• Há quem pense que tudo o que tiver algum cheiro de petróleo tem de ficar com a Petrobrás; Foi por bobagens assim que a empresa perdeu o foco, foi arrastada para o atoleiro e ficou sufocada pelo excesso de responsabilidades
- O Estado de S. Paulo
A Petrobrás já decidiu que sua política de desinvestimento atingirá US$ 13,7 bilhões nestes dois anos: 2015 e 2016. Não há nenhuma evidência de que sairá do sufoco se parar por aí.
Desinvestimento é, por si só, consequência da política desregrada a que foi submetida a empresa nesses últimos 12 anos, a mesma que o presidente Aldemir Bendine comparou a um “desastre de avião”.
Desregrada não só porque investiu mais do que podia, mas, também, porque a política de represamento das tarifas de combustíveis destinada a combater a inflação e garantir objetivos eleitorais sangrou perigosamente o caixa da Petrobrás e lhe tirou capacidade de investir.
Nesse programa de desinvestimento não está nenhuma refinaria, por uma razão óbvia. Com a política de represamento de preços internos adotada até então, ninguém tem interesse em comprar uma refinaria: “Se os organismos de controle permitem que a Petrobrás pratique dumping (preços abaixo do custo ou dos vigentes no mercado externo), nenhum investidor entra neste negócio”, avisa o ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn. Nem a Venezuela no auge de seu bolivarianismo aceitou ser sócia da Petrobrás em refinaria.
A Petrobrás tem 13 delas. Em janeiro decidiu “encerrar” os projetos de construção das refinarias “Premium”, no Maranhão e no Ceará. A Abreu e Lima (Pernambuco) iniciou a operação do seu primeiro trem em dezembro. Mas o segundo “foi postergado”. O mesmo aconteceu com o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Já está faltando gasolina. O suprimento está sendo complementado por importações. Entre as macroquestões a pedir decisão urgente está a de saber se, diante de tanta escassez de recursos, a Petrobrás não deveria se concentrar no seu principal negócio (core business), que é a exploração, o desenvolvimento e a produção de petróleo e de gás, especialmente no pré-sal, e deixar outros segmentos como o refino, a petroquímica, a distribuição de derivados e a produção de fertilizantes para outros investidores.
Há quem pense que tudo o que tiver algum cheiro de petróleo tem de ficar com a Petrobrás. Ou, então, que também precisa cuidar do refino porque é necessário agregar valor, como se o dono do boi devesse também se dedicar à produção de sapatos. Foi por bobagens assim que a empresa perdeu o foco, foi arrastada para o atoleiro e ficou sufocada pelo excesso de responsabilidades.
A necessidade de abandonar as políticas populistas de achatamento dos preços e de adotar o realismo tarifário também nos derivados do petróleo decorre de duas exigências. A primeira é a necessidade de garantir robustez de caixa para que a Petrobrás tenha condições de investir. A outra é a necessidade de se concentrar na principal atividade, que é a exploração e a produção de petróleo e de gás e, assim, deixar o segmento do refino para outros interessados. E, para isso, os derivados precisam de preço.
Se for para importar gasolina e outros derivados, também será necessário garantir equalização de preços para impedir que o importador tenha prejuízo.
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