sábado, 29 de outubro de 2022

Bruno Carazza* - Desempenho dos candidatos

Valor Econômico

Sem bala de prata, nem arma secreta. O último confronto frente a frente entre Lula e Bolsonaro não teve declarações ou revelações bombásticas, mas deixou claro que a eleição de domingo não está definida.

Não se sabe se por excesso de confiança em função dos resultados das pesquisas ou pelo cansaço de quem chega ao fim de uma dura campanha aos 77 anos de idade, Lula não esteve bem neste que pode ser o último debate presidencial de sua vida – independentemente de vencer ou não a eleição no próximo domingo.

Para piorar sua situação, Jair Bolsonaro se mostrou muito mais bem preparado do que nos debates anteriores.

O formato mais livre dos debates do segundo turno – inaugurado na Band e repetido na Globo – favoreceu Bolsonaro. Sem a rigidez de perguntas pré-estabelecidas, Bolsonaro foi bem mais eficaz em controlar a temática e em fugir das armadilhas armadas pelo adversário.

No primeiro bloco, quando a audiência estava em seus níveis máximos, Bolsonaro levou Lula às cordas explorando o tema da corrupção e questionando as escolhas do petista quando presidente – uma forma inteligente de escapar da torrente de números positivos que Lula costuma utilizar como arma nos debates.

Criado e curtido em disputas, comícios e negociações ao longo de toda a sua longa carreira política, Lula cometeu erros infantis, como colocar gratuitamente na roda o tema do aborto, com o qual tem uma relação muito controversa e que é um de seus pontos fracos junto ao público religioso. Bolsonaro não deixou passar barato.

Bolsonaro também explorou pontos de documentos da campanha de Lula para atacar em duas frentes relevantes para potenciais eleitores que a esta altura do campeonato ainda estejam indecisos. De um lado, elencou propostas do PT para a segurança pública. De outro, levantou pontos sensíveis de ajuste fiscal, forçando Lula a se indispor com Geraldo Alckmin, seu vice e fiador no plano econômico.

Lula repetiu a estratégia de tentar emparedar Bolsonaro na questão da gestão da pandemia; porém, ao contrário do ocorrido no debate da Band, o atual presidente conseguiu mudar de assunto com maior rapidez.

Quanto ao tema mais quente da semana – o episódio Roberto Jefferson – Bolsonaro por duas vezes rebateu a acusação de Lula quanto à sua relação íntima com o cacique do PTB contra-atacando ao relembrar o episódio do mensalão.

Todos sabemos a relação complicada que Jair Bolsonaro tem com fatos, dados e números. Cultivando uma habilidade de se comunicar em lives semanais, transmissões nas redes sociais e entrevistas nos canais de seus apoiadores, Bolsonaro chegou ao último ato da sua campanha muito à vontade.

Diante de um Lula cansado e pouco inspirado, Bolsonaro mostra que não é carta fora do baralho na eleição de domingo.

*Bruno Carazza é colunista do Valor

 

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