Por Thiago Prado / O Globo
O homem responsável pela imagem do
presidente Lula e
do seu governo é o décimo entrevistado da série da newsletter com os
mais importantes estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa do
Brasil. O baiano Sidônio Palmeira foi o marqueteiro da campanha
presidencial do petista, em 2022, contra Jair Bolsonaro, e, desde janeiro,
comanda a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República.
Sua chegada ao cargo ocorreu simultaneamente
à divulgação de dados de pesquisas que mostraram a queda da aprovação popular
do presidente. Sidônio é das figuras mais relevantes do Palácio do Planalto
atualmente. Quase todo dia a agenda presidencial exibe um despacho matinal
do ministro com Lula.
Na conversa que você, leitor, vai ler a
seguir, o marqueteiro fala dos motivos que levaram o governo a ter piora nos
índices de aprovação, detalha as iniciativas que podem fazer Lula virar o jogo
da popularidade e responde a críticas dos colegas de profissão ouvidos por
“Jogo Político” desde janeiro.
Abaixo os principais trechos do bate papo com o ministro.
Foram muitas e variadas as razões apontadas
pelos meus entrevistados para a queda da popularidade do presidente desde o fim
do ano passado. Qual a sua explicação para o que aconteceu?
Acho que há duas questões estruturais e
outras mais agudas de dezembro para cá. Primeiro, considero que hoje em dia há uma nova forma de
comunicação com o advento das redes sociais, que traz aspectos positivos, mas
também outros problemas como consequência. A extrema direita avança em vários
países como Argentina, Estados Unidos, Polônia, Hungria, Itália etc.
Há pessoas tatuando suástica com a maior naturalidade pelo mundo, e, enquanto
isso, uma outra anomalia acontece: ódio e fake news estão engajando
muito nas redes e dando dinheiro.
Reclamar que a direita só engaja porque
espalha mentiras na internet não é uma espécie de 'mimimi' da esquerda, que
também reproduz fake news no embate público?
Fake news é errado e tem que ser
condenada independentemente de que lado esteja. Agora, um fato é que eles, da
direita, são mais atuantes nas redes, e eu acredito que temos que fazer
comunicação trabalhando com a verdade apenas. Até porque a verdade pode conquistar
pessoas, basta ter criatividade. O segundo ponto que queria abordar é que, no
Brasil, quando o governo assumiu, faltou comunicar qual herança encontrou. Como
estava a educação? E a saúde? De que maneira enfrentamos a pandemia de um jeito
caótico? Estivemos diante de um país destruído, com muitos programas
encerrados. Havíamos retornado para o Mapa da Fome. Tudo na vida é uma
questão de referência. Se você tem um copo que está pela metade, mas não diz
que ele estava vazio antes, a metade vai ser considerada pouco.
E por que essa comunicação não foi feita?
Informação na ponta não depende apenas de
comunicação, mas também da política. E aí tem uma questão que é muito
importante ligada a três conceitos: expectativa, gestão e percepção. O ideal é
que essas três coisas estejam alinhadas. A expectativa com relação ao
presidente é alta até pelos governos anteriores que ele fez, especialmente o
segundo mandato, entre 2007 e 2010, em que Lula saiu com mais de 80% de
aprovação. A gestão também já tem entregas, o governo fez muita coisa nesses
dois anos. Voltamos a ser a décima economia do mundo. Foram tiradas 24 milhões
de pessoas da Fome, quase um estádio de futebol por dia. O Mais Médicos dobrou,
o Pé de Meia é um programa que atinge milhões de jovens e tem uma porta de
saída, não sendo apenas uma política pública inerte. Ainda falta a informação
de tudo isso chegar na ponta para a percepção das pessoas mudar.
Em uma rápida fala com jornalistas no início
do mês, o senhor disse que "todos os ministros têm responsabilidade na
queda de popularidade do presidente" e ficou parecendo um puxão de orelhas
na equipe...
Não foi puxão de orelhas, mas em um governo todo mundo tem
responsabilidade, sim. Não acho que tenhamos que nos guiar pela popularidade,
mas sim pela obrigação de informar bem para a população os serviços que estão
sendo entregues. Popularidade será consequência.
Felipe Nunes, da Quaest, tem escrito sobre a
tese do fim da gratidão do eleitor na relação com o estado e que programas como
o Bolsa-Família seriam considerados mais do que obrigação dos governos...
Fim da gratidão? Olha, as pessoas querem
saber quais são as entregas de um governo, o que está sendo feito, mesmo sendo
a partir de retomadas de programas. Por exemplo, no caso do Bolsa-Família, que
você citou. Foram 4,7 milhões de pessoas durante esse período do presidente
Lula que deixaram o programa para conseguir um emprego. Isso mostra que o
Bolsa-Família é um instrumento para tirar as pessoas da linha de pobreza. O
Minha Casa, Minha Vida, agora vai atingir a classe média. O Farmácia Popular está com 100% dos remédios gratuitos com
fralda geriátrica.Tudo isso é importante para o povo.
E quais foram os aspectos agudos de dezembro
para cá que impactaram a popularidade do presidente que o senhor citou no
início da entrevista?
A ausência do presidente devido ao acidente
que teve, o aumento do dólar, a inflação de alimentos e a fake news do
Pix. A conjunção desses fatores prejudicou.
No caso do Pix, recuar da medida não acabou
dando razão aos argumentos da oposição?
Qualquer medida que envolva milhões de pessoas tem que ser bem
comunicada para que a informação correta ocupe o espaço. Esta é a melhor forma
de combater as fake news. Neste caso, a medida, que era positiva, não foi
devidamente informada, e a mentira tomou conta. Ficou difícil correr atrás.
Fazer o quê? Não teve jeito.
A língua do presidente, capaz de frases
machistas como chamar de "mulherzinha" a diretora-geral do Fundo
Monetário Internacional, também não acaba sendo um fator para a queda da
popularidade?
Todo mundo que se comunica está sujeito a
algumas situações. Ele não pode perder a naturalidade e o jeito dele ser. O
presidente é o maior comunicador do governo.
Mas já é possível ver o Lula lendo mais
discursos do que antes...
Em alguns momentos, pode-se ler um discurso,
em outros pode falar de improviso. Tudo é comunicação. Vai depender do evento.
Como é falar sobre comunicação com um
presidente que em outros tempos já disse que não lê jornal e que, hoje em dia,
não tem um celular próprio?
O presidente é muito bem informado. Sobre o
celular, eu mesmo se pudesse usaria menos, acho que utilizamos exageradamente
como sociedade. Tem gente que passa o dia procurando notícia na rede social
quando já leu tudo e acaba perdendo tempo.
Por que o senhor tirou uma aliada da
primeira-dama Janja do comando das redes sociais do Planalto?
Entrei e fiz as mudanças que achei melhor.
Quando você chega a um lugar, você monta uma equipe.
Alguns críticos do senhor chamam de antiquada
a fórmula que tem sido usada desde janeiro para a comunicação governamental,
com o aumento de pronunciamentos e de entrevistas a rádios locais, além de
propaganda nas mídias tradicionais. Como responde a eles?
Antiquada? Só porque existe a internet hoje
em dia, não vou trabalhar essas outras coisas? Pronunciamento é uma forma de comunicação, sim, assim como
entrevistas e os chamados quebra-queixos. Cada um com a sua característica. O
rádio mexe com a imaginação das pessoas, a TV tendo a imagem trabalha com a
passividade da audiência, a rede social estimula a interatividade. Cada um
tem o seu formato, e estamos trabalhando todos eles.
Os críticos também falam da dificuldade do
governo na área da segurança pública, na comunicação com o segmento evangélico
e com os microempreendedores. O que fazer?
A segurança pública é uma responsabilidade
dos estados, e o governo federal tem que cuidar das fronteiras e da atuação da
Polícia Federal. Mesmo assim, já há uma PEC da Segurança encaminhada para o
Congresso Nacional, e o programa do governo chamado Celular Seguro é bem
interessante. Sobre os evangélicos, considero que fazem parte de um grupo
de brasileiros que sofre dos mesmos problemas que o cidadão comum. Ou seja,
acho que o esforço tem que ser o de comunicar os serviços de maneira bem feita
tanto para evangélicos quanto para católicos. Por fim, temos, sim, uma
preocupação com quem é MEI e o pessoal de aplicativos. Programas como o
Acredito, o Desenrola e agora o crédito consignado para o trabalhador são
importantes.
O senhor criou o slogan "O Brasil é dos
brasileiros", e há uma clara iniciativa do governo de contraponto a Donald Trump,
que vem funcionando pelo mundo como fator de recuperação de popularidade de
governantes. Acha mesmo que o brasileiro médio está se importando com política?
Considero que as pessoas estão muito bem
informadas no mundo de hoje, sim. A compreensão do governo é a de que é preciso
ter reciprocidade caso haja taxação. Gostaríamos de ter uma saída negociada,
ninguém ganha com isso, todo mundo perde.
O governo vai se envolver na questão da
anistia aos acusados pelo 8 de Janeiro caso o projeto seja realmente votado no
Congresso?
Essa é uma discussão do Congresso e do STF,
não acho que seja uma questão para o governo, não.
Lula pode desistir de concorrer à reeleição
no ano que vem?
É uma questão muito íntima dele, se vai
concorrer ou não vai concorrer. Estou aqui para falar do governo, pensando na
gestão apenas.
Quem da direita vai estar do outro lado da
disputa, na sua opinião?
Não quero fazer análise disso, deixo para os outros comentarem. Mesmo porque a eleição de 2026 está muito longe, é cedo para isso. Fazendo uma analogia com o futebol, o jogo nem começou e já querem saber quem vai fazer o gol? Num jogo do seu Vasco, por exemplo, dá para dizer que é o (atacante Pablo) Vegetti que vai marcar na próxima partida? Se bem que lá não tem outro, né? A política é muito rápida e dinâmica. Quem estiver fazendo análise agora, vai errar. Eu não tenho bola de cristal.
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