Folha de S. Paulo
A ideia não é pacificar, mas fazer valer a
versão de que agredir a democracia não é ato grave
A anistia aos golpistas de variadas espécies é o tipo do
assunto a respeito do qual é mais fácil falar do que realizar. Ainda assim,
seus adeptos já foram além do aceitável: conseguiram pôr o tema em pauta e paralisar o Congresso em
torno dele.
Brutalizados em 8 de janeiro de 2023, os três Poderes da República são
agora instados a lidar com uma proposta de perdão dos crimes aos que
propugnaram pelo fim do Estado de Direito em vigor no país há parcas quatro
décadas.
Fala-se na produção de um acordo entre Executivo, Legislativo e Judiciário para se chegar a meios-termos entre condenações e impunidade.
Como se fossem admissíveis as seguintes
situações: o Supremo Tribunal Federal fazer acertos sobre matéria
que poderá julgar, o presidente aceitar a inocência de quem pretendeu impedi-lo
de governar planejando até sua morte e o Congresso avalizar negociata dessa
natureza.
Por mais desatinado que soe, chegamos a esse
ponto em que agressores postulam perdão e os agredidos —a maioria residente no Parlamento—
consideram a discussão de razoável a imprescindível.
A alegação-mestra é a de que a anistia
promoveria a pacificação do Brasil. Nada mais falso. O que se pretende não é
paz, e sim a reconstrução do relato histórico a fim de amenizar os fatos e
fazer valer como farsa a versão de que o que houve não foi tão grave, mas
apenas fruto de equívocos e pontuais excessos. Nada mais falso.
Caso o presidente da Câmara cometa a irresponsabilidade
institucional de pautar o projeto, e com urgência, daí em diante nada será
pacífico, a começar pela tramitação da proposta. Os defensores sinalizando
oposição ao governo e este na resistência atraindo ao campo de batalha o
Supremo.
No meio disso, a contrariedade da população
—registrada em pesquisas—, cujas prioridades estão longe dessa anistia e muito
perto da carestia, da insegurança e dos maus serviços públicos.
Uma coisa é certa: para os brasileiros a
sorte dos golpistas vale menos que suas sobrevivências e o destino do país.
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