- O Globo
“Delação só deve ser admitida com o delator solto”
Edison Lobão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado
Que não se diga depois que os coveiros da Lava-Jato atuaram em segredo para enterrá-la sem que houvesse a mínima chance de impedi-los. O segredo acabou em maio último, quando foram reveladas gravações de conversas do empresário Sérgio Machado com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney. Desde então avançaram as providências para que a Lava-Jato seja velada em breve.
NA SEMANA PASSADA, o ministro Edson Fachin, novo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu denúncia da Procuradoria Geral da República e abriu inquérito para investigar Machado, Jucá, Renan e Sarney por tentativa de obstrução da Justiça. Numa das conversas, Jucá diz que é necessário “estancar a sangria” da Lava-Jato, do contrário não restará vivo um só dos atuais políticos.
NOUTRA, RENAN FALA em restringir as delações, base das acusações mais explosivas contra ele e outros investigados. Com Sarney, Machado discute a derrubada da então presidente Dilma Rousseff e se queixa da falta de acesso ao ministro Teori Zavascki, na época relator da Lava-Jato. Sarney aconselha Machado a procurar um advogado amigo de Teori, o único com livre acesso a ele.
“PRENDE, MAS NÃO ESCULACHA”, pediu Elias Maluco, traficante de drogas e um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, ao se render à polícia em setembro de 2002, no Rio. Ao capitão Nascimento, do filme “Tropa de Elite”, o traficante de nome Baiano, depois de preso e espancado, suplica antes de ser morto com um tiro à queima-roupa: “Na cara não, chefe, para não estragar o velório”.
A LAVA-JATO CORRE o risco de ser esculachada e de levar um ou mais tiros na cara à luz do dia sem que se manifestem em seu apoio, salvo nas redes sociais, os que celebraram radiantes nas ruas a derrocada de Dilma e do PT. Dilma caiu porque desrespeitou a Constituição ao maquiar as contas do governo e gastar além do que estava autorizada. Mas caiu também pelo “conjunto da obra”.
ELA EMPURROU O PAÍS para o buraco da mais grave recessão econômica de sua história. E para se eleger e se reeleger, beneficiou-se do mais gigantesco esquema de corrupção que jamais existira, responsável também pela degradação da Petrobras, e que garfou até mesmo uma fatia do salário de servidores públicos pendurados em empréstimos consignados.
TAL ESQUEMA FOI desmontado em parte pela LavaJato. Os que usufruíam, em sua maioria continuam impunes. No máximo, respondem a inquéritos e processos. Essa gente, com assento privilegiado em todos os escalões da República, conspira e age sem pudor para limitar, deter ou se possível sepultar a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção que já vimos por aqui.
O STF DARÁ A palavra final sobre o destino das mais altas autoridades suspeitas de corrupção? Indicase para a vaga de Teori o ministro que assumirá o papel de revisor dos feitos da Lava-Jato. Quem será o ministro? Alguém da inteira confiança dos que mais tarde serão julgados por ele. Quem aprovará seu nome no Senado? Ora, os felizes apoiadores de sua indicação.
O QUE FAZER PARA aplacar a fúria investigatória da República de Curitiba? Transfere-se para outros lugares quem servia, ali, à Polícia Federal. E o que mais? Vota-se no Congresso a lei de anistia do caixa dois. Por fim, o Congresso acaba com a delação premiada para quem estiver preso. Só valerá para quem estiver solto. Duvidam? Mexam-se!
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