quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Rosângela Bittar:: O Instituto Lula

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem, entre suas principais tarefas do ano que vem, em fim do segundo mandato e último ano de governo, a de pensar o futuro, dar forma a uma estrutura física destinada, ao mesmo tempo, a abrigar seu acervo e ser a base de um trabalho futuro que pretende, primordialmente, desenvolver na África. Definir esta atividade do futuro é algo que está evoluindo lentamente, sem pressa. O chefe do gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, tem chamado esta estrutura física, ainda hipotética, de "Instituto Lula", local destinado, em princípio, a receber seu acervo.

Houve uma época que o presidente chegou a conversar com o governador do Distrito Federal sobre a possibilidade de criar, na capital, um museu dos ex-presidentes da República, de forma que pudesse guardar alí documentos, objetos, a história de cada um e, ao mesmo tempo, dar acesso ao público a esta preciosidade.

A ideia de criação de uma instituição pública não evoluiu mas, do ponto de vista individual, está voltando ao debate nesta que representa o início de último ano de governo. Lula recebe 8 mil cartas por mês, por exemplo, com assuntos que variam dos pedidos de casa própria à correção de aposentadoria, e 52 pessoas dedicam-se à tarefa de respondê-las. Estas cartas, só para ficar neste exemplo, terão que ir com ele para São Bernardo, quando lá for morar quando deixar a Presidência da República. São centenas de presentes, objetos que vai ganhando nas viagens pelo país e no exterior. É um material que o governo acha que tem que estar disponível a pesquisas, ao acesso do público.

Esta organização será também a base política para a ação do presidente, que afasta completamente qualquer tipo de intromissão no governo do seu sucessor, seja do seu campo seja do campo adversário. Mas não vai se afastar da política. Depois de descansar uns meses, o presidente pretende desenvolver uma ação articulada de apoio ao desenvolvimento na África.

Em sua última viagem a Roma, na véspera da reunião da FAO, Lula participou do que foi definido, na sede do governo, como aperitivo deste projeto. Reuniu-se com presidentes e ministros de países africanos para debater pontos de interesse e identidade entre estes países e o Brasil. Um capítulo, por exemplo, foi o que comparou a Savana africana e o Cerrado brasileiro, que teriam condições comuns para a agricultura. A Embrapa, enfatiza o governo brasileiro, está presente em 20 países da África.

Lula fez mais viagens à África que todos os presidentes brasileiros, contabiliza sua assessoria, e está preocupado porque é preciso correr: acha que a China está numa espécie de exercício de atração fatal sobre o continente, com cantos da sereia e construção de castelos.

A imagem do trabalho que o presidente poderá desenvolver a partir desse Instituto seria a de uma caravana da cidadania. Uma caravana organizada, permanente, especialmente para a África mas, nada impede, também para a América Latina, onde acredita poder realizar trabalho semelhante.

Nas viagens programadas para o último ano de governo ainda há, por sinal, duas visitas à África. Uma, por ocasião da Copa do Mundo, à África do Sul, outra seria mais uma rodada por 3 a 4 países ainda não definidos.

Nem por ser um ano de campanha eleitoral Lula suspenderá suas viagens ao exterior, pelo menos no primeiro semestre. Em janeiro, poderá ir a Davos, na Suiça, para o Fórum Econômico Mundial.

Em fevereiro há uma viagem grande, ao México e países da América Central para a Cúpula da América Latina e Caribe. Em março, está na agenda outra grande viagem, desta vez ao Oriente Médio: Israel, Palestina, Líbano, Síria. Provavelmente em maio (pode ser antecipada) está prevista viagem ao Irã e à Rússia. E também em maio irá à cúpula Brasil-União Europeia, em Madri. Existe uma hipótese de, em junho, o presidente Lula comparecer à exposição internacional de Xangai, provavelmente no dia dedicado ao Brasil.

No primeiro semestre, o presidente vai também dedicar-se à tarefa de reorganizar o governo. Até março, agirá como tem feito agora, uma campanha esparsa para inauguração de obras, em companhia da ministra Dilma Rousseff enquanto ela ainda pode participar dos eventos como integrante do governo, sem ferir a lei eleitoral.

No fim de março vão sair vários ministros, desincompatibilizando-se dos cargos para se candidatarem ao Executivo e Legislativo. Como regra geral, os que saírem serão substituídos por pessoas da equipe de cada um, com uma ou outra exceção. Estava previsto o afastamento de 15 a 17 ministros de Estado, provocando uma renovação sem precedentes no último ano do governo.

O presidente Lula, porém, há duas semanas, fez gestões para que alguns fiquem em seus cargos, pois suas candidaturas não fazem muito sentido. É o caso, por exemplo, do ministro do Esporte, Orlando Silva, do PCdoB. O presidente acha que ele tem muito a fazer no governo e seu partido já está muito bem servido de candidatos a deputado, entre eles Aldo Rebelo e Jamil Murad.

Com certeza, estão saindo Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Justiça), José Pimentel (Previdência), Geddel Vieira Lima (Integração), Hélio Costa (Comunicações), Edson Santos (Igualdade Racial), entre os absolutamente definidos. Com a saída dos ministros, Lula dedicará um a dois meses ao comando da execução dos programas. A prioridade será governar, o presidente vai administrar mais.

No segundo semestre, Lula não pretende fazer viagens internacionais porque estará integralmente dedicado à campanha eleitoral, especialmente depois da Copa do Mundo. Fora do experiente. O presidente poderá cumprir sua agenda de presidente, dizem os auxiliares, e a partir das 17 horas pode viajar para um comício, em qualquer lugar do Brasil. Será a despedida de Lula dos comícios, acham alguns ministros. Se Dilma for eleita e fizer bom governo, ele pode até não voltar mais. Se não for eleita, voltará aos palanques no dia seguinte.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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