terça-feira, 18 de julho de 2023

Luiz Carlos Azedo - Rumos na economia opõem Haddad e Campos Neto

Correio Braziliense

Ministro da Fazenda conquistou a confiança do mercado, tem mais prestígio do que o presidente do Banco Central, que será carbonizado se não baixar a taxa de juros, em 13,75%

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar a taxa de juros praticada pelo Banco Central, que está em 13,75%. A queda de 2% na atividade econômica em maio, medida pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, confirmou as previsões da equipe econômica e tende a politizar a discussão.

A queda do PIB já promove nova fricção entre o governo e o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “Prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), o índice indica a evolução da economia brasileira, mês a mês. O debate sobre a taxa de juros será a “flor do recesso” do Congresso, porque o Comitê de Política Monetária do BC, composto pelo presidente e pela diretoria da instituição, somente se reunirá em agosto.

Para reduzir a inflação ao centro da meta, com amplo apoio do mercado, neste semestre, Campos Neto manteve o arrocho no crédito, mas o remédio virou veneno. O PIB cresceu 2,9% em relação a 2021. Seria muito maior sem o crescimento negativo trimestre. Há expectativa de que os juros sejam reduzidos, em razão da ata da última reunião do Copom.

A posse de dois novos diretores do BC, o funcionário de carreira Aílton Aquino e o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, levará o debate para dentro do banco. Haddad e Campos agora estão em rota de colisão, embora mantenham uma relacionamento politicamente elegante.

Ninguém se surpreenda, também, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve chutar o balde ao voltar de Bruxelas. A queda na produção de 2%, considerada muito alta, estava escrita nas estrelas. A Selic — a taxa de juros básica que norteia toda economia — começou 2022 num patamar razoável, mas ao longo dos meses foi subindo e chegou ao ápice depois das eleições, apesar das críticas de Lula. O BC é independente, o governo não pode interferir na política monetária, mas ela precisa estar alinhada à política econômica e fiscal para o país dar certo.

O fato é que Haddad fez o dever de casa. Articulou a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária na Câmara. Em agosto, o Senado também fará sua parte. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ex-senadora pelo MDB, assumiu a liderança das negociações com os ex-colegas.

O BC impõe uma taxa alta de juros quando teme que possa haver inflação, mas acontece que os reajustes estão se dando pela inflação passada e não a futura, ou seja, tende a cair mais. O que pode pôr tudo a perder é não afrouxar a política monetária.

O impacto negativo no programa Desenrola, lançado ontem, para beneficiar até 35 milhões de inadimplentes neste ano, por exemplo, será inevitável, se não houver redução forte da Selic.

Campos Neto é um economista liberal ortodoxo, ligado ao ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes, que segue o receituário de que a recessão é o melhor remédio para controlar a inflação. Defende a elevação dos juros para reduzir o consumo, porque assim as pessoas evitam fazer empréstimos. Isso inibe o consumo e, com menor procura por bens, os preços tendem a cair, com a consequente redução do crescimento econômico.

Acontece que os investimentos se retraem e os produtores passam aplicar os recursos nos títulos do governo, trocando a produção de bens pelo ganho financeiro imediato. Vira um círculo vicioso.

Fogueira acesa

Essa doutrina vem sendo questionada desde 2008, quando houve a crise financeira mundial. Muitos países têm inflação maior do que a do Brasil e praticam taxas de juros menores. O argumento do BC para isso é o deficit público, ou seja, que o governo arrecada menos do que gasta. Em em 2022, o deficit nominal foi de 4,7% do PIB: um rombo R$ 460 bilhões.

Mas o grande vilão são juros dos títulos públicos, que chegam a custar R$ 594 bilhões para o governo. Se os juros caírem, o deficit também diminui. Para se ter uma ideia do que isso significa, o programa Bolsa Família custará R$ 151 bilhões em 2023, para atender 84 milhões de brasileiros em condições de vulnerabilidade — ou seja, quase 40% da população.

Em compensação, mantidos a atual taxa de juros e o nível de endividamento do país, o custo dos títulos chegará a R$ 700 bilhões. Apenas 5% dos brasileiros, que têm alguma aplicação financeira, são beneficiados.

O desalinhamento entre a política econômica e a política monetária reacenderá a fritura de Campos Neto, o segundo homem mais importante na economia brasileira. Houve um inversão de situação: por seu desempenho à frente da Fazenda, Haddad conquistou a confiança do mercado, hoje tem mais prestígio do que o do presidente do BC. Se não baixar os juros, Campos Neto será carbonizado pelos políticos. Embora não possa ser demitido por Lula, pode ser afastado pelo Senado.

 

6 comentários:

EdsonLuiz disse...

■O jornalista Luiz Carlos Azedo, no artigo "Rumos da economia opõem Haddad e Campos Neto", escreveu::
▪"... A Selic — a taxa de juros básica que norteia toda economia — começou 2022 num patamar razoável, mas ao longo dos meses foi subindo e chegou ao ápice depois das eleições, apesar das críticas de Lula. O BC é independente, o governo não pode interferir na política monetária, mas ela precisa estar alinhada à política econômica e fiscal para o país dar certo. "

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Luiz Carlos Azedo, autor do artigo acima, é um estupendo jornalista; um dos melhores do país, para mim. Mas Azedo, que nada tem de azedo, por sinal, e tem um texto leve, claro e é bem culto, errou pesadamente no que escreveu neste fragmento que destaquei do seu artigo.

■A SELIC não subiu NADA depois das eleições, como escreveu Luiz Carlos Azedo!

A Inflação estava em 1,75% em fevereiro/2021 ; e a SELIC estava em 2%.

Bolsonaro, em fevereiro de 2021, começou a acelerar gastos com objetivos eleitorais, gastos estes que caracterizaram gastança mesmo! O Banco Central, sob a presidência de Roberto Campos Neto, em março/2021 começou a subir os juros por causa da gastança de Bolsonaro. Quanto mais Bolsonaro acelerava a gastança, mais Roberto Campos Neto subia os juros para esterilizar o dinheiro que Bolsonaro entornava na economia. Com a subida dos juros Roberto Campos buscava mitigar um pouco as consequências nefastas da gastança de Bolsonaro sobre a inflação.

Ao final deste embate, os estudos mostraram que a SELIC necessária para fazer os juros convergirem para a meta se aplicado o ano-calendário fiscal, que era o utilizado pelo Banco Central, teria que ter 26% de taxa. Como aplicar juros de 26% arrebentaria de vez a economia brasileira, Roberto Campos Neto, sendo o profissional de economia sério, responsável, bem preparado e competente que é, dosou a taxa de juros em um ponto mais baixo que os 26% necessários, colocando a SELIC nos 13,75% atuais, e passou a perseguir o atingimento da meta de inflação em um período contínuo e mais longo no lugar de aplicar o ano-calendário para atingir a meta.

■Bolsonaro fez gastança com objetivos eleitorais todos os meses a partir de fevereiro/2021 até junho/2022 ; Roberto Campos Neto subiu sempre, durante este periodo, a taxa de juros.

A última vez que a SELIC subiu foi em agosto de 2022, para mitigar as consequências danosas da última de uma série de gastanças eleitorais feitas por Bolsonaro.

EdsonLuiz disse...

Depois de agosto de 2022 a SELIC não mudou mais e está parada desde lá em 13,75%, com o Banco Central aguardando medidas do governo federal, que é o responsável por aplicar uma politica fiscal que favoreça a que a inflação fique dentro da meta. Enquanto essa política fiscal não fica bem definida e implementada e comece a apresentar resultados que mostrem que está dando resultados e vencendo a resiliência que a inflação passou a ter no Brasil com os erros cometidos na nossa economia a partir de 2006/2007 em diante, temos contado quase que tão somente com a taxa de juros alta para evitar que a inflação saia totalmente de controle e vire uma tragédia completa.

■Não houvesse Roberto Campos Neto subido a taxa de juros e a gastança de Bolsonaro teria garantido sua reeleição, a julgar pela diferença pequeníssima de votos entre Lula e Bolsonaro no 2° turno das eleições de 2022.

▪Nos programas estocásticos que Bancos Centrais utilizam para decidir a taxa básica de juros que aplicam, dados estatísticos, informações de mercado financeiro, estudos ultracomplexos e muitíssimo especializados são alimentados e processados nesses programas para que, a partir da interpretação do que os programas mostrarem, ser tomada a decisão sobre qual a taxa de juros básica a ser adotada. E são, de fato, estes programas que decidem a taxa de juros básicos necessários para forçar a inflação a se aproximar da meta estabelecida. Se uma decisão tão séria e melindrosa dependesse de vontades e crenças de pessoas, isso resultaria em uma discussão precária, amadora e metafisica, com uns dizendo:: "eu acho que devia ser mais para lá!" ; e outros dizendo:: "para mim, é um pouco mais para cá!".

O resultado do amadorismo negacionista de boicotar a aplicação do conhecimento estabelecido e substituí-lo pela aplicação de vontades e crenças nós vimos em anos recentes, quando a recessão econômica gigante fermentada por erros cumulativos a partir de 2006/2007 até 2011/2012 resultaram em muito desemprego, desinvestimento, queda de receita de impostos e outras péssimas consequências que vêm quando é negado o conhecimento acumulado, aprendido e aplicado por profissionais sérios como Henrique Meireles, Armínio Fraga, Ilan Goldgajn e Roberto Campos Neto e agentes políticos, baseado em crenças e vontades, tentam fazer experiências com enfermo tão debilitado como é o Brasil nessa questão da economia e suas externalidades..

Naquele acúmulo de desacertos que resultaram na maior recessão econômica de nossa história e no drama econômico dos últimos anos e que nós ainda estamos vivenciando, um dos principais erros foi exatamente baixar os juros sem ter as condições para baixá-los, como mostravam os estudos. Mas naquele tempo o PT insistiu em fazer a experiência de baixar os juros fora dos fundamentos exigidos e essa experiência resultou no drama social e econômico que sabemos. Agora o PT e Lula querem repetir aquele erro, pelo bom resultado imediato que aparece quando se derruba juros e aumenta gastos, e as consequências que vêm depois quando isso é feito de forma artificial e baseado em vontades são muito dolorosas para todo o país e principalmente para os mais pobres.

EdsonLuiz disse...

Alguns governantes, os de viés populista, por uma série de motivos oportunistas desejam trabalhar com inflação um pouco mais alta, principalmente por dois motivos::
i)Com inflação mais alta a carestia faz aumentar o preço dos bens e serviços, que é a base em que incidem os impostos.
▪Se o preço de um produto é R$100,00 e tem carga tributária de 20%, sobre a venda dele o governo arrecada R$20,00 ; com inflação de 10% o preço passa a ser R$110,00 e o imposto arrecadado pelo governo com a mesma alíquota de 20% passa a ser R$22,00.

Com inflação maior, é elevada artificialmente tanto a arrecadação de receita como também é elevado artificialmente o PIB. Mas a elevação é apenas nominal, não é real.

Esse aumento nominal de receita e de PIB facilita muito a execução do Orçamento, embora seja uma facilidade enganosa.

Quando tem ganhos inflacionários de receita, o país passa a impressão de que está ficando rico e o governo passa a impressão de que é mágico, mas as consequências danosas dessa ilusão aparecem depois e nós vimos e ainda estamos vendo muito bem, a partir de 2012 para cá, o mal que causam estas consequências.

■Com o estabelecimento de meta de inflação mais alta, como Lula e o PT queriam e foi difícil para Roberto Campos demover mais essa ideia oportunista de Lula, acontece a mesma coisa:: ▪Com meta de Inflação mais alta, fica muito mais fácil o governo conseguir ter a inflação dentro da meta no curto prazo. Porém, como metas de inflação mais altas são bem danosas para a economia em prazo mais longo, do mesmo modo que acontece quando o país tem PIB mais alto pela artificialidade de ganhos inflacionários, as más consequências de também artificialmente definir metas de inflação mais altas vêm depois, porque fica mais difícil trazer a inflação para uma taxa menor.

■Cada 1% a mais de inflação significa a perda de R$10,00 por mês no poder aquisitivo de quem tem renda de R$1.000,00 por dia.

O brasileiro com emprego formal e carteira assinada recebe em média R$2.300,00 por mês e a renda média familiar no Brasil é de R$1.600,00. Se excluir o funcionalismo público, que na média tem salário bem maior que os brasileiros em geral, a renda média dos brasileiros não chega a R$1.300,00.

Mas se delimitarmos apenas entre os salários e rendas dos 70% mais pobres de nossa população, a renda média pouco passará de R$1.000,00, se passar. Essa pequena renda é consumida quase que praticamente com comida por aqueles que a recebem.
▪Cada 1% de inflação significa vários quilos de comida a menos para o brasileiro pobre, que é quase do que é feito o Brasil

(Estou quase chorando e não sei se vou conseguir continuar a escrever. Mais ainda pela raiva que venho acumulando com Lula, com Bolsonaro, com o lulismo, com o bolsonarismo, e com jornalistas covardes que não esclarecem e não denunciam a realidade, alguns deles maravilhosos exemplos de outrora e que agora estão sendo, na minha opinião, tão covardes)

■Se a inflação está dando algum sinal de que vai ceder, é mais porque a taxa de juros mantida alta está começando a fazer algum efeito. Isso é mérito quase tão somente de Roberto Campos Neto e dos atuais membros do COPON do Banco Central, que não contaminaram politicamente suas decisões durante o governo Bolsonaro e subiram a SELIC para anular as consequências dos gastos eleitorais, embora tenham sido indicados por aquele governo, e agora estão resistindo às pressões populistas e amadoras de Lula e não bahxando a SELIC antes de Lula começar a aplicar uma política fiscal digna desse nome.

Afrouxar agora a SELIC, depois de atravessar até aqui com a taxa de juros no ponto em que está desde ANTES das eleições para conseguir conter a inflação, é arriscar colocar a perder todo o sacrifício que foi feito até agora para conter a inflação.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.

hisayo nanami disse...

O QUE TEM DE PASSAPANISTAS, ROBERTOCAMPISTAS E PAULOGUEDISTAS ENRUSTIDOS PELAS AÍS NÃO TÁ NO GIBI...

EdsonLuiz disse...

É um imenso engano confundir o Roberto Campos que horrorosamente colocava a camisa verde e amarela e comparecia aos comícios do miliciano Bolsonaro e o Roberto Campos profissional de economia íntegro, competente, preparado e sério. Um imenso engano!

As medidas de Roberto Campos junto ao Banco Central para esterilizar a gastança eleitoral de Bolsonaro, mitigar as consequências dessas gastanças e buscar manter a economia o mais saudável possível enquanto aguarda alguém que a conserte é um certificado dessa integridade, competência, bom preparo e seriedade profissional.

Temos que deixar de ser doidos e gado e avaliar as pessoas, os processos e a realidade com a razão e usando os dados e os fatos. Isto:: sermos sérios e isentos na análise, é que não faz de nós idiotas que passam pano para Lula ou para Bolsonaro.

Alguém trabalhar em um governo de Lula não faz dele um corrupto e incompetente que destrói a economia como o governo Lula2 destruiu ; do mesmo modo, alguém trabalhar em um governo Bolsonaro não faz dele um miliciano e incompetente que agrava os problemas da economia, como Bolsonaro agravou o que o PT já havia detonado.

Todos os que criticam profissionais sérios como Roberto Campos, eu percebo, abusam da expressão "passar pano". Isto é bem engraçado --e bem ridículo-- porque eles usam a expressão "passar pano" para atingir alguém que os incomoda exatamente por criticar aqueles para os quais, eles sim, passam pano todo dia.