O Globo
Em 15 de julho de 2019, o Congresso viveu um
dia de quartel. Militares de verde-oliva ocuparam os lugares dos deputados no
plenário da Câmara. Foram escalados para assistir a uma sessão solene em
homenagem ao Comando de Operações Especiais do Exército.
O então presidente Jair Bolsonaro participou
da cerimônia. “O Brasil precisa de uma quimioterapia para que não pereça.
Alguns poucos, pouquíssimos, ainda reagem. Mas serão convencidos pelo povo”,
discursou. Ele exaltou os “ensinamentos da caserna” e se definiu como
“terrivelmente patriota”. “Eu deixei o Exército em 1988, mas o Exército não me
deixou”, disse.
O capitão estava enfezado com a imprensa, que reagia à sua intenção de nomear o filho Zero Três como embaixador nos EUA. “Um filho meu, tão criticado pela mídia... se está sendo criticado, é sinal que é a pessoa adequada”, esbravejou.
Depois de cumprimentar ministros e ex-colegas
de farda, Bolsonaro apontou um militar que não conhecia. “É da brigada PQD?”,
perguntou. Fora do microfone, o oficial explicou que comandava as Operações
Especiais. Era o general Mario Fernandes, que ficaria famoso na última terça ao
ser preso pela Polícia Federal.
O “kid preto” passou à reserva em 2020.
Trocou o 1º Batalhão de Ações de Comandos pelo Palácio do Planalto. Virou o
número dois da Secretaria-Geral da Presidência. Em pouco tempo, o general que
Bolsonaro não conhecia se tornou seu homem de confiança. Mais tarde, ele se
envolveria até o pescoço na tentativa de golpe.
O inquérito da PF descreve o general como um
dos integrantes mais radicais da organização criminosa que tentou solapar a
democracia brasileira. Ele é apontado como autor de um “detalhado planejamento
operacional” para matar o presidente eleito, o vice e o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral. Os assassinatos abririam caminho para o grupo do capitão se
perpetuar no poder.
Fernandes imprimiu o plano em seu gabinete no
Planalto. Em seguida, levou o documento ao Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro
ficou entrincheirado após a derrota nas urnas.
Depois de matar os vencedores da eleição, os
golpistas criariam um Gabinete Institucional de Gestão de Crise. Na hierarquia
do órgão, Fernandes só ficaria abaixo dos generais Augusto Heleno e Braga
Netto. Curiosamente, o nome de Bolsonaro não aparece no organograma.
As mensagens apreendidas pela PF mostram que
o “kid preto” tinha pressa. “O senhor tem que dar uma forçada de barra com o
Alto Comando”, escreveu ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da
Secretaria-Geral, em 4 de novembro de 2022. “Não dá mais pra gente aguentar
esta porra, tá foda. Tá foda”, reforçou.
Quatro dias depois, ele contou ao coronel
Marcelo Câmara que estava pressionando o comandante do Exército, general Freire
Gomes, para aderir ao golpe. “Eu tô aloprando por aqui”, disse. “Qualquer
solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né?”.
A omelete do general Fernandes previa o uso
de armas de guerra, como fuzis, metralhadoras e lançadores de granadas.
Desviadas do arsenal do Exército, as munições seriam capazes de perfurar
veículos blindados e estruturas fortificadas.
Um comentário:
Cruz Credo!
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