do Supremo transgressores das leis , para votação no plenário do senado, por pura covardia e ao mesmo tempo revela interesse financeiro, já que vários processos Bilionários de seu escritório de advocacia, estão para ser julgados pelo STF
Além de covarde é mesquinho e mercenario
Só tem tamanho e pose , você é um político medíocre , será esquecido pela história e quando lembrado será como Traidor da Pátria
Ótimo artigo.
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