O Estado de S. Paulo
Enquanto a sociedade não pressionar suas instituições a se unirem por um maior crescimento econômico, ele não vai acontecer
O pacote fiscal federal vem sendo muito comentado desde que saiu, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2024 saiu antes de ontem. Começando pelo primeiro, como a maioria dos analistas, também me surpreendi ao ver as várias medidas voltadas para as despesas orçamentárias acompanhadas da notícia da zeragem do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês. Mas, pensando bem, do presidente Lula da Silva só se pode esperar esse tipo de coisa, pois seu foco é atrair votos para sua reeleição em 2026. Na linha do “gasto é vida” deve ter sido muito difícil convencê-lo a assinar o restante do pacote, e foi necessária essa proposta populista compensadora que equivale a um gasto tributário, ao implicar em perda de arrecadação. E ela não será avaliada agora pelo Congresso. Ficou para o ano que vem.
A Folha de S.Paulo da última sexta-feira
listou 13 medidas de corte de gastos e entre as mais conhecidas estão um limite
para o efeito do salário mínimo nas contas da Previdência Social, algum
bloqueio das emendas parlamentares, uma redução do abono salarial e do
Benefício de Prestação Continuada, e um aperto nas regras do sistema de
proteção aos militares. O jornal falou de uma economia de R$ 30,6 bilhões em
2025. Li em algum lugar que o governo falou em R$ 70 bilhões, mas uma avaliação
mais precisa só poderá acontecer após a passagem do pacote pelo Congresso, que
enseja muitas discussões de detalhes. Na discussão houve muitas informações
desencontradas e medidas não detalhadas.
Quanto a essa passagem, o Executivo está
contando com o apoio dos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e
Rodrigo Pacheco, respectivamente, e até parece que foi tudo combinado
anteriormente. Algo que creio que pesou é que ambos não são candidatos à
reeleição no Congresso, mas sim a cargos em eleições nos seus Estados de origem
em 2026, e querem sair bem comportados na questão fiscal. Aguardemos, pois, a
passagem do pacote pelo Congresso para uma avaliação mais precisa do que for
aprovado.
Quanto ao Produto Interno Bruto do terceiro
trimestre, ele veio à taxa de 0,9% relativamente ao trimestre anterior, o que é
uma taxa boa, mas a taxa do segundo trimestre foi de 1,4%, o que mostra
desaceleração, e está em linha com a perspectiva do mercado que, por meio do
Boletim Focus, além de prever uma taxa próxima de 3% em 2024, vê uma queda para
perto de 2% em 2025. Mas não seria uma surpresa se, como em anos recentes, essa
previsão se ampliasse ao longo do tempo.
Minha visão, contudo, suporta essa queda,
pois venho insistindo que desde 1980 o PIB brasileiro reduziu bastante sua taxa
de crescimento, crescendo menos que nas décadas anteriores. Quando mostra
alguma reação, chegando aos 3%, logo volta para taxas mais próximas de 2%,
situado que está na chamada armadilha da (baixa) renda média que marca seu
desempenho, inferior até mesmo ao de outros países em desenvolvimento. Em
outras palavras, está ficando para trás.
Alguns fatores subjacentes a essa situação
são os seguintes. Primeiro, o discurso em prol de taxas maiores e sustentáveis,
de 4% a 5%, é raro e não parece atrair o interesse da sociedade que
transformasse o tema numa demanda política. Segundo, a classe política também
não demonstra apego ao tema, com os membros do Congresso ocupando-se mais com o
interesse pessoal e de grupos, num processo em que se destacam as emendas
parlamentares. O Executivo se assenta no populismo do presidente Lula, conforme
demonstrado recentemente com esse pacote de “ajuste fiscal” em que acomodou sua
promessa de zerar o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Terceiro, esse comportamento do governo em que tanto o Executivo como o
Congresso mostraram sua preferência por mais gastos sociais reduziu a proporção
do PIB destinada a investimentos, e acredito que esse comportamento também
envolveu Estados e municípios.
Como resultado, a porcentagem do PIB
destinada a investimentos públicos, que antes de 1980 chegou perto de 10%, está
hoje próxima de apenas 2%, uma queda enorme que se refletiu na taxa de
crescimento da economia, pois esta depende muito do investimento em capacidade
produtiva.
Lembro novamente que a premiação recente do
Nobel de Economia foi para três economistas americanos, Daron Acemoglu, Simon
Johnson e James Robinson, que mostraram a importância das instituições na
promoção do desenvolvimento econômico. Instituições no sentido lato, que
incluem a própria sociedade, suas lideranças e partidos políticos. Dentro desse
conceito, incluem no Brasil o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Nos dois
últimos casos, é clara a má influência que exercem em prol de um crescimento mais
rápido, sustentável e socialmente inclusivo.
Em conclusão, reitero que, enquanto a
sociedade não se mobilizar e pressionar suas instituições a se unirem por um
maior e melhor crescimento econômico, ele não vai acontecer.
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