O ex-presidente Lula disse em depoimento à PF que coube ao então ministro José Dirceu (Casa Civil) indicar diretores da Petrobras suspeitos de comandar o esquema de corrupção na estatal
À PF, Lula diz que cabia à Casa Civil encaminhar indicações na Petrobras
• Ex-presidente afirma que não participou da escolha de diretores
Vinicius Sassine e Evandro Éboli - O Globo
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em depoimento à Polícia Federal, em Brasília, na última quarta-feira, que ficou fora do processo de escolha dos diretores da Petrobras suspeitos de comandar um esquema de corrupção na estatal. Ouvido como testemunha no principal inquérito da Lava-Jato em curso no Supremo (STF), que investiga crime de formação de quadrilha e atuação de políticos do PMDB, do PP e do PT, Lula disse que os diretores foram indicações políticas dos partidos e que apenas recebia as indicações a partir de acordos políticos. “O processo de escolha dos nomes dos diretores não contava com a participação do declarante”, cita o termo do depoimento, anexado ontem ao inquérito.
O petista imputou à Casa Civil e à coordenação política de seu governo a responsabilidade por fazer, respectivamente, o encaminhamento das indicações e os acordos políticos necessários à ocupação dos cargos. Lula disse que não conhecia Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras preso em Curitiba por suspeita de operar um esquema de desvios de recursos da estatal. “O nome de Renato Duque foi levado à Casa Civil da Presidência da República, à época chefiada por José Dirceu”, disse Lula ao delegado Josélio Azevedo de Sousa. “Cabia à Casa Civil receber as indicações partidárias e escolher a pessoa que seria nomeada”, completou. O ex-presidente afirmou não saber se foi o PT o responsável pela indicação de Duque.
Sobre Nestor Cerveró, que ocupou a Diretoria Internacional e que também é suspeito de operar o esquema, Lula disse “achar” que o nome foi uma indicação do PMDB. “O declarante recebia os nomes dos diretores a partir dos acordos políticos firmados. Este processo de acordos políticos era feito normalmente pelo ministro da área, pelo coordenador político do governo e pelo partido interessado na nomeação”, registra o termo do depoimento. O petista afirmou ter tido diferentes coordenadores políticos em oito anos de governo. Ele citou os petistas Tarso Genro, Alexandre Padilha e Jaques Wagner, atual ministro da Casa Civil. Também foi citado Aldo Rebelo, do PCdoB, hoje ministro da Defesa.
A indicação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento partiu do PP, segundo Lula, e também “foi levada à Casa Civil para deliberação e posterior nomeação do declarante”. “Ao final deste processo o declarante concordava ou não com o nome apresentado, a partir dos critérios técnicos que credenciavam o indicado”. Lula disse acreditar que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba, será absolvido. O ex-presidente foi questionado sobre a proximidade ao pecuarista e lobista José Carlos Bumlai, investigado e preso na Lava-Jato. Lula disse ter “relação de amizade” com Bumlai, mas negou ter tratado de qualquer negócio ou indicação política com ele.
O presidente do PT, Rui Falcão, prestou depoimento no mesmo inquérito no início de dezembro. Ele declarou que nunca definiu as empresas a serem procuradas por Vaccari e que a única diretriz que deu é que as doações “sejam legais”. Perguntado, respondeu que o PT “nunca” recebeu dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras.
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