Bolsonaro não entende medidas, Guedes tem ideias fixas e indecisão é sistemática
No
furdunço da pedalada
desta semana, Jair Bolsonaro ouviu também conselhos de Roberto
Campos, presidente do Banco Central, e gostou. Disse a um assessor do
Planalto que Campos não entra em “brigalhada”, não faz barulho, é calmo e “joga
para o time, sem vaidade”.
O
assessor conta que perguntou se Bolsonaro estava então convencido de que seria
preciso evitar manobras “fura-teto” para fazer o Renda
Cidadã. O presidente respondeu algo como “é, isso a gente vai ver depois”.
Importante mesmo era todo mundo do governo fechar a boca e deixar de
“brigalhada”.
O
presidente teria dito algo assim: “O Paulo Guedes precisa falar menos, precisa
ficar uns dois meses quieto. O Braga Netto não fala nada. O Heleno parou de
falar”.
Esse
assessor pede para ressaltar que não há perspectiva de Guedes sair do governo e
que os rumores velhos de que Campos ocuparia o lugar do ministro teriam sido
plantados por inimigos pessoais.
Pelos
relatos de quem anda perto de Bolsonaro, o presidente parece acreditar na
última conversa que ouve a respeito de algum plano econômico, desde que o
projeto não mexa com militares, policiais, aposentados e servidores. Fica feliz
quando um grupo de políticos ou assessores apresenta o que parece ser uma
solução definitiva e rápida, de modo efusivo e efervescente; “vai na onda”. Se
o plano dá errado ou é mal recebido, tem dificuldade de entender os motivos e
procura um culpado ou conspirador.
O
presidente teria grande desconfiança da equipe econômica, que “não joga para o
time”, não acha soluções, que inventa soluções burocráticas. Não seria o caso
de Guedes, que teria ingenuidades e vaidades, mas seria leal e merece gratidão
por ter apoiado Bolsonaro desde antes da campanha eleitoral.
Seja
como for, Guedes é incapaz de convencer Bolsonaro de um plano ordenado e
completo a respeito de quase qualquer coisa, vide a novela do Renda Cidadã. Por
outro lado, acredita que vai tourear o presidente e convencê-lo de suas ideias
fixas, como
a CPMF. Mesmo com os vetos gritantes de Bolsonaro ao imposto, desde antes
da posse do governo, o ministro jamais desistiu da ideia, como ficou evidente.
São dois anos de cabo de guerra, problema que ora ameaça afundar a reforma
tributária.
Gente
do próprio ministério da Economia diz, de resto, que o ministro leva a
Bolsonaro ideias que ainda não estão prontas, que acabam sendo chanceladas com
pouca base, ou volta do Planalto com planos novos que acertou com o Planalto,
mas que ainda não têm ou não terão fundamento. Sim, além do mais há secretários
de Guedes que não gostam de Guedes.
E
daí? É fácil perceber que esse método, digamos, produz indecisão sistemática,
problema até para um governo que é fundamentalmente desvairado e apartado do
universo da razão.
Os
economistas do governo agora trabalham em um plano de cortes de despesas
sociais “aos poucos”, de modo a não afrontar Bolsonaro, evitar um estouro
do teto
de gastos e financiar um Renda Cidadã, enquanto tentam ainda levar
adiante as emendas emergenciais que permitirão um talho na renda dos
servidores. Políticos do governismo e parte do ministério tentam ainda uma
saída alternativa, que envolve sim um fura-teto, talvez extraordinário, como
uma extensão do período de calamidade, do que Guedes está bem ciente e fala em
público.
Não, não é esse o grande debate sobre o Brasil, mas é o que temos. É do acerto de pelo menos essa desordem vulgar que depende o futuro imediato da economia, goste-se ou não da solução.
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