DEU EM O GLOBO
“Afinal, de que adiantou eleger uma mulher, se o homem vai continuar mandando?” (Roberto Jefferson, presidente do PTB)
Inédito! Extraordinário! Fantástico! Inacreditável! Nunca antes na história deste país um presidente da República indicou tantos nomes para posições estratégicas do governo que sucederá ao seu. O caso de Tancredo Neves foi diferente. Eleito, ele nomeou o Ministério e morreu sem tomar posse. José Sarney, seu vice, assumiu o governo alheio.
Os presidentes costumam dispor de uma cota pessoal de cargos para preenchêlos com gente de sua estrita confiança. Ora são pessoas a quem devem favores, ora pessoas que admiram e que gostariam de ter ao seu lado. A cota pessoal de Lula no seu primeiro governo foi modestíssima. A rigor, ele não dispôs de mais do que cinco cargos.
A saber: Comunicação (Luiz Gushiken); Justiça (Márcio Thomaz Bastos); Minas e Energia (Dilma Rousseff); Planejamento (Guido Mantega) e Imprensa (Ricardo Kotscho). Antonio Palocci, ministro da Fazenda, deveu sua nomeação à necessidade de tranquilizar o mercado financeiro. José Dirceu, da Casa Civil, a ele mesmo e ao PT.
Pois bem: salvo mudanças de última hora, Lula emplacou no governo, ainda em fase inicial de formação, o ministro da Fazenda (Mantega), o chefe da Casa Civil (Palocci), o secretário-geral da presidência (Gilberto Carvalho), o ministro do Planejamento (Míriam Belchior) e o presidente da Petrobras (José Sérgio Gabrielli). Está bom?
Adiante. Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, será transferido para outro ministério. Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, ganhará outro cargo de igual importância. Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, agora será assessor especial de Dilma. E Nelson Jobim poderá seguir como ministro da Defesa.
Lula deixou Pernambuco ainda menino, na companhia da mãe e dos irmãos, com destino a São Paulo, onde reencontraria o pai. Mas deve ter lido a respeito dos “coronéis” nordestinos que mandavam na vontade dos seus dependentes. Chico Heráclio, de Limoeiro, foi um deles e talvez o mais famoso. Veremundo Soares, de Salgueiro, outro.
No processo de escolha de Dilma para candidata à sua sucessão, Lula atuou como se fosse um desses coronéis de antigamente. E pelo menos dez partidos políticos se renderam à sua indicação. E em seguida se renderam quase 56 milhões de eleitores. A maioria desses elegeu Dilma porque ela era “a mulher de Lula”.
Se precisassem, os “coronéis” nordestinos ameaçavam com a força aqueles que hesitavam em obedecer às suas ordens. O triunfo de Lula deve-se ao seu carisma, à boa avaliação do seu desempenho, aos resultados positivos do seu governo e ao espantalho brandido com eficiência de que a oposição mudaria tudo se chegasse ao poder.
Presidente algum terá mais condições de monitorar seu sucessor do que Lula. No início da administração Dilma — e sabe-se lá até quando —, o Palácio do Planalto funcionará como uma espécie de bunker lulista. Se Lula quiser, Dilma não dará um suspiro sem que ele seja informado, não discutirá uma ideia sem que ele fique sabendo na hora.
Acaba de ser inventado o GPS presidencial — e Lula foi seu inventor. Dilma sabe o que a espera. E parece conformada. Afinal, deve a Presidência a Lula, exclusivamente a ele. O que conferirá legitimidade política ao seu mandato serão os resultados do seu governo. Aí ela poderá vir a desfrutar de uma margem maior de autonomia.
Em conversa com os poucos amigos que tem, Dilma admitiu que a transição entre o governo Lula e o dela não terminará no dia de sua posse, em 1o- de janeiro. Num cálculo otimista, imagina que ela se arrastará durante um ano ou pouco mais. Quer dizer: só lá para 2012 Dilma poderá vir a ter um governo para chamar de seu.
A poderosa ex-chefe da Casa Civil, que infundia terror até entre seus colegas, está sendo fraca ou apenas hábil e realista ao se curvar aos desígnios de seu mestre? Só o futuro dirá. Em tempo: Lula também quer manter Fernando Haddad no Ministério da Educação.
“Afinal, de que adiantou eleger uma mulher, se o homem vai continuar mandando?” (Roberto Jefferson, presidente do PTB)
Inédito! Extraordinário! Fantástico! Inacreditável! Nunca antes na história deste país um presidente da República indicou tantos nomes para posições estratégicas do governo que sucederá ao seu. O caso de Tancredo Neves foi diferente. Eleito, ele nomeou o Ministério e morreu sem tomar posse. José Sarney, seu vice, assumiu o governo alheio.
Os presidentes costumam dispor de uma cota pessoal de cargos para preenchêlos com gente de sua estrita confiança. Ora são pessoas a quem devem favores, ora pessoas que admiram e que gostariam de ter ao seu lado. A cota pessoal de Lula no seu primeiro governo foi modestíssima. A rigor, ele não dispôs de mais do que cinco cargos.
A saber: Comunicação (Luiz Gushiken); Justiça (Márcio Thomaz Bastos); Minas e Energia (Dilma Rousseff); Planejamento (Guido Mantega) e Imprensa (Ricardo Kotscho). Antonio Palocci, ministro da Fazenda, deveu sua nomeação à necessidade de tranquilizar o mercado financeiro. José Dirceu, da Casa Civil, a ele mesmo e ao PT.
Pois bem: salvo mudanças de última hora, Lula emplacou no governo, ainda em fase inicial de formação, o ministro da Fazenda (Mantega), o chefe da Casa Civil (Palocci), o secretário-geral da presidência (Gilberto Carvalho), o ministro do Planejamento (Míriam Belchior) e o presidente da Petrobras (José Sérgio Gabrielli). Está bom?
Adiante. Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, será transferido para outro ministério. Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, ganhará outro cargo de igual importância. Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, agora será assessor especial de Dilma. E Nelson Jobim poderá seguir como ministro da Defesa.
Lula deixou Pernambuco ainda menino, na companhia da mãe e dos irmãos, com destino a São Paulo, onde reencontraria o pai. Mas deve ter lido a respeito dos “coronéis” nordestinos que mandavam na vontade dos seus dependentes. Chico Heráclio, de Limoeiro, foi um deles e talvez o mais famoso. Veremundo Soares, de Salgueiro, outro.
No processo de escolha de Dilma para candidata à sua sucessão, Lula atuou como se fosse um desses coronéis de antigamente. E pelo menos dez partidos políticos se renderam à sua indicação. E em seguida se renderam quase 56 milhões de eleitores. A maioria desses elegeu Dilma porque ela era “a mulher de Lula”.
Se precisassem, os “coronéis” nordestinos ameaçavam com a força aqueles que hesitavam em obedecer às suas ordens. O triunfo de Lula deve-se ao seu carisma, à boa avaliação do seu desempenho, aos resultados positivos do seu governo e ao espantalho brandido com eficiência de que a oposição mudaria tudo se chegasse ao poder.
Presidente algum terá mais condições de monitorar seu sucessor do que Lula. No início da administração Dilma — e sabe-se lá até quando —, o Palácio do Planalto funcionará como uma espécie de bunker lulista. Se Lula quiser, Dilma não dará um suspiro sem que ele seja informado, não discutirá uma ideia sem que ele fique sabendo na hora.
Acaba de ser inventado o GPS presidencial — e Lula foi seu inventor. Dilma sabe o que a espera. E parece conformada. Afinal, deve a Presidência a Lula, exclusivamente a ele. O que conferirá legitimidade política ao seu mandato serão os resultados do seu governo. Aí ela poderá vir a desfrutar de uma margem maior de autonomia.
Em conversa com os poucos amigos que tem, Dilma admitiu que a transição entre o governo Lula e o dela não terminará no dia de sua posse, em 1o- de janeiro. Num cálculo otimista, imagina que ela se arrastará durante um ano ou pouco mais. Quer dizer: só lá para 2012 Dilma poderá vir a ter um governo para chamar de seu.
A poderosa ex-chefe da Casa Civil, que infundia terror até entre seus colegas, está sendo fraca ou apenas hábil e realista ao se curvar aos desígnios de seu mestre? Só o futuro dirá. Em tempo: Lula também quer manter Fernando Haddad no Ministério da Educação.
Um comentário:
Além disso, temos que perguntar: se não buscando na oposição, quem mais a Sra. Rousseff teria como opção?
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