quarta-feira, 16 de abril de 2025

A conexão El Salvador - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em campanha para o governo do Rio, Eduardo Paes prepara um novo factoide. Quer ir a El Salvador conhecer a política de segurança de Nayib Bukele.

No poder desde 2019, o presidente salvadorenho é um populista de extrema direita que investe na imagem de xerife. A pretexto de combater o crime, transformou seu pequeno país num Estado policial. A receita inclui prisões arbitrárias, encarceramento em massa e restrição aos direitos civis.

Antes de completar um ano no cargo, Bukele invadiu o Congresso com soldados do Exército. Inconformado com o resultado de uma votação, chamou os parlamentares de “sem-vergonhas que não querem trabalhar para o povo”.

Para governar sem freios legais, ele também investiu contra o Ministério Público e o Judiciário. Numa só tacada, destituiu o procurador-geral da República e cinco juízes da Suprema Corte. Em sinal de gratidão, o tribunal o autorizou a disputar outro mandato, apesar de a Constituição salvadorenha proibir a reeleição. O autocrata venceu no primeiro turno com 84% dos votos.

A repressão às gangues é a chave da popularidade de Bukele, que já se descreveu como “o ditador mais legal do mundo”. Seus maiores trunfos são a redução da taxa de homicídios e a construção de um megapresídio para 40 mil detentos. Na segunda-feira, ele foi à Casa Branca, ganhou elogios de Donald Trump e disse governar “o país mais seguro do Hemisfério Ocidental”.

Para a Anistia Internacional, a propaganda do salvadorenho esconde um “padrão sistemático e generalizado de abuso”, que resultou em “milhares de detenções arbitrárias, na adoção de uma política de tortura e em centenas de mortes sob custódia estatal”.

A ideia de Paes já foi testada por aqui. Em 2024, Pablo Marçal voou para El Salvador na reta final da campanha paulistana. O coach gravou vídeo em frente ao palácio presidencial, mas não conseguiu a selfie com Bukele nem a vaga no segundo turno.

O prefeito do Rio não precisa ir tão longe para ouvir uma apologia ao bangue-bangue. Basta passar no Grajaú, onde vive um ex-juiz que prometia acabar com o crime à base do “tiro na cabecinha”. Paes deve se lembrar do personagem. Foi derrotado por ele na última tentativa de virar governador.

 

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