Senador tucano diz que processos prometidos por Cardozo vão dar a possibilidade de se 'buscar a verdade'
Eduardo Bresciani e Ricardo Britto
BRASÍLIA - As bancadas do PSDB no Congresso Nacional reagiram nessa quinta-feira, 28, às declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), afirmou que o partido não teme os processos que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse querer abrir contra integrantes da legenda que questionaram a atuação dele ao receber denúncias de cartel no setor metroferroviário de São Paulo.
"Os processos que o ministro Cardozo ameaça impetrar vão possibilitar a busca da verdade. É bom mesmo que processe. Não há no PSDB ninguém com medo de processo", afirmou Alvaro Dias, em entrevista concedida em seu gabinete.
A reação do ministro, que deu a segunda entrevista sobre o episódio na semana, é uma resposta às críticas de lideranças tucanas. Integrantes do PSDB, incluindo o presidente da sigla, Aécio Neves, pediram esta semana a demissão de Cardozo.
Para Dias, houve "fraude e uma falsificação visíveis" nos documentos que fazem parte da investigação da Polícia Federal sobre o metrô paulista.
Segundo ele, a missão da oposição agora é tentar desmontar "a fábrica de dossiês" e permitir que a Polícia Federal faça as apurações não apenas dos contratos de trens de São Paulo, mas em Salvador e Porto Alegre.
O vice-líder tucano disse que os processos prometidos por Cardozo serão uma oportunidade para ajudar a esclarecer a "usina de dossiês que funciona nos porões da clandestinidade e acionada a cada eleição".
Na Câmara, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), ex-líder da bancada, também atacou o ministro da Justiça. "Qualquer um pode entrar com uma representação. Mas cabe à Justiça e ao Ministério Público acolher ou não. É preciso ter provas e elementos. Não apenas ameaças." O tucano também declarou que "o ministro está usando a estrutura do Estado para perseguir e intimidar adversários". "Ele está muito enrolado e ficou comprovado que não tem condições de perseguir no cargo. Até agora não explicou porque investigou parlamentares sem pedir autorização ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República."
Repercussão. Tucanos e outros políticos citados nas acusações do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer comentaram a entrevista do consultor Arthur Teixeira publicada ontem pelo Estado. Teixeira é apontado por Rheinheimer, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, como intermediador de propinas do cartel.
Na entrevista, Teixeira negou pagar propinas e disse que nunca fez lobby com políticos do governo paulista.
O secretário de Energia do governo Geraldo Alckmin, José Aníbal (PSDB), reforçou ontem que não teve relações diretas com o consultor. "Conheci Teixeira na época em que Mário Covas era governador. Estávamos fazendo inspeções nuns trens e lembro que Teixeira estava lá. Mas nunca tive relação direta com ele."
Outro tucano mencionado por Teixeira na entrevista foi o senador Aloysio Nunes (PSDB). Segundo o consultor, seu contato o senador começou quando o tucano foi secretário de Transportes Metropolitanos. Teixeira afirmou ao Estado que participou com Aloysio de um jantar realizado na casa do consultor em 2006. O senador do PSDB não quis se manifestar. Ele disse que já tinha se pronunciado sobre o seu grau de relação com Teixeira.
Histórico. Teixeira foi citado no relatório do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer entregue à PF. Segundo o documento, revelado pelo Estado na semana passada, o consultor teria dito que eram beneficiários de propina o secretário da Casa Civil de Alckmin, Edson Aparecido (PSDB), e o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS).
Ainda no relatório, Rheinheimer fala que Teixeira era próximo, além de Aníbal e Aloysio, de outros políticos, dentre eles os secretários Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico). "A entrevista (com as negativas de Teixeira) só confirma a tentativa de uso político de informações que são mentirosas. Não tenho relação com esse assunto", disse Garcia. Jurandir Fernandes também reiterou que não manteve relação com o consultor.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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