• Oposição não tem muita ideia do que fazer da crise do governo Dilma Rousseff e do país
- Folha de S. Paulo
As oposições andam dispersas. Diante de um governo zumbi, não sabem o que fazer, por falta de imaginação, mediocridade política e intelectual e devido ainda à costumeira desconexão popular, evidente mesmo quando dois terços do eleitorado querem ver a presidente pelas costas.
O governo anima-se. Gente do Planalto diz que haveria um "começo de refluxo" do desprestígio de Dilma Rousseff, baseada em "pesquisas" meio precárias.
Do Congresso às "ruas" e mesmo na oposição governista (PMDB), adversários de Dilma titubeiam, dividem-se e esperam que um urubu fatal pouse na sorte da presidente. Talvez não seja aposta lá tão arriscada, pois o governo dá tiros semanais no pé, tentando acertar a própria testa.
O PSDB da Câmara, agitado por uma direita asnática, quer apresentar pedido de impeachment nesta semana. Os "cabeças brancas", FHC e senadores, dizem que é "precipitação". Na verdade, alguns deles, "presidenciáveis", consideram que impeachment, agora, recheia apenas a empada de Aécio Neves, que por sua vez não sabe se vai ou fica. Ficando, como vai manter o fogo no governo e a "rua" próxima de si?
Por falar nisso, o braço tucanoide nas "ruas", o politicamente abobalhado Vem Pra Rua, parece sem direção. Ora bate-se contra a nomeação de Luiz Fachin para o Supremo e contra medalhas para João Pedro Stedile, do MST.
A ambição sôfrega levou Eduardo Cunha, presidente da Câmara, PMDB, a tropeçar e a bater cabeça com Renan Calheiros, presidente do Senado, PMDB, com o que por um breve momento deixaram de azucrinar Dilma. Michel Temer, vice-presidente, PMDB, amacia com cargos e boa conversa parte da oposição doméstica. Mas Cunha é ainda o nome da crise política, que, no entanto, não desabrochou.
Motivos para azucrinar a presidente não faltam. Note-se que o governo teve o lazer de anunciar como vitória o fato de que políticas incompetentes e roubança redundaram em perdas de R$ 51 bilhões para a Petrobras. "Página virada", diz Dilma, "vida nova", como se um espírito do mal tivesse baixado na empresa, como se não houvesse nem fosse preciso procurar responsáveis pela lambança horrenda.
Quem nomeou e manteve uma diretoria majoritariamente corrupta? Quem patrocinou investimentos doidivanas, perdulários e prejudiciais em refinarias e petroquímicas? Quem arruinou as finanças da empresa tabelando preços e aumentando custos por meio de políticas com cheiro de cadáver dos anos Geisel?
A recessão desce às ruas como lava, devagar, mas queima, esvazia lojas, desemprega: a primeira vez desde o século passado que se perdem empregos formais em massa. O povo vai se resignar? De qualquer modo, não há liderança para chamar a gente miúda para "as ruas", socialmente rachadas.
Estados e municípios, na pindaíba, ameaçam calotes e processos contra o governo. Apesar de tratativas de acordão e da disputa PF vs. MPF, há pústulas para estourar na Lava Jato e noutras infecções corruptas. O drama da votação do arrocho do ajuste fiscal começa só nesta semana. A baderna dos gastos de Dilma 1, a história das "pedaladas", vai render até junho, ao menos.
Sim, há uma trégua por inépcia da oposição. Mas há minas espalhadas por todo o terreno.
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