sexta-feira, 30 de julho de 2010

Força e desequilíbrio:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Álvaro Uribe passa o governo da Colômbia no próximo dia 7 para seu sucessor, Juan Manuel Santos, e esperou os últimos dias de mandato para dizer ao presidente Lula poucas e boas engasgadas na sua garganta contra a posição enviesada do Brasil no conflito entre Colômbia e Venezuela, entre Uribe e Hugo Chávez, entre direita e esquerda do continente.

Ao tentar minimizar a crise entre os dois países, Lula a reduziu a um "conflito verbal". Uribe reagiu "deplorando" essa posição, pois o que conta é "a ameaça que a presença de terroristas das Farc representa para a Colômbia e o continente".

Foi uma cacetada no Brasil, que toma partido no conflito, a ponto de Lula falar com Chávez e não com Uribe quando, de um lado, a Colômbia mostrou o que seriam provas documentais de que a Venezuela abriga narcoguerrilheiros colombianos e, de outro, a Venezuela rompeu relações com o vizinho.

Ok. A Colômbia é dependente dos EUA, botou tropas americanas dentro do continente e acobertou paramilitares criminosos. Mas a Venezuela não é uma maravilha nos quesitos democracia, economia e área social. O governo Lula deveria ter sido mais equilibrado e menos ideológico na relação com duas nações vizinhas e amigas do Brasil.

Venezuela e Colômbia têm uma fronteira de 2.200 quilômetros, e o comércio bilateral é decisivo para ambas. Exemplo: o segundo destino das exportações colombianas é a Venezuela, só atrás dos EUA. Com o bloqueio comercial, o total de vendas caiu de cerca de US$ 8 bilhões em 2008 para a expectativa de apenas US$ 2 bilhões no final deste ano. Assim, o desemprego na Colômbia bate em 14%.

Venezuela e Colômbia têm uma dependência mútua, como Santos, o presidente eleito, compreende bem. Basta empurrar um para o outro, o que o Brasil tem força de sobra para fazer. Ou teria, se não tivesse optado por um dos lados e desperdiçado toda essa força.

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