Espera inútil por moderação garante impunidade a Bolsonaro
No
penúltimo domingo de maio, Jair Bolsonaro provocou aglomeração durante um
protesto contra o Congresso e o STF. Na terça, Rodrigo Maia fez na Câmara um
"convite à pacificação dos espíritos". Dois dias depois, o presidente
foi à portaria do Palácio da Alvorada e, aos gritos, lançou sua infame
advertência ao Supremo: "Acabou, porra!".
A eterna ilusão de que Bolsonaro se tornaria um governante moderado circula há dois anos em Brasília. Na pandemia, essa fantasia ainda engana autoridades que aguardam pacientemente uma mudança de comportamento na gestão da crise. Essa esperança inútil legou ao país a tragédia impulsionada pelo radicalismo mortífero do presidente.
Rodrigo
Maia não foi um negacionista da delinquência bolsonarista, mas eles estão por
aí. No fim de 2020, um dos principais líderes do centrão dizia que a imagem
desastrosa do governo na pandemia era "má vontade da mídia" e que o
presidente havia abandonado o extremismo. "Ele
notou que aquilo era um erro", disse o senador Ciro Nogueira.
Esses
sócios do governo também viram sinais positivos quando Bolsonaro passou a falar
bem da vacina e decidiu trocar um ministro da Saúde incompetente. Pouco depois,
o presidente mostrou que não mudaria as diretrizes da gestão, voltou a defender
a cloroquina e acionou o STF contra governadores que tentam conter o colapso de
seus hospitais.
Ainda
há quem espere mudanças. No auge da crise, o presidente do Senado disse que é
hora de "sentar à mesa" e pediu "a coordenação do presidente da
República". O chefe da Câmara afirmou que é preciso "evitar essa
agonia e esse
vexame internacional". Os dois estão atrasados.
No
STF, Luiz Fux telefonou para o Planalto ao saber que Bolsonaro havia citado um
cenário de estado
de sítio ao
ameaçar uma “ação dura” contra governadores que implantaram medidas de
restrição. O autor da bravata disse que aquilo não era verdade, e o ministro se
deu por satisfeito. Bolsonaro sabe que os negacionistas vão deixar por isso
mesmo.
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