Não é Wall Street, Londres ou Madri; os revoltados da Grécia é que podem balançar a finança global
Ocupam Wall Street, ocupam o pátio da catedral em Londres, acampam praças em Madri etc. Mas a refrega séria acontece em Atenas. Tenha razão ou sentido, tanto faz, o protesto grego está escaldado em ampla fúria social, leva tumulto à rua e ao Parlamento; em suma, pretende derrubar a presente ordem. Isto é, o governo grego, de fato sob intervenção europeia. Mais importante ainda, os revoltados gregos têm algum poder de levar à breca a finança e a economia mundiais. É o que se tem visto nesta semana, com a piora da crise política no país.
George Papandreou, o primeiro-ministro socialista, pode ter parecido tresloucado ao propor referendo para aprovação do plano europeu. Mas, embora esteja à beira de um colapso político-nervoso, o premiê não é doido nem nasceu ontem. Papandreou lançou uma carta aparentemente desatinada porque está à beira de ser defenestrado. Está para cair, é óbvio, porque estão no fim seu apoio e legitimidade políticos, na rua, no seu Pasok e no establishment gregos.
A Grécia está em recessão faz uns quatro anos. Ficará pelo menos estagnada outros tantos. Todo o modelo de vida dos gregos, seus arranjos políticos e socioeconômicos, decerto absurdos, vão para o vinagre.
Em suma, voltando aos miúdos da vaca fria, Papandreou está para cair ou temia cair em breve. Queria evitar eleições antecipadas, demanda da oposição e até de parte de seus correligionários. O premiê ou queria se legitimar com um plebiscito ou assustar a oposição dentro e fora de seu partido. Pelo jeito, não deu certo o seu golpe -ou gambito.
Mas o que virá agora? A crise política continua. Papandreou parece um morto-vivo. Alemanha e França apenas não querem a sua cabeça porque temem qualquer marola nova. Os socialistas gregos estão à beira de dizer "fora" para o premiê, mas ainda não sabem o que botar no lugar. A oposição de "centro-direita" diz ser contra os planos europeus para a Grécia Alguns dos socialistas adversários de Papandreou estão sugerindo uma espécie de "governo de união nacional". Mas precisam combinar o plano com seus confrades de partido e com a oposição.
Mais ou menos metade dos gregos, a depender da pesquisa, se diz farta dos "socorros" europeus. Quase metade deles votaria "não" ao pacote de União Europeia, Banco Central Europeu e FMI. Cansaram ainda da "intervenção estrangeira". O resumo da ópera é que a revolta nas ruas contagiou a política parlamentar. O tumulto político grego pode até não derrubar sem mais o pacote europeu. Mas os donos do dinheiro grosso no mundo estão à beira de outro ataque de pânico.
Os ditos "mercados" podem de repente "antecipar" o fracasso da tramitação política do pacote na Grécia. Nessa hipótese terminal, os gregos dariam o tal "calote desorganizado", Portugal e talvez Irlanda e Bélgica perderiam o crédito e os juros iriam à lua da falência para Itália e Espanha.
Não, não se trata de dizer que vai acontecer. Mas de ressaltar que a situação é delicada: marolas extras podem afogar todo mundo. A gente viu isso ontem: a mera ameaça distante de um referendo grego sobre o pacote europeu já levou os mercados a "precificar" o tumulto.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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