O Globo
A crise desencadeada pela intenção de
instituições como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de divulgar manifesto supostamente
contra o governo, mas que, na prática, defende mesmo a necessidade de diálogo
entre os Poderes da República, mostra bem a que ponto chegamos no debate
político no país.
O documento final é neutro, e o governo, que teve vitória na pressão para mudar
o teor original, ou está interpretando errado, ou quer criar mais uma confusão.
O documento, ao pedir diálogo, admite que Bolsonaro queira fazê-lo. O
presidente já rompeu todas as promessas de conversas que foram tentadas, até
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux.
Desde o começo da iniciativa, houve marchas e contramarchas para encontrar o
tom correto do texto, a ser apresentado não apenas a representantes das
entidades econômicas e financeiras, mas à sociedade civil como um todo. O que
nasceu com a ideia de ser um protesto contra o rumo que estavam tomando os
embates do governo federal com o STF foi sendo amainado por pressões diversas,
não apenas políticas, mas econômicas também. Acabou se transformando num
manifesto anódino colocando em pé de igualdade o Judiciário e o Legislativo
como responsáveis, tanto quanto o Executivo, pela crise institucional que
vivemos.