Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Arrombada a porta das divergências internas no PSDB na primeira etapa, no segundo turno da eleição municipal paulistana o governador José Serra entra em cena para tentar consertar os estragos e mergulha "de cabeça" na campanha.
Seja quem for o finalista, Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab, trabalhará com igual intensidade: grava nova participação no horário eleitoral, discursa (com entusiasmo?) nos eventos e marca presença ao lado do candidato, em regime de dedicação quase exclusiva.
O governador de São Paulo não superestima a influência do produto do embate municipal com o PT na construção de sua candidatura a presidente em 2010. Mas tampouco subestima o significado político de uma vitória para o presidente Luiz Inácio da Silva nem menospreza os aborrecimentos de uma relação cotidiana com Marta Suplicy na prefeitura.
Reside basicamente nesses dois motivos o imperativo de ganhar.
A administração das mágoas partidárias propriamente ditas fica para depois, inclusive porque os meios e modos de fazer os curativos dependerão do resultado.
Se Alckmin vencer, sai forte internamente. Nessa altura do empate com Kassab nas pesquisas, não tanto quanto acreditou ao insistir na candidatura contra os planos iniciais do governador de aproveitar a eleição municipal para oferecer um horário nobre ao DEM no Sudeste e abrir um espaço de apoio à sua candidatura presidencial no PMDB.
Ainda assim, fica em situação confortável porque terá uma estrutura de poder onde abrigar seus correligionários.
Se for Kassab o oponente de Marta Suplicy na etapa final, o cenário desenhado pelo lado do governador Serra é bem menos tenebroso que o esperado pelos aliados de Alckmin.
Estes jogam hoje como se não houvesse mais pontes a serem preservadas. Atacam o herdeiro-executor de uma administração montada pelo governador, certos de que, se não investirem no tudo para ir ao segundo turno agora, ficarão com nada amanhã em virtude de uma aposta errada.
Na verdade, duas, se considerada também a insistência de Geraldo Alckmin em disputar a Presidência em 2006 com Lula no lugar de Serra.
Apesar de todos os pesares, o clima no Palácio dos Bandeirantes não é de retaliação. Claro, a amenidade é estudada e tem uma escala de gradação. No nível mais alto, Serra faz pose olímpica. Não deixa transparecer um pingo de desagrado e age como se não tivesse havido atropelo algum.
Já seus auxiliares não aderem com tanta disciplina ao lema "o que não tem remédio, remediado está". Reclamam dos "exageros", falam em "desespero", "traição", mas, no essencial, seguem a linha do governador e não tratam Alckmin como peça fora do jogo político, mesmo na eventualidade de ser eliminado já em 5 de outubro.
Não que não preferissem ver Alckmin pelas costas de uma vez por todas. Mas não lhes resta outra saída além do discurso da recomposição porque, a preço de hoje, ele ainda é a escolha viável do partido para disputar o governo do Estado em 2010.
Quanto aos "radicais" de parte a parte não se vêem atritos incuráveis. Os alckmistas, se derrotados, não resistiriam aos apelos da mão estendida, caso essa disposição ao "diálogo" por parte dos serristas não seja fruto de desprendimento meramente tático.
O DEM, de Gilberto Kassab, entende-se direto com José Serra em linha completamente sem ruídos. O partido ganhou um destaque jamais sonhado em São Paulo, ficou contente de ver Serra atuando dois tons aquém do limite da responsabilidade partidária no embate Alckmin-Kassab e, agora, está mais interessado em influir na articulação para a sucessão presidencial.
Na prática, o quadro evidentemente não será tão cor-de-rosa quanto a teoria escrita em feitio de conciliação. Mas não sobra alternativa: se a inimizade é irremediável que pelo menos os negócios sejam tratados à parte.
Novo endereço
Aposta é tucana e corroborada por ala significativa do petismo: o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, deixa o PT para disputar o governo de Minas Gerais em 2010 por uma das duas legendas: PSDB ou PSB. De todo modo, estaria perfeita e definitivamente integrado ao grupo do governador Aécio Neves.
O problema de Pimentel são as feridas abertas no PT por causa da aliança dele com Aécio para eleger Márcio Lacerda agora, na capital. A sessão municipal apoiou o prefeito, mas a estadual e nacional ficaram contra, o que lhe retira a chance de obter a legenda para disputar o governo.
A menos que o presidente Lula resolvesse intervir para manter no partido um de seus quadros mais qualificados, hoje com aprovação popular de 76%.
Mas isso dependeria de dois pré-requisitos: Pimentel querer ficar e de Aécio apoiá-lo aceitando de bom grado entregar ao PT o governo do segundo colégio eleitoral do País exatamente quando o PSDB tentará voltar à Presidência da República.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Arrombada a porta das divergências internas no PSDB na primeira etapa, no segundo turno da eleição municipal paulistana o governador José Serra entra em cena para tentar consertar os estragos e mergulha "de cabeça" na campanha.
Seja quem for o finalista, Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab, trabalhará com igual intensidade: grava nova participação no horário eleitoral, discursa (com entusiasmo?) nos eventos e marca presença ao lado do candidato, em regime de dedicação quase exclusiva.
O governador de São Paulo não superestima a influência do produto do embate municipal com o PT na construção de sua candidatura a presidente em 2010. Mas tampouco subestima o significado político de uma vitória para o presidente Luiz Inácio da Silva nem menospreza os aborrecimentos de uma relação cotidiana com Marta Suplicy na prefeitura.
Reside basicamente nesses dois motivos o imperativo de ganhar.
A administração das mágoas partidárias propriamente ditas fica para depois, inclusive porque os meios e modos de fazer os curativos dependerão do resultado.
Se Alckmin vencer, sai forte internamente. Nessa altura do empate com Kassab nas pesquisas, não tanto quanto acreditou ao insistir na candidatura contra os planos iniciais do governador de aproveitar a eleição municipal para oferecer um horário nobre ao DEM no Sudeste e abrir um espaço de apoio à sua candidatura presidencial no PMDB.
Ainda assim, fica em situação confortável porque terá uma estrutura de poder onde abrigar seus correligionários.
Se for Kassab o oponente de Marta Suplicy na etapa final, o cenário desenhado pelo lado do governador Serra é bem menos tenebroso que o esperado pelos aliados de Alckmin.
Estes jogam hoje como se não houvesse mais pontes a serem preservadas. Atacam o herdeiro-executor de uma administração montada pelo governador, certos de que, se não investirem no tudo para ir ao segundo turno agora, ficarão com nada amanhã em virtude de uma aposta errada.
Na verdade, duas, se considerada também a insistência de Geraldo Alckmin em disputar a Presidência em 2006 com Lula no lugar de Serra.
Apesar de todos os pesares, o clima no Palácio dos Bandeirantes não é de retaliação. Claro, a amenidade é estudada e tem uma escala de gradação. No nível mais alto, Serra faz pose olímpica. Não deixa transparecer um pingo de desagrado e age como se não tivesse havido atropelo algum.
Já seus auxiliares não aderem com tanta disciplina ao lema "o que não tem remédio, remediado está". Reclamam dos "exageros", falam em "desespero", "traição", mas, no essencial, seguem a linha do governador e não tratam Alckmin como peça fora do jogo político, mesmo na eventualidade de ser eliminado já em 5 de outubro.
Não que não preferissem ver Alckmin pelas costas de uma vez por todas. Mas não lhes resta outra saída além do discurso da recomposição porque, a preço de hoje, ele ainda é a escolha viável do partido para disputar o governo do Estado em 2010.
Quanto aos "radicais" de parte a parte não se vêem atritos incuráveis. Os alckmistas, se derrotados, não resistiriam aos apelos da mão estendida, caso essa disposição ao "diálogo" por parte dos serristas não seja fruto de desprendimento meramente tático.
O DEM, de Gilberto Kassab, entende-se direto com José Serra em linha completamente sem ruídos. O partido ganhou um destaque jamais sonhado em São Paulo, ficou contente de ver Serra atuando dois tons aquém do limite da responsabilidade partidária no embate Alckmin-Kassab e, agora, está mais interessado em influir na articulação para a sucessão presidencial.
Na prática, o quadro evidentemente não será tão cor-de-rosa quanto a teoria escrita em feitio de conciliação. Mas não sobra alternativa: se a inimizade é irremediável que pelo menos os negócios sejam tratados à parte.
Novo endereço
Aposta é tucana e corroborada por ala significativa do petismo: o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, deixa o PT para disputar o governo de Minas Gerais em 2010 por uma das duas legendas: PSDB ou PSB. De todo modo, estaria perfeita e definitivamente integrado ao grupo do governador Aécio Neves.
O problema de Pimentel são as feridas abertas no PT por causa da aliança dele com Aécio para eleger Márcio Lacerda agora, na capital. A sessão municipal apoiou o prefeito, mas a estadual e nacional ficaram contra, o que lhe retira a chance de obter a legenda para disputar o governo.
A menos que o presidente Lula resolvesse intervir para manter no partido um de seus quadros mais qualificados, hoje com aprovação popular de 76%.
Mas isso dependeria de dois pré-requisitos: Pimentel querer ficar e de Aécio apoiá-lo aceitando de bom grado entregar ao PT o governo do segundo colégio eleitoral do País exatamente quando o PSDB tentará voltar à Presidência da República.
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