Andrei Netto
Alberto Torregiani, filho adotivo do joalheiro Pierluigi Torregiani - morto em 16 de fevereiro de 1979, em Milão, em ataque do grupo Proletários Armados pelo Comunismo - é, ele próprio, vítima da violência dos guerrilheiros. Torregiani ficou paralítico ao ser atingido por disparos que visavam seu pai. O autor dos tiros, segundo a Justiça italiana, é Cesare Battisti.
Em entrevista concedida ao Estado na sexta-feira, o militante definiu como "uma vergonha" a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder refúgio a Battisti, no último dia de seu governo. Ele diz ter esperança de que a presidente Dilma Rousseff interfira no caso, em favor das famílias das vítimas. "Durante a campanha, ela afirmou que, se fosse presidente, teria optado pela extradição. Minha esperança é de que a presidente seja coerente com a sua declaração."
Que resultados o sr. percebe até aqui na campanha pela extradição de Battisti?
Tivemos um primeiro encontro com Berlusconi. Decidimos que tomaríamos iniciativas conjuntas: o encontro que estamos prevendo com as delegações europeias é um deles. Queremos explicar à Europa as razões que envolvem o caso e deixar claro para o maior número de países porque a Itália e o povo italiano buscam a extradição. De fato, também cogitamos o recurso na Corte de Haia, porque temos esperança de que o tribunal possa dar um parecer favorável à extradição. É verdade que se trata de um problema bilateral, mas comporta uma questão internacional. Não se trata apenas de uma disputa em torno de uma extradição. O problema é o entendimento que o governo de um país da comunidade internacional está fazendo de uma condenação por outro país. Battisti é um criminoso que foi condenado a mais de 30 anos de prisão. E essa pessoa ainda está livre.
Mesmo após a confirmação da decisão de não extraditar Battisti, o caso pode retornar ao STF. Quais são suas expectativas?
Creio que o Supremo Tribunal Federal tem poderes para reverter a decisão de Lula. Lembremos que em 2009 os juízes já haviam se declarado a favor da extradição. Agora cabe de novo ao Supremo, que é um órgão de alto valor institucional, decidir.
O sr. tem esperanças de que o STF possa inverter a decisão?
É uma questão de integridade, de respeito às instituições e de bom senso. Uma pessoa atirou e matou duas pessoas, foi condenada por esses crimes, foi condenada como mandante da morte de outra pessoa e foi considerada envolvida em um quarto homicídio. Isso sem falar de assaltos, tráfico de armas e outros delitos menores. São fatos. Por que tentam caracterizar esses crimes como questão política? Há testemunhos de membros do próprio grupo que afirmam que ele foi responsável.
Como o sr. reagiu ao receber a notícia de que Lula havia concedido o refúgio a Battisti?
O que mais me incomodou foi o momento em que a notícia foi anunciada. Eram 17 horas do último dia de mandato. Tínhamos uma certa expectativa de que ele optasse por deixar para o próximo presidente. Decidir no último instante, quando a nova presidente já se preparava para assumir, considero algo ignóbil. É a coisa mais vergonhosa que um presidente pode fazer.
O sr. acredita em saída favorável, a seu ver, para esse caso?
Claro que sim! A dificuldade é mostrar a todos que é uma causa justa. Quando tentamos audiências com autoridades no Brasil sobre o caso, não tivemos sucesso. Já os advogados de Battisti conseguiram se encontrar até com os juízes do Supremo. O que me preocupa são os argumentos. Os advogados de Battisti alegam, por exemplo, que há um risco à sua integridade física. E um ministro (o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro) defende o mesmo argumento. Convenhamos! Dizer que ele, em um cárcere na Itália, corre o risco de morrer porque ficará deprimido, frustrado, doente ou qualquer outra coisa? Francamente!
O sr. crê que o fato de Dilma Rousseff ter pertencido a movimentos armados no Brasil pode influenciar no caso?
Não sabemos o quanto pode haver diferença de conhecimento em relação ao caso entre Lula e Dilma. Presumo que ela tem conhecimento, já que foi candidata a presidente depois de ser ministra. Durante sua campanha, ela afirmou que, se fosse presidente, teria optado pela extradição. Minha esperança é de que a presidente seja coerente com a sua declaração.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
Alberto Torregiani, filho adotivo do joalheiro Pierluigi Torregiani - morto em 16 de fevereiro de 1979, em Milão, em ataque do grupo Proletários Armados pelo Comunismo - é, ele próprio, vítima da violência dos guerrilheiros. Torregiani ficou paralítico ao ser atingido por disparos que visavam seu pai. O autor dos tiros, segundo a Justiça italiana, é Cesare Battisti.
Em entrevista concedida ao Estado na sexta-feira, o militante definiu como "uma vergonha" a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder refúgio a Battisti, no último dia de seu governo. Ele diz ter esperança de que a presidente Dilma Rousseff interfira no caso, em favor das famílias das vítimas. "Durante a campanha, ela afirmou que, se fosse presidente, teria optado pela extradição. Minha esperança é de que a presidente seja coerente com a sua declaração."
Que resultados o sr. percebe até aqui na campanha pela extradição de Battisti?
Tivemos um primeiro encontro com Berlusconi. Decidimos que tomaríamos iniciativas conjuntas: o encontro que estamos prevendo com as delegações europeias é um deles. Queremos explicar à Europa as razões que envolvem o caso e deixar claro para o maior número de países porque a Itália e o povo italiano buscam a extradição. De fato, também cogitamos o recurso na Corte de Haia, porque temos esperança de que o tribunal possa dar um parecer favorável à extradição. É verdade que se trata de um problema bilateral, mas comporta uma questão internacional. Não se trata apenas de uma disputa em torno de uma extradição. O problema é o entendimento que o governo de um país da comunidade internacional está fazendo de uma condenação por outro país. Battisti é um criminoso que foi condenado a mais de 30 anos de prisão. E essa pessoa ainda está livre.
Mesmo após a confirmação da decisão de não extraditar Battisti, o caso pode retornar ao STF. Quais são suas expectativas?
Creio que o Supremo Tribunal Federal tem poderes para reverter a decisão de Lula. Lembremos que em 2009 os juízes já haviam se declarado a favor da extradição. Agora cabe de novo ao Supremo, que é um órgão de alto valor institucional, decidir.
O sr. tem esperanças de que o STF possa inverter a decisão?
É uma questão de integridade, de respeito às instituições e de bom senso. Uma pessoa atirou e matou duas pessoas, foi condenada por esses crimes, foi condenada como mandante da morte de outra pessoa e foi considerada envolvida em um quarto homicídio. Isso sem falar de assaltos, tráfico de armas e outros delitos menores. São fatos. Por que tentam caracterizar esses crimes como questão política? Há testemunhos de membros do próprio grupo que afirmam que ele foi responsável.
Como o sr. reagiu ao receber a notícia de que Lula havia concedido o refúgio a Battisti?
O que mais me incomodou foi o momento em que a notícia foi anunciada. Eram 17 horas do último dia de mandato. Tínhamos uma certa expectativa de que ele optasse por deixar para o próximo presidente. Decidir no último instante, quando a nova presidente já se preparava para assumir, considero algo ignóbil. É a coisa mais vergonhosa que um presidente pode fazer.
O sr. acredita em saída favorável, a seu ver, para esse caso?
Claro que sim! A dificuldade é mostrar a todos que é uma causa justa. Quando tentamos audiências com autoridades no Brasil sobre o caso, não tivemos sucesso. Já os advogados de Battisti conseguiram se encontrar até com os juízes do Supremo. O que me preocupa são os argumentos. Os advogados de Battisti alegam, por exemplo, que há um risco à sua integridade física. E um ministro (o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro) defende o mesmo argumento. Convenhamos! Dizer que ele, em um cárcere na Itália, corre o risco de morrer porque ficará deprimido, frustrado, doente ou qualquer outra coisa? Francamente!
O sr. crê que o fato de Dilma Rousseff ter pertencido a movimentos armados no Brasil pode influenciar no caso?
Não sabemos o quanto pode haver diferença de conhecimento em relação ao caso entre Lula e Dilma. Presumo que ela tem conhecimento, já que foi candidata a presidente depois de ser ministra. Durante sua campanha, ela afirmou que, se fosse presidente, teria optado pela extradição. Minha esperança é de que a presidente seja coerente com a sua declaração.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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