O Brasil não teve pais fundadores dignos dessa qualificação. Os ideais da nação continuam em fase de construção. Inexiste um grande texto do passado ou heróis para inspirar gerações do presente, muito menos aos políticos.
Aqui, o conjunto de valores se forma com o desenvolvimento do país. Por essa razão os atos de determinados líderes contribuem para a solidificação do, vá lá, sistema brasileiro de sociedade.
Pergunte a um petista e ele dirá que a maior obra de Lula foi incluir milhões de pobres no mercado consumidor. Esse foi um feito notável, mas outros gestos têm relevância mais institucional, de fundo.
Ao não ter forçado a mão para ser reeleito para um terceiro mandato, Lula praticamente sepultou as chances de qualquer outro político no futuro tentar esse tipo de aventura bolivariana. Pode parecer pouco, mas quem se lembra do passado recente da política brasileira saberá a real importância desse ato do petista quando tinha total condição de impor sua vontade.
Agora, já fora da Presidência, Lula poderia tranquilamente ter optado por menos transparência na divulgação de seu câncer de laringe. Ao noticiar o episódio, a revista britânica "Economist" notou como o político brasileiro -assim como tantos outros- expôs-se mais do que seus colegas latino-americanos.
Só para lembrar os casos mais evidentes, Fidel Castro e Hugo Chávez escondem o quanto podem os detalhes de seus estados de saúde. Mesmo fora do poder, a atitude de Lula ajuda a consolidar práticas cotidianas que podem parecer óbvias e necessárias, mas até outro dia eram apenas exceções no Brasil.
Embora existam muitas críticas possíveis sobre o ex-presidente, ele deixou bons exemplos marcantes. Desta vez não foi diferente e em um momento pessoal difícil de enfrentar. Num país ainda em formação, é uma grande contribuição.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário