
Ela simplesmente não citou os EUA ao falar na abertura dos trabalhos do Congresso, nem mesmo para fazer uma gentileza diplomática com Barack Obama, que fugiu à regra para anunciar sua vinda de março ao Brasil justamente no discurso ao Parlamento. Seria adequado, até porque o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, chega ao Brasil na próxima segunda.
Na outra ponta, Dilma falou três vezes na América do Sul e defendeu a reforma da ONU, o multilateralismo e o "mundo multipolar" (sem os EUA mandando em tudo). Um discurso que poderia ter sido perfeitamente escrito pelo ex-chanceler Celso Amorim.
Em compensação, o governo tem sido bem mais cauteloso quando se trata da crise do Egito. Ou melhor, do mundo árabe. Enquanto os Estados Unidos já falam oficialmente em transição tranquila e o Reino Unido já classifica a pancadaria de ontem contra os manifestantes como "inaceitável" (um termo forte e raro em diplomacia), o Brasil continua em cima do muro.
Em nota, o governo defendeu ações e reações pacíficas. Ah, bom! Em rápida declaração ao deixar a Argentina, a própria Dilma disse torcer para que a saída seja "democrática e leve o povo a desfrutar do desenvolvimento". Ah, bom!
Se fosse no governo anterior, Lula já teria falado umas três metáforas impróprias e Amorim já estaria certamente articulando uma reunião internacional para salvar o mundo árabe de teocracias.
Conclusão: o foco da política externa não muda. O que muda, como dito aqui desde o início, são os atores. E, portanto, os estilos.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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