Por Daniel Rittner e Andréa Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem atuado nos bastidores para indicar o sucessor de Murilo Ferreira no comando da Vale. Ele pressiona o Palácio do Planalto pelo cargo, que fica em aberto daqui a três meses, quando termina o mandato do executivo.
A ofensiva do tucano desperta grande incômodo nos sócios privados da mineradora, que já admitem o que era impensável alguns meses atrás: a permanência de Ferreira por mais dois anos.
A Vale já havia se tornado objeto de desejo do PMDB de Minas Gerais. O vice-governador do Estado, Antônio Andrade, faz parte do grupo que foi ao Planalto no início do governo Michel Temer com o pedido de colocar um aliado na presidência da companhia.
No entanto, segundo fontes do governo e da iniciativa privada com trânsito na Vale, a pressão de Aécio cresceu nas últimas semanas. O senador tucano foi advertido por auxiliares de Temer, em tom bem humorado, de que a cobiça por cargos na Esplanada dos Ministérios e em empresas com participação acionária da União estaria transformando o PSDB no "partido da boquinha".
A expressão foi cunhada pelo ex-governador do Rio Anthony Garotinho, em referência à fome do PT por indicações partidárias.
Interlocutores de Aécio afirmam reservadamente que, embora ele esteja batalhando para influenciar na sucessão de Ferreira, descarta a possibilidade de emplacar um político e se serviria de pessoas do mercado para a Vale. Mas executivos antes vistos como potenciais sucessores, como José Carlos Martins e Tito Martins, desabaram recentemente na cotação. Ambos foram diretores da mineradora. José Carlos atua hoje como conselheiro da NovaAgri; Tito preside atualmente a Votorantim Metais.
Diante da disputa entre PMDB e PSDB pelo comando da mineradora, os sócios privados da Vale consideram a perspectiva de renovação do mandato de Ferreira, que vence em maio. Bradespar, Mitsui, BNDES Participações e Litel fazem parte do bloco de controle da empresa. A Litel é formado por fundos de pensão de estatais, com liderança da Previ e fatias menores de Funcef e Petros.
No ano passado, os acionistas da Vale se empenharam para demover o Planalto da ideia de antecipar o fim da gestão de Ferreira e conseguiram mantê-lo no cargo.
Ferreira assumiu a presidência em maio de 2011, substituindo Roger Agnelli - que ficou por dez anos -, cumprindo três mandatos consecutivos. Se sua recondução se confirmar, ele ficará, portanto, mais dois anos, somando um período de oito anos no cargo. Antes disso, o executivo foi diretor na Vale, onde chegou a ocupar a presidência das operações de níquel no Canadá, que foram adquiridas da Inco em 2006.
Apesar de críticas pontuais ao trabalho do executivo, como o descuido com a construção de um sucessor à presidência dentro da própria mineradora, os acionistas enfatizam que sua continuidade à frente da Vale seria muito melhor do que o risco de vê-la capturada por ingerências políticas.
No PMDB de Minas, a atuação do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, é vista com ressalvas. Parlamentares da legenda reclamam que ele dá ouvidos demais aos pedidos do PSDB porque é um pemedebista "com bico de tucano", desenvolvido após sua passagem como ministro dos Transportes na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O PSDB acabou de emplacar o novo diretor-geral do lado brasileiro de Itaipu Binacional, Luiz Fernando Vianna. Ele tem ligação com o governador do Paraná, Beto Richa, mas é um respeitado técnico do setor elétrico. Era diretor-presidente da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e, antes disso, chefiava uma importante associação de geradoras.
Há queixas, no PMDB de Minas, que o Estado ficou sem representação no primeiro escalão do governo federal pela primeira vez em muitas décadas. Por isso, esse grupo pede compensações. Ao Temer assumir como presidente interino, o deputado Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) foi indicado ao Ministério da Defesa, mas a cúpula das Forças Armadas protestou por causa de sua idade - 37 anos - e a indicação durou só meia hora.
Para diminuir a insatisfação da bancada mineira, o governo entregou o comando de Furnas - subsidiária do grupo Eletrobrás - para o grupo. A alegação foi de que a estatal é maior do que um ministério. Quem tomou posse foi Ricardo Medeiros, que já era diretor de operação e manutenção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário